segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A TODOS OS AMIGOS BOM NATAL

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domingo, 11 de dezembro de 2011

BOM JESUS «TESOURO ÚNICO»

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sábado, 10 de dezembro de 2011

PALAVRAS PROFERIDAS NA APRESENTAÇÃO DOS LIVROS FESTIM DOS SENTIDOS E BOM JESUS DO MONTE

Começo por agradecer a honrosa presença do Sr. Arcebispo Primaz, do Sr. Juiz-Presidente e Mesários da Confraria do BJM, do Sr. Prof. Doutor Francisco de Carvalho Guerra, dos convidados, amigos e familiares aqui presentes.
Queria agradecer, igualmente, ao Dr. Miguel Louro e à Designer Ana Isabel Vilar pelas parcerias que estabelecemos.
Realço o trabalho conjunto e o projecto desenvolvido com o Miguel Louro. Daqui nasceu uma relação frutuosa, um conhecimento mútuo que se traduzirá, possivelmente, em novos desafios. As suas fotografias parecem embriagar, ao despertar emoções, sentimentos, fascinação, enquanto que as nossas palavras procuram enquadrar essas emoções, sentimentos e fascínios. Parabéns pelas suas fotografias pois são verdadeiros tesouros do Bom Jesus do Monte.
Também quero dar os parabéns à Designer Ana Isabel Vilar pela concepção gráfica imprimida à obra Bom Jesus do Monte. Admiro a criação, o conceito, a persistência e a defesa das ideias subjacentes à filosofia que imprimiu ao grafismo do livro Bom Jesus do Monte. Embora jovem revela imensa maturidade, vislumbrando um grande futuro profissional.
Mas primeiras palavras vão para o Professor Doutor Francisco Carvalho Guerra. Palavras de agradecimento por ter aceite o nosso convite para a apresentação destes livros, pois o seu percurso académico e profissional e o reconhecimento social adquirido, mais dignificam esta apresentação pública de duas obras que vêm preencher lacunas na bibliografia deste sítio repleto de história. Também as suas palavras nos sensibilizaram e nos deixaram imensamente reconhecidos.
Todo este projecto começa em 2001, quando D. Jorge Ortiga me convida para pertencer aos órgãos sociais da Confraria do Bom Jesus do Monte e na ocasião me incentivou com a possibilidade de aqui encontrar espaço para uma investigação. Hoje materializamos esse desafio, fruto de muitas horas de trabalho e de outras tantas retiradas ao lazer, pois sinto, constantemente, o ímpeto da escrita, percorrendo, por isso, muitos trilhos sem, por vezes, escutar as razões do caminhar pois a paixão chama mais alto, compartilhando reflexões e registando a história de uma estância cheia de património herdado, que projectam no futuro um misto de sonho e de esperança, um excelente compromisso entre a herança que recebemos e o que legamos, de que o tempo actual é promissor.
Tudo o que foi feito nesta edénica estância é um grande hino de louvor à natureza; tudo o que foi feito, se passou, se realizou, se construiu e se pode admirar no santuário mais perfeito realizado pelo cristianismo e o mais majestoso sacro monte construído na Europa, se deve aos bons ofícios da confraria. A história da estância é a história da confraria, no corpo e no espírito, com acertos e atritos, com vitórias e pulsões, que o andar do tempo lhe deu espaço para ser e se afirmar.
A publicação destes livros resulta, fundamentalmente, dos estímulos que em todo o tempo senti da Comissão Administrativa da Confraria do Bom Jesus do Monte no sentido de prosseguir empenhadamente esta pesquisa. Como mesário que acompanhei o labor abnegado, desinteressado, voluntário e apaixonado de várias mesas administrativas, e delas recebi sempre o apoio e o conforto indispensáveis para enfrentar todos os desafios.
Estes livros são uma homenagem a todos aqueles que, ao serviço da confraria, mantiveram o culto ancestral da Santa Cruz, preservaram e engrandeceram o património natural e construído, conservaram toda a carga iconográfica de colina sagrada, permitiram uma harmonia polivalente entre o religioso, o turístico, o ambiental e o conjunto arquitectónico e monumental.

