segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

D. FREITAS HONORATO IMITADOR DE FREI CAETANO BRANDÃO

O Arcebispo de Braga D. António José de Freitas Honorato, investido na cátedra bracarense em 1883 e sucessor de D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, faleceu em 28 de Dezembro de 1898.
Registamos a sua intenção manifestada em testamento. O finado arcebispo solicitou que o sepultassem na Capela da Sr.ª da Piedade, nos claustros da Sé Catedral de Braga, onde jazem os arcebispos D. Frei Caetano Brandão e D. Diogo de Sousa.
Lemos na Gazeta das Aldeias de 1 de Janeiro de 1899 e 8 do mesmo mês, que houve problemas porque à vontade do extinto se opunham disposições legais pelo que teve de ser o governo a intervir. Acabou por prevalecer a vontade do arcebispo.

Política em Verso (10) - Zezão - 01-11-1923

Quem é o «Correia?». Foi o Ministro das Finanças a partir de 13 de Agosto de 1923. Chamava-se Francisco Gonçalves Velhinho Correia e pouco tempo lá esteve pois foi substituido por Vitorino Guimarães nas finanças em 24 de Outubro de 1923. Sendo assim certas palavras e expressões ganham outro sentido: velhinho, inflação, largar a correia, notas, dinheirinho.

Por ‘star tudo consternado
Co’o enterro do velhinho
Não vão Foguetes nem bichas,
Vai o Fado Choradinho.

Triste sorte a do velhinho
Um mau fado o perseguiu…
Quis largar a Correia
E a Correia… partiu!

Por causa da inflação
Das notas, do dinheirinho,
Deu com as ventas no chão,
Triste sorte a do velhinho!

Foi por qu’rer encher as burras
Dos amigos, que caiu.
Toda a gente lhe deu turras,
Um mau fado o perseguiu.

Tendo uma boa moela,
Não via a barriga cheia,
Para dar-lhe uma fartadela,
Quis alargar a … Correia.

Mas a pança tanto inchou,
Tão aflita se viu
Que o velhinho arrebentou
E a … Correia partiu.

Chorai, fadistas, chorai!
Seja o pranto maré cheia
E um Padre Nosso rezai
Pelo Velhinho Correia.

Morreu o nosso velhinho
Sem ter de dar um ai
Sofreu tanto coitadinho!
Chorai, fadistas, Chorai!

Por bem fazer, mal haver!
Deram-lhe tanta tareia…
Quem não se há-de enternecer?
Seja o pranto maré cheia!

Sobre a lousa funerária
Goivos, saudades ‘sfolhai,
Ponde os joelhos em terra
E um Padre Nosso Rezai.

Não ouvis o som plangente
Dos sinos, em légua e meia,
Soluçam em tom dolente,
Pelo Velhinho Correia!

Coradas, novas coradas,
P’ra o fastio é bom a urtiga!
Lhe meteram faca em costa,
E a bengala em barriga.
Zezão