Na qualidade de vogal da Confraria do Bom Jesus do Monte tive acesso ao acervo documental e, desta forma, iniciar uma investigação e alargamento de conhecimentos sobre o manancial histórico, social, patrimonial e económico da confraria que resultaram nesta investigação, no momento em que comemoramos 200 anos do lançamento da última pedra do templo.
Sendo uma forma de me associar às comemorações do bicentenário, mantenho a tradição de deixar obra nos momentos em que a confraria celebra datas históricas: O Padre Martinho António Pereira da Silva, fundador do Sameiro, publica, em 1857, «Dedicação ou consagração solemne do magnifico templo do Real Sanctuario do Bom Jesus do Monte»; no centenário do lançamento da primeira pedra do templo, em 1884, veio à luz o livro Memória histórica do Sanctuário do Bom Jesus do Monte de Fernando Castiço a pedido do Prelado D. António José de Freitas Honorato; por ocasião dos 150 anos do lançamento da primeira pedra do templo, Alberto Feio publica Bom Jesus do Monte; também, agora, por ocasião do bicentenário da conclusão do templo, por incentivo do Sr. Arcebispo Primaz de Braga D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, damos por cumprido esse estímulo.
Como membro da irmandade, o caminho para o Bom Jesus correu imensas vezes a meus pés. Nessas deslocações, contemplava embevecido a sua mancha, desde o sopé ao alto da colina. Nem na vagueza da noite, nem na claridade diurna encontrei uma sombra para me esconder.
Foram quatro as preocupações que estiveram na base da escrita destas publicações:
Dar conta, através da palavra e da fotografia, de um espaço turístico de eleição, com uma superior beleza contemplativa;
Mostrar que o Santuário do Bom Jesus do Monte é um sítio único e magnifico onde se conjuga a obra da natureza com a notável obra do homem (vasta, diversificada e absolutamente fabulosa);
Desenvolver um estudo das mudanças operadas ao longo da história da estância, uma compreensão alargada da sua mundividência social, cultural e económica dos seus abalos, vicissitudes e glórias, em busca do «nó profundo» que une os acontecimentos, os actos e as coisas, aparentemente desunidos;
Contribuir para melhor e maior conhecimento do passado, formando e informando os peregrinos e os turistas que diariamente visitam este lugar repleto de património mas simultaneamente irradiador de espiritualidade.
Termino, mais uma vez, por agradecer a Vossa Presença, que muito me sensibilizou e guardarei no meu coração.

Livros enriquecem Bom Jesus

 

autor Marlene Cerqueira (Correio do Minho, 10-12-2011)

No encerramento das comemorações dos 200 anos da conclusão do Santuário do Bom Jesus do Monte ficou o elogio à obra que tem vindo a ser levada a cabo pela Confraria e também a todos aqueles que têm ajudado a divulgar esta “pérola” localizada num recanto do Minho.
As palavras são do arcebispo primaz que ontem presidiu à apresentação de dois livros sobre o Bom Jesus do Monte e à inauguração de uma exposição de fotografia, iniciativas que representaram o culminar de um ano marcante para esta estância em termos de projecção nacional e internacional.
‘Bom Jesus do Monte’, de José Carlos Gonçalves Peixoto, e ‘Festim dos Sentidos, o Barroco do Bom Jesus de Braga’, com textos do mesmo autor e fotografias de Miguel Louro, são as obras que agora enriquecem “o santuário mais perfeito realizado pelo cristianismo e o mais majestoso sacro monte construído na Europa” — as palavras são de José Carlos G. Peixoto e foram proferidas no decorrer da sessão.
Na apresentação das obras, o autor referiu que elas representam a materialização do desafio que lhe foi lançado em 2001, quando D. Jorge Ortiga o convidou a integrar os órgãos sociais da Confraria do Bom Jesus do Monte.
“Estes livros são uma homenagem a todos aqueles que, ao serviço da Confraria, mantiveram o culto ancestral da Santa Cruz, preservaram e engrandeceram o património natural e construído, conservaram toda a carga iconográfica de colina sagrada, permitiram uma harmonia polivalente entre o religioso, o turístico, o ambiental e o conjunto arquitectónico e monumental”, realçou o autor na apresentação dos livros.
A aguardar estatuto de utilidade pública
As obras foram apresentadas por Francisco Carvalho Guerra, professor catedrático em Bioquímica da Universidade do Porto, que recordou que o Bom Jesus aguarda desde 2001 que o Conselho de Ministros declare a sua utilidade pública.
João Varanda fez balanço positivo do ano
O presidente da Confraria, João Varanda, fez um breve balanço do extenso trabalho desenvolvido ao longo deste anos, realçando que o ponto alto foi o Congresso Luso-Brasileiro do Barroco. Destacou ainda a acção de cerca de mil voluntários que têm trabalhado na reabilitação da mata do Bom Jesus promovendo o controlo de infestantes, concretamente mimosas, e plantando árvores. Só carvalhos foram plantados cerca de 700. “Esta acção ambiental tem contado com o apoio da Quercus, do Regimento de Cavalaria 6 e do centro de Santo Adrião”, referiu, convidando outras instituições a seguirem-lhes o exemplo.
Além de um agradecimento especial aos funcionários da confraria pelo trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, João Varanda lembrou que o processo de candidatura do Bom Jesus do Monte vai ser demorado, mas é objectivo da Confraria levá-lo até ao fim. Os livros que ontem foram apresentados são mais dois contributos para essa caminhada.
A par da apresentação dos dois livros sobre o Bom Jesus do Monte, a cerimónia de ontem ficou também marcada pela inauguração de uma exposição de fotografias da autoria do médico Miguel Louro, no Centro de Exposições Cónego Cândido Pedrosa, no Bom Jesus (por cima da Casa das Estampas).

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

APRESENTAÇÃO DE LIVROS

Notícia do DM de 08-12-2011

DM, 2011-12-08

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NOVOS LIVROS SOBRE O BOM JESUS DO MONTE

Notícia do Correio do Minho, 2011-12-07

CM, 2011-12-07

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

APRESENTAÇÃO DE LIVROS

 

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Capa livro BJM

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PREFEITO DE OURO PRETO VISITA BOM JESUS

Artigo do Diário do Minho de 24 de Novembro de 2011

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domingo, 20 de novembro de 2011

CAMINHADA COM HISTÓRIA

O Mosteiro de S. Martinho de Tibães promoveu mais uma caminhada com o título «A eleição do Juiz do Couto de Tibães». Concentramo-nos hoje, por volta das 08.30 hs, em frente da Casa de S. Bento, no lugar de Sobrado, visitando os seguintes locais: Marco do Couto no lugar de Sobrado, Mina do Corgo, Poça do Pica, Ponte do Iteiro, Capela de Mire, Quinta de Melhorado, Quinta da Cancela, Quinta da Barrosa, Quinta de Mire (Assento), Casa da Renda, Fonte de Seixido, Fonte do Bicho, Ouvidoria (Convento).
Parabéns aos organizadores.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A FESTA DO BARROCO EM CONGRESSO DE SUCESSO

Artigo do jornal Correio do Minho de 08-11-2011.