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

DE PÉ, NUNCA DE CÓCORAS

Vem este título a propósito do tempo que passamos em reuniões. Estamos geralmente sentados, porém raramente dialogamos e partilhamos o que descobrimos, com o que concordamos ou não, e que poderá servir aos outros.
Será que falta aquilo a que hoje se costuma apelidar de "cultura de escola": uma escola reflexiva e solidária, onde os professores se sentam, às vezes, com outros parceiros educativos, para tentar encontrar uma luz ao fundo do túnel que muitos insistem não existir.
Estou convencido que a educação escolar desempenha um papel de sociabilização, contribuindo para a interiorização pelo indivíduo dos valores da sociedade. Neste sentido a escola constitui uma instituição de primeira linha na constituição de valores que indicam os rumos pelos quais a sociedade trilhará o seu futuro. A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural que reflecte as ideologias impressas no contexto social e político.
Que fazemos diariamente na escola, como responsáveis pela arte de educar?
- Promovemos mudanças desejáveis e estáveis nos indivíduos;
- Evidenciamos na sala de aula, apenas, uma transmissão de saberes ou através destes trocamos conhecimentos e construímos o nosso próprio saber;
- Favorecemos o desenvolvimento integral do Homem e da Sociedade;
- Aprofundamos a compreensão sobre a forma como a cultura da escola (conjunto de valores e significados partilhados) influencia os processos de envolvimento e participação das famílias na vida escolar, através de um diálogo permanente, aberto e construtivo;
-Traduzimos a abertura da escola ao meio numa lógica cívica ou como uma mera possibilidade de captação de recursos.
Tendo em conta as nossas convicções, julgo que a escola onde trabalho tem dado passos largos na construção de uma «escola cultural», ressaltam, mesmo, linhas mestras que, ao longo de 26 anos de existência, configuram a existência de uma «cultura de escola».
De pé, frente a uma turma difícil, propunha numa das últimas aulas de Formação Cívica, a abordagem do conteúdo da letra de uma canção do álbum «cabeças no ar», intitulada «O Jardim da Mocidade», interpretada por Rui Veloso, Tim, João Gil e Jorge Palma. Neste poema de Carlos Tê, pode ler-se: «É preciso tratar bem, do jardim da mocidade, o mal que se lá deixar, noutra flor há-de medrar (…). Jardineiro olha para o mundo (…), é preciso até ter sorte, com a terra onde se nasce».
De pé, ao fundo da sala, enquanto entoávamos a canção lembrava-me das sábias palavras de António Sérgio «A escola não é um torno, o professor não é um oleiro e os alunos não são barro inerte (…). A faina do professor assemelha-se à do jardineiro que não obriga a rosa a ser glicínia ou buganvília antes cuida do ambiente dela para que ela possa florir» (Ensaios VII, Paideia).
Artigo publicado na Revista Andarilho, n.º 31, Fevereiro de 2009.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O ZEZÃO NO SEU TEMPO

Os escritos políticos, assinados por Zezão, entre 1923 e 1924, no Jornal O Dumiense, enquadram-se num período politicamente agitado. Os governos sucediam-se, não dando tempo a que as medidas sugeridas fossem aplicadas.
Entre 1910 e 1925, o país assistiu à tomada de posse de 45 governos e 8 presidentes da República. Estes números demonstram bem a instabilidade governativa de então.
Este ambiente tornou-se favorável à intervenção do exército que, em 28 de Maio de 1926, através do General Gomes da Costa, acabou com a primeira República e instaurou a ditadura militar. Os militares conservadores partiram de Braga, passaram pelo Porto e avançaram sobre Lisboa. Dissolveram o parlamento, suspenderam a constituição e entregaram a chefia do governo a um militar.

Política em Verso (9) - Zezão - 11-10-1923

Acabo de ler agora,
Num dos jornais da invicta,
Uma notícia catita
Mas que inspira dor e mágoa,
Das tais de molde e de jeito
A pôr-nos o testo em água!

Na Lisboa marmória e bela,
Os presos do limoeiro
Pensam levar a galheiro,
E querem que a sério os tome
Todo o mundo, uma parede,
Chamada greve de fome.

Valha-nos Nossa Senhora!
Neste mundo sublunar,
Por onde se anda a penar
A sorte mofina e dura,
Existem certos meninos
Que tem cada lembradura!...

Que se lembrassem da greve
Com a sua objectiva
De, na cama paparriba,
Soecar como uma catita…,
Ai, filhos! Não digo nada,
Era uma ideia bonita!...

Mas ir p´ra greve da fome,
Isto é, pôr em descanso,
Como um qualquer manipanso,
Os queixos que Deus nos deu,
É uma ideia dos diabos…
Nessa não caio eu!

E demais no Limoeiro
Onde há o limão a rodos,
Limão que faz fome a todos,
Afugentando o fastio…
Era de, passado algum tempo,
Pôr-nos o corpo… num fio!

Nada! Nada! Cebolório!
Se os tais presos a mania
Não perdem, passado um dia,
Hão-de sentir tal larica
Que depois engolem tudo
Nem té a marmita fica!