Costuma-se dizer que o Barroco é festa e que esta é uma das suas expressões, explorando até ao limite a teatralização com os seus actores, espectadores, cenários, grandes movimentos e palcos. Deste modo, a Via-Crucis do Bom Jesus do Monte é a encenação da paixão, duma Igreja Triunfante e não duma Igreja Militante, típica da contra-reforma.CM, 2011-11-08
O Bom Jesus do Monte foi palco de um acontecimento que honra a Real Confraria do Bom Jesus do Monte, organizadora do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco. Como o Barroco é festa e encantamento, também o diríamos deste congresso.
Segundo os Estatutos, a Confraria do Bom Jesus do Monte deveria assinalar festivamente a passagem da erecção, conclusão e dedicação do templo. Neste enquadramento, a Mesa Administrativa, no âmbito do duo-centenário do lançamento da última pedra do templo promoveu, como momento alto e histórico destas comemorações, um encontro científico que teve lugar nos dias 20, 21 e 22 do mês corrente. Reuniu cerca de 400 participantes, cinquenta comunicações (25 brasileiras e outras tantas portuguesas), num debate relevante para o Barroco, nas áreas da economia, sociedade, alegorias e arquitectura, sentimentos e representações, com um programa que permitiu o aprofundamento de um fenómeno artístico que enriqueceu Portugal.
A Confraria do Bom Jesus do Monte empreendeu uma corrida longa, teve de retorcer algumas âncoras de ferro, polir algum granito bruto, mas chegou à meta, com a constância do propósito, oferecendo organização, monumentalidade e competência. De início foi o sonho, depois juntamos paciência, ousadia, confiança, risco, partilha e eis a receita do sucesso do Congresso. Mede-se, também, o sucesso pelo modo como soubemos superar alguns obstáculos. Penso que cumprimos as nossas tarefas, buscando o melhor dos outros e dando o melhor de nós próprios. Contribuímos para o avanço no estudo do Barroco e o livro com a reprodução de todas as comunicações e conferências certificará esse contributo científico e metodológico.
Também houve oportunidade para os mensageiros de dois povos irmãos se envolverem e desenharem pontes, plataformas e novos projectos de futuro, nesta Capital do Barroco. Ouvi de muitos congressistas a necessidade de repetir este encontro científico. Queira a providência e o homem dar corpo à continuidade da iniciativa.
As reacções são o melhor teste ao sucesso da iniciativa, em todas as vertentes, nomeadamente, a científica e social. O sucesso foi a consequência de um trabalho de vários meses, da conjugação de esforços de muitas pessoas e entidades, que neste artigo prestamos o nosso elevado reconhecimento: ao Quadrilátero Urbano pelo apoio financeiro e organizativo, nas pessoas do Presidente Executivo Dr. António Magalhães e do Secretário Executivo Eng. Alberto Peixoto; ao Presidente da Comissão Científica do Congresso Doutor Aurélio Oliveira; à TUREL-Turismo Cultural e Religioso, na pessoa do Director Técnico Dr. Varico Pereira; ao Centro de Formação de Professores Braga Sul, na pessoa da Dra. Ana Paula Vilela, pela sua ajuda determinante para o sucesso do Congresso; ao Conservatório de Musica Calouste Gulbenkian, na pessoa da Prof. Ana Caldeira pela alta colaboração no programa cultural do Congresso; à Esprominho, Escola Profissional do Minho, seus Directores, Professores e Alunos, pelo apoio profissional na organização do Congresso; à Divisão do Turismo da Câmara Municipal de Braga, na pessoa da Dra. Filomena Alves, pela sua colaboração na organização do Sarau Barroco; à WeLink-Comunicação e Multimedia, na pessoa da Dra. Elisabete Rocha, no apoio à organização da Mostra de Artes; a todos os Expositores presentes na Mostra de Artes; à Modalfa, cadeia têxtil do grupo Sonae, responsável pelas roupas dos assistentes durante o Congresso; à Porto Editora pelas pastas disponibilizadas para os Congressistas; aos Hotéis do Bom Jesus pelo apoio logístico durante o Congresso; à Carclasse, na pessoa do seu administrador Dr. Hernâni, pelo apoio aos transferes dos conferencistas Brasileiros; por último, mas não menos importante, aos meios de Comunicação Social, em especial à imprensa diária de Braga, pela divulgação e cobertura do evento, primeiro dos factores de sucesso.
O congresso, como festa e expressão da mentalidade barroca, invadiu os jardins, os terreiros, as escadarias do Bom Jesus. Sendo o homem do barroco um ser angustiado, melancólico, vivendo num mundo de guerras, fomes e violências, a humanidade teve necessidade de encontrar manifestações, lenitivos como contraponto dos penosos dias de trabalho. Parafraseando o livro Festim dos Sentidos, este congresso assemelha-se a uma viagem pelo Barroco, de matriz cristã, que « eleva a alma, num cenário festivo, exuberante e triunfante, num chamamento à ascencionalidade, ao caminho para o céu num roteiro que incorpora o fascínio do Barroco».
Termino com algumas ideias recolhidas numa conferência proferida por D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga, no dia 23 do corrente, para assinalar o termo do congresso: para além do santuário pessoal que nos acompanha, há um outro Santuário, espaço sagrado, lugar, templo (a Casa do Pai), não só de pedra mas de intimidade, que proporciona o encontro de cada um de nós com o Bom Jesus, esperando que, através dos sentidos, captemos a voz e o verbo de Deus, sem perversão e sem restrições, fazendo votos que este Santuário seja a Casa da Peregrinação dos povos de todas as nações.

sábado, 12 de novembro de 2011

Revisitar Paris

Olá amigos. Depois de alguns dias de ausência, para revisitar a «Cidade Luz», volto novamente ao vosso convívio. Aqui vos deixo uma panorâmica da cidade.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