Deixem-se disso, senhores!
Comam-lhe bem, como dantes,
Mas não comidas picantes
Para não lhes suceder,
Por reservados motivos,
Andarem sempre… a correr…
Zezão

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A ESTÁTUA DE D. PEDRO V



Pelo meio-dia, de 31 de Julho de 1879, inaugurou-se, em Braga, a estátua levantada em honra de D. Pedro V.
Esta obra ficou a expensas do Barão da Gramosa e seu irmão o Cónego Costa Rebelo para o que deixaram um legado.
Levantado inicialmente no Campo de Santa Anna foi modelado pelo distinto escultor Teixeira Lopes.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

RAMALHO ORTIGÃO E FREI CAETANO BRANDÃO


José Duarte Ramalho Ortigão (na foto) foi escritor, jornalista, polemista, bibliotecário da Biblioteca da Ajuda e Oficial da Secretaria da Academia Real das Ciências.
Natural do Porto, frequentou o curso de Direito de Coimbra e foi professor no Colégio da Lapa, dirigido pelo pai, onde teve como aluno Eça de Queirós.
Envolve-se na «Questão Coimbrã», juntou-se aos jovens da geração de 70 e é autor das famosas «Farpas».
O insuspeito e anti-clerical Ramalho Ortigão numa carta dirigida a João do Amaral exprime-se assim em relação a Frei Caetano Brandão:
«A obra liberal de 1834 – convém nunca o perder de vista – foi inteiramente semelhante à obra republicana de 1910. Nos homens dessas duas invasões é idêntico o espírito de violência, de anarquismo e de extorsão. Dá-se todavia entre uns e outros uma considerável diferença de capacidade…
Tinham tido por mestres ou por companheiros de estudo homens tais como Anatónio Caetano de Sousa, o autor da História Genealógica; Barbosa Machado, o autor da Biblioteca Lusitana; Bluteau e os colaboradores do seu Vocabulário; Santa Rosa Viterbo, o autor do Elucidário; João Pedro Ribeiro, o admirável erudito iniciador dos altos estudos da nossa história e precursor de Herculano; António Caetano do Amaral, o infatigável investigador da História da Lusitânia; D. Frei Caetano Brandão, seguramente o mais elevado espírito e a mais formosa alma que deitou o século XVIII em Portugal; o padre Cenáculo, o mais prodigioso semeador de bibliotecas; o padre António Pereira de Figueiredo, o autor do famoso Método de Estudar; Félix de Avelar Brotero, o insigne naturalista; o polígrafo abade Correia da Serra, e outros que não menciono porque teria de reproduzir um copioso catálogo se quisesse dar mais completa ideia do que foi a cultura portuguesa nessa fase da nossa evolução literária.»

Política em Verso (8) - Zezão - 04-10-1923.

Anda tudo em sobressalto
Por causa dos ratoneiros
Que, à laia de cães rafeiros,
Assaltam os viandantes
E as casas dos cidadãos
A roubar os mealheiros
E as carnes dos fumeiros
E os pingues dos porrões.

E é tanto o seu descaro,
Sua audácia e impudor
Que, seja lá onde for,
Quer de noite, quer de dia,
Os figurões nem sequer
Sentem o menor horror
Em atentar contra o pudor
Da indefesa mulher.

E, o que é mais de estranhar
É o que dizem os jornais
Que autoridades locais
Não tomam as providências
Devidas, o que é urgente,
Dizendo uma das tais,
Entre muchas cosas mais:
- Nada quero com tal gente!

A resposta é das de arromba
De quem tem um fino tacto!
Entorna um carro de mato,
É um assombro de esperteza,
Causa pasmo à terra, ao céu!
Não a inventaria o rato
P´ra ver-se livre do gato!
É de tirar-lhe o chapéu!