BALANÇO DO CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DO BARROCO

Artigo do Diário do Minho de 31-10-2011

Os Estatutos da Confraria do Bom Jesus do Monte sugerem as solenidades que os confrades não deverão passar em claro. De entre essas, figura a erecção, conclusão e dedicação do templo. Neste quadro, a Mesa Administrativa promoveu, durante o presente ano, um conjunto de iniciativas, a começar pelo embelezamento da estância e terminando nos concertos, exposições e publicações.
A Confraria do Bom Jesus do Monte DM, 31-10-2011escreveu mais um dos episódios gloriosos da sua história com a realização do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, que teve lugar nos dias 20, 21 e 22 do mês corrente. Reuniu cerca de 400 participantes, cinquenta comunicações (25 brasileiras e outras tantas portuguesas), num debate relevante para o Barroco, nas áreas da economia, sociedade, alegorias e arquitectura, sentimentos e representações, com um programa que permitiu o aprofundamento de um fenómeno artístico que enriqueceu Portugal.
A Confraria do Bom Jesus do Monte empreendeu uma corrida longa, teve de retorcer algumas âncoras de ferro, polir algum granito bruto, mas chegou à meta, com a constância do propósito, oferecendo organização, monumentalidade e competência. De início foi o sonho, depois juntamos paciência, ousadia, confiança, risco, partilha e eis a receita do sucesso do Congresso. Mede-se, também, o sucesso pelo modo como soubemos superar alguns obstáculos. Penso que cumprimos as nossas tarefas, buscando o melhor dos outros e dando o melhor de nós próprios. Contribuímos para o avanço no estudo do Barroco e o livro com a reprodução de todas as comunicações e conferências certificará esse contributo científico e metodológico.
Dois povos irmãos encontraram-se durante três dias, envolvidos pela mística do Bom Jesus e souberam encontrar pontes, plataformas e novos projectos de futuro, nesta Capital do Barroco e nesta pérola de lapidação barroca, o Bom Jesus do Monte. Ouvi de muitos congressistas a necessidade de repetir este encontro científico. Queira a providência e o homem dar corpo à continuidade da iniciativa.
As reacções são o melhor teste ao sucesso da iniciativa, em todas as vertentes, nomeadamente, a científica e social. O sucesso foi a consequência de um trabalho de vários meses, da conjugação de esforços de muitas pessoas e entidades, que neste artigo prestamos o nosso elevado reconhecimento: ao Quadrilátero Urbano pelo apoio financeiro e organizativo, nas pessoas do Presidente Executivo Dr. António Magalhães e do Secretário Executivo Eng. Alberto Peixoto; ao Presidente da Comissão Científica do Congresso Doutor Aurélio Oliveira; à TUREL-Turismo Cultural e Religioso, na pessoa do Director Técnico Dr. Varico Pereira; ao Centro de Formação de Professores Braga Sul, na pessoa da Dra. Ana Paula Vilela, pela sua ajuda determinante para o sucesso do Congresso; ao Conservatório de Musica Calouste Gulbenkian, na pessoa da Prof. Ana Caldeira pela alta colaboração no programa cultural do Congresso; à Esprominho, Escola Profissional do Minho, seus Directores, Professores e Alunos, pelo apoio profissional na organização do Congresso; à Divisão do Turismo da Câmara Municipal de Braga, na pessoa da Dra. Filomena Alves, pela sua colaboração na organização do Sarau Barroco; à WeLink-Comunicação e Multimedia, na pessoa da Dra. Elisabete Rocha, no apoio à organização da Mostra de Artes; a todos os Expositores presentes na Mostra de Artes; à Modalfa, cadeia têxtil do grupo Sonae, responsável pelas roupas dos assistentes durante o Congresso; à Porto Editora pelas pastas disponibilizadas para os Congressistas; aos Hotéis do Bom Jesus pelo apoio logístico durante o Congresso; à Carclasse, na pessoa do seu administrador Dr. Hernâni, pelo apoio aos transferes dos conferencistas Brasileiros; por último, mas não menos importante, aos meios de Comunicação Social, em especial à imprensa diária de Braga, pela divulgação e cobertura do evento, primeiro dos factores de sucesso.
Foram três dias de celebração, à semelhança do Barroco, entendido como a Festa dos Sentidos, como uma sinfonia de luz, cor, volume, som e textura. Como dizemos no livro Festim dos Sentidos «O Bom Jesus do Monte é um dos expoentes maiores da arquitectura sacra e uma jóia do património luso. Aqui o Barroco é o espectáculo, a celebração, a festa dos sentidos, é a arte dos sentimentos e das emoções, é um apelo ao olhar, ao som, aos perfumes, à forma, aos volumes, à cor, à luz, ao naturalismo, ao burlesco e à ilusão. O esplendor desta viagem pelo Barroco, de matriz cristã, eleva a alma, num cenário festivo, exuberante e triunfante, num chamamento à ascencionalidade, ao caminho para o céu num roteiro que incorpora o fascínio do Barroco e uma breve experiência neoclássica no templo».
Termino com as palavras do Sr. Arcebispo Primaz, na sessão de abertura do congresso, mas que servem para um epílogo feliz: «façamos com que o Congresso suscite esta mentalidade capaz de ultrapassar o que parece impossível, mas que a história assim o exige. E se é verdade que não conseguimos esconder o desejo de elevar este Santuário do Bom Jesus a Património da Humanidade, antes disso, é preciso que ele se eleve primeiro a Património Espiritual no nosso coração!».

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

LIVRO REVELA ‘SENTIDOS’ DE UMA OBRA NOTÁVEL

Artigo do Correio do Minho de 22 de Outubro de 2011

autor José Paulo Silva

‘Festim dos Sentidos - o Barroco do Bom Jesus de Braga’, livro da autoria de Miguel Louro e José Carlos Gonçalves Peixoto, foi lançado ontem, segundo dia do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco. CM, 22-10-2011
A obra onde “a imagem relega para segundo plano a narrativa” pretende “mostrar e dar a conhe-cer uma atmosfera de recolhida intimidade pelo encantamento dos sentidos, através da sensibilidade do autor das fotografias (Miguel Louro) e com o aroma das palavras de quem as escreveu” (José Carlos Peixoto).
No texto de apresentação desta obra editada pela Confraria do Bom Jesus do Monte de Braga, o arcebispo primaz, D. Jorge Ortiga afirma que, descrevendo a mesma “literalmente em fotografia os sentidos corporais”, deve “ser um apelo para que compreendamos a vida como um festim que nasce da intervenção, pequena ou grande de cada um”.
Segundo o prelado, o santuário do Bom Jesus do Monte “ensina-nos que a vida pode ser festa: festa da criação, festa da redenção e festa da humanização!”
Os autores avisam o leitor que a imagem e o texto são usados “como instrumento para descobrir a estância, para mostrar a realidade, mais que contar histórias”.
Acrescentam que no Bom Jesus do Monte “conjuga-se a obra da natureza com a notável obra do homem, vasta, diversificada, absolutamente grandiosa e monumental, uma das maiores intervenções tardo barrocas do País, uma referência obrigatória do Barroco Europeu, que evidencia a própria evolução da arte bracarense, consubstanciada na introdução do neoclássico”.
As fotos de Miguel Louro e os textos de José Carlos Gonçalves Peixoto pretendem revelar que “o Bom Jesus do Monte é um dos expoentes maiores da arquitectura sacra e uma jóia do património luso”.
“Aqui o Barroco é o espectáculo, a celebração, a festa dos sentidos”, afiançam nesta “análise iconográfica dos escadórios dos cinco sentidos”.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

À VENDA O LIVRO FESTIM DOS SENTIDOS

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domingo, 23 de outubro de 2011

LIVRO FESTIM DOS SENTIDOS

DM, 23-10-2011

DISCURSO DE SAUDAÇÃO E ABERTURA DO CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DO BARROCO PELO ARCEBISPO PRIMAZ DE BRAGA