Visto isto, que fazer?
O andar-se sempre armado
De escopeta e apetrechado
E o olho sempre alerta
E cá na mente este fito:
Logo que eu seja assaltado,
Por um qualquer desalmado
Largo-lhe logo um tirito…

Mas se um tiro não bastar
Para na ordem o meter
Que é que eu hei-de fazer?
Ora leitor, caro amigo,
Bem mostras que pouco vês!
Em lugar de só dar-lhe um,
Puxa o gatilho: Pum…Pum!
E larga-lhe duas ou três…
Mostra-lhe a ordem… a fugir!
Zezão

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O COLÉGIO DE S. CAETANO - A PRIMEIRA ESCOLA SALESIANA EM PORTUGAL

Em 31 de Janeiro de 1989 a família salesiana celebrou o primeiro centenário da morte de D. Bosco, sacerdote de Turim, beatificado em 1928 e canonizado em 1934. O Padre João Bosco funda a Sociedade de S. Francisco de Sales, ou simplesmente a Sociedade Salesiana, em 1859, sendo aprovada pela Santa Sé dez anos depois.
Os seguidores do legado educativo, vulgarmente apelidado de «Sistema Preventivo», celebraram, em 1994, o primeiro centenário da entrada em Portugal da Congregação Salesiana, estabelecida em Braga, no Colégio de S. Caetano.
O Padre João Cagliero, em Abril de 1881, após ter participado na abertura da 1.ª Casa Salesiana em Utrera, próximo de Sevilha, deslocou-se ao nosso país para fazer um levantamento das possibilidades de implantar aqui a Obra Salesiana. Nesta deslocação encontrou-se com a Rainha D. Maria Pia, filha do Rei de Itália, Vítor Manuel II e com Caetano António Masella, Núncio Apostólico.
Enquanto esta primeira comunidade salesiana se dedicou ao ensino e à recuperação da juventude transviada, de acordo com o espírito humanístico do seu fundador, o Colégio de S. Caetano teve a oportunidade de ver implantada uma educação exemplar, onde cada padre foi um pedagogo e um pai, onde cada professor foi um educador, onde o obediência passou a ser substituída pelo prazer de conviver, aprender, estudar, ser alguém.
O carisma salesiano foi implantá-lo, pela primeira vez em Portugal, no Colégio de S. Caetano, entre 1894 e 1911. A partir de Braga, alargou-se a outras zonas do continente e ilhas: Oficinas de S. José, em Lisboa (1896); Orfanato do Beato João Baptista Machado, em Angra do Heroísmo (1903); Real Oficina de S. José do Porto (1909); Seminário do S. Coração de Jesus, de Poiares da Régua (1924-56; 1975); Escola Técnica e Liceal Salesiana do Estoril (1932); Colégio Salesiano S. João Bosco, Mogofores (1938); Oratório S. José, Évora (1941); Convento de Santa Clara, em Vila do Conde (1944); Escola Salesiana de Artes e Ofícios, da Madeira (1950); Colégio dos Órfãos do Porto (1951); Colégio Salesiano de Manique do Estoril (1953); Externato N.ª S.ª do Rosário, Cascais (1960).

Política em Verso (7) - Zezão - 06-09-1923.

Depois de tão grande alarme,
Em que Lisboa se viu,
Voltou de novo o sossego,
Porque tudo entrou no rego,
Tudo nos eixos caiu.

A greve-revolução
Que prometia feroz
Derrubar este governo,
Já deu a alma ao inferno,
Foi mesmo de catrapóz!

É que o António Maria
Que nestas cousas, é um alho,
Abrindo o público erário
Conseguiu que operário
Voltasse todo ao trabalho.

Calou-se, pois imponente
A voz da bomba infernal
E o Lisboeta coitado,
Já a ela acostumado,
Tem saudades, passa mal…

E, para dar-se a ilusão
De, a cada passo, a ouvir
E com seu som se embalar,
Trata até de as fabricar
Em casa p’ra as não pedir!

Mas em vez do clorato,
Metralha, pregos e tudo,
Que mata e faz explosão,
Mete na bomba o ratão
… Cebola e feijão miúdo…

Efeito prodigioso!
De manhã, mal rompe o dia,
Não há palácio ou tegúrio
Onde não se ouça o murmúrio
De confusa bateria!

É nas salas, às janelas,
No pátio, no saguão
E nos quartos de dormir,
Onde se faz mais sentir
O estrondo da explosão!

Forte mania, leitores,
Que na loucura já tomba!
De alguns dias p’ra cá
Já alfacinha não há
Que não deite a sua bomba!

Nisto, afinal vem a dar,
Inda que alguém se quisil,
A arma preconizada
E pelo mesmo alcunhada
De… artilharia civil.
Zezão