Há cerca de 400 anos, um conhecido escritor português da época barroca dizia o seguinte: “para falar ao vento bastam palavras, mas para falar ao coração são necessárias obras”.
Na verdade, graças aos missionários católicos portugueses, de entre os quais este conhecido escritor, Pe. António Vieira, o Brasil nomeia-se actualmente como nosso país-irmão, não só porque está unido numa mesma cultura, génese, fé ou língua… mas também porque partilha uma mesma identidade artística: o barroco.
Por isso, neste momento procedemos à abertura do I Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, no contexto da celebração do duo-centenário do Santuário do Bom Jesus do Monte, uma obra construída outrora, especificamente, para falar ao coração do Homem.
O programa está elaborado e será enriquecedor para compreender um fenómeno artístico de importância única. Os oradores irão especificar pormenores característicos que permitirão um conhecimento mais adequado dum movimento que enriqueceu Portugal com obras idênticas no dinamismo estrutural mas diferentes pela sua contextualização. A comparação com as matizes brasileiras dará uma noção mais exacta duma riqueza patrimonial que nos responsabiliza perante o mundo.
Em Braga, apelidada de “Capital do Barroco”, queremos recordar o trabalho invulgar do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles que patrocinou variadíssimas iniciativas e, dum modo particular, encarregou o arquitecto e engenheiro Manuel Pinto de Vilalobos em 1722, para elaborar um plano geral que numa sequência perfeitamente ordenada deveria permitir uma autêntica devoção popular onde os fiéis percorressem os passos dolorosos de Cristo para participar na responsabilidade de edificar uma “Jerusalém restaurada”. O núcleo central deste itinerário catequético seria colocado num majestoso santuário, cuja última pedra terá sido colocada em 1811. Daí que, num Congresso que envolveu a região, queiramos também evocar os 200 anos deste Santuário, onde a espectacularidade do conjunto das suas formas nos permite classificar o Bom Jesus do Monte como pérola que emergiu da cultura barroca.
Conhecer o passado e elogiar quem acreditou na capacidade de o edificar, legando-o ao futuro, não pode ser um mero acto cognoscitivo sem repercussões pessoais e instituições. Somos, aqui e agora, passado que tem um presente e deve ter um futuro. Urge, por isso, não permanecer na dimensão fria duma arquitectura ou escultura a que a natureza envolvente lhe dá outro esplendor e majestade. Importa descobrir as verdadeiras motivações daquilo que nos empolga. Não foram, com toda a certeza, a vaidade de copiar o que estava na moda e ufanar-se de possuir algo idêntico. Tudo nasce duma força interior que sintetizarei no amor a uma causa para bem (aqui espiritual) de toda uma região. As dificuldades devem ter sido imensas mas a paixão que envolveu vontades tudo ultrapassou.
Depois dos primeiros amantes desta jóia, muitos benfeitores se sucederam, os quais, no anonimato ou na galeria sempre incompleta, deram corpo e preservaram o tesouro com o primeiro amor que motivou.
Pode parecer inoportuna esta breve referência histórica, quando teria tantos outros pormenores a sublinhar. Acontece, porém, que a chamada modernidade habituou-se a delegar responsabilidades sem compromisso de pessoas e instituições. Se é importante analisar facetas relevantes, não podemos esquecer os protagonistas e, particularmente, o espírito que os moveu.
Recordando esta perspectiva, a não esquecer, penso que as conclusões deste Congresso poderiam recordar a urgência de criarmos uma mentalidade de corresponsabilidade em tornarmos vivos os monumentos religiosos que os antepassados edificaram. E porquê? Porque como afirmava Miguel Ângelo (pintor e escultor), “a verdadeira obra de arte é apenas uma sombra da perfeição divina.” Essa sombra divina que esteve na origem da luminosidade humana deste Santuário.
Com efeito, ninguém ignora como é reduzida, mesmo com a generosidade de muitos fiéis, a identificação de mecenas para estas causas. No caso concreto, importa criar condições para que sejam muitos a amar o Bom Jesus e tantos outros espaços sagrados, de modo que continue a ser o que sempre foi. São muitos aqueles que exigem e reclamam condições para poderem usufruir de espaços maravilhosos; são poucos os que se comprometem e lutam com as suas capacidades e talentos, de grande ou exígua dimensão, para tornar a beleza deste local mais atractivo. O património enriquece a natureza e poderemos ser referência nos itinerários ou produtos turísticos que oferecemos a crentes e não crentes. A propósito, trago agora à memória o discurso de Paulo no areópago Atenas, que começou a falar aos gentios, precisamente, a partir de uma obra de arte dedicada “Ao Deus desconhecido” (cf. Act 17,23).
Não obstante, penso que este Congresso deverá chamar a atenção da comunidade para que manifeste o seu amor – e esta é a palavra exacta - a toda a Instância. Os antepassados eram mais ousados. Alguns poderiam ser mais privilegiados pela fortuna. Outros davam do pouco que tinham. Hoje só um sinal colectivo que envolva a comunidade civil e religiosa poderá permitir o esplendor que o Bom Jesus já teve. A sua completa restauração permitirá que muitos mais o procurem deixando também eles o seu sentido de corresponsabilidade!
Peço desculpa por esta saudação a todos os Congressistas, portugueses ou estrangeiros, de Braga ou de qualquer canto do país. Saibam que os acolhemos com muita alegria, orgulho e carinho! Deste modo, façamos com que o Congresso suscite esta mentalidade capaz de ultrapassar o que parece impossível, mas que a história assim o exige.
E se é verdade que não conseguimos esconder o desejo de elevar este Santuário do Bom Jesus a Património da Humanidade, antes disso, é preciso que ele se eleve primeiro a Património Espiritual no nosso coração!

20 de Outubro de 2011,
† Jorge Ortiga, A.P.

Confraria do Bom Jesus admite repetir congresso luso-brasileiro

Artigo do Correio do Minho, de 23-10-2011

autor José Paulo Silva

Os dirigentes da Confraria do Bom Jesus do Monte ponderam a repetição do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, atendendo ao “sucesso” do encontro que juntou, nos últimos três dias, meia centena de especialistas dos dois países.
O número de 400 inscritos como assistentes, 105 dos quais professores dos ensinos básico e secundário levam também a Mesa da Confraria a decidir, em breve, se o Congresso do Barroco terá continuidade.
O historiador Aurélio de Oliveira, presidente da comissão científica do congresso, disse ao Correio do Minho que o mesmo “excedeu as expectativas” no que respeita ao número de comunicações apresentadas e de inscritos.
“Acho que acrescentou novidades ao estudo do Barroco em Portugal e no Brasil”, adiantou, remetendo uma análise mais cuidada sobre a qualidade científica do congresso para as actas que serão publicadas em Janeiro do próximo ano.
José Carlos Gonçalves Peixoto, mesário da Confraria do Bom Jesus do Monte, considerou que “o congresso permitiu uma nova sensibilização para o Barroco nos dois países”, sendo que há ainda muito por investigar nesta área.
“O sucesso alcançado quase que exige uma tomada de posição da Confraria em relação à continuidade do Congresso”, adiantou-nos José Carlos Gonçalves Peixoto.
Organizador e também autor de uma comunicação no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, José Carlos Peixoto não tem dúvidas em dizer que “as actas com todas as intervenções vão certificar a qualidade do Congresso”, que registou “um interesse enorme junto dos professores”.
Criar massa crítica para defesa do património
A participação significativa de docentes dos ensino básico e secundário no congresso que ser-viu com acção de formação foi destacada por Eduardo Pires de Oliveira, autor de uma comunicação sobre “A mobilidade dos entalhadores em Braga e no Minho no período barroco (1650-1750).
“Não sendo investigadores, os professores são aqueles que vão fazer a manutenção das ideias cá defendidas, transmiti-las aos alunos”, realçou este historiador de arte que, em Fevereiro do próximo ano defende tese de doutoramento sobre o mestre André Soares e o estilo rococó no Minho.
Eduardo Pires de Oliveira defende que “não podemos pensar num edifício apenas pela sua história, mas também pela sua conservação”, pelo que é urgente “criar massa crítica” para a defesa do património histórico.
“Foi o que se fez na ASPA (Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural) durante muitos anos suporte de amor ao património”.
“Bom Jesus do Monte é uma obra que nunca acaba”
“O Bom Jes us do Monte é uma construção contínua, é algo orgânico, uma realidade viva a diversos níveis”, destacou o historiador Eduardo Pires de Oliveira, numa visita guiada ao santuário com muitos dos participantes no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco que ontem encerrou.
Aquele especialista destacou no conjunto do santuário que se apresenta como candidato a património mundial “a valia religiosa e da sacralidade barroca, a valia do monumento e a valia da natureza”.
Destacou também algo de que pouco se fala quando se fala do Bom Jesus do Monte: “Aqui, pela primeira vez em Portugal, uma estância religiosa transforma-se em estância turística”.
O sítio de recreio foi incrementado por Manuel Joaquim Gomes, “a personalidade mais importante do ponto de vista económico na segunda metade do século XIX em Braga”, que construiu os hotéis e mandou instalar o elevador a água.
“Manuel Joaquim Gomes traz cá a mais importante imprensa da época e o rei por duas vezes. A partir do momento em que vem o rei, toda a gente vem atrás”, salientou Eduardo Pires de Oliveira em frente ao Templo do santuário, ainda hoje rodeado por três unidades hoteleiras.
Aos congressistas portugueses e brasileiros, aquele especialista em História da Arte bracarense alertou para a existência no Bom Jesus de “uma das mais belas escadarias barrocas de todo o mundo”, a dos sentidos, encomendada pelos jesuítas.
Apoteose dos sentidos
Na visita guiada de ontem, Eduardo Pires de Oliveira, explicou “a fotografia mais difundi-da do Bom Jesus”, ou seja, a perspectiva que o visitante ou peregrino tem da escadaria sensorial barroca, do escadório neoclássico e da igreja ao fundo. “É a apoteose do Bom Jesus”, exclamou a propósito deste “constraste entre um desenho do barroco e rococó e do mundo dos sentidos e o mundo frio do neoclassicismo, das linhas rectas, de uma construção mental mais singela”. Os participantes no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco visitaram ontem também a capela de Santa Ma-ria Madalena e o Mosteiro de S. Martinho de Tibães, entre outros monumentos do concelho de Braga. Do sacro-monte do Bom Jesus levaram consigo “a beleza e força dos homens e mulheres que desceram e subiram este monte” e a certeza de Eduardo Pires de Oliveira de que “o Bom Jesus é uma construção que nunca acaba”.
“Desde finais do século XVII até finais do século XIX tudo se passa cá”, referiu o historiador num momento em que a Confraria do Bom Jesus do Monte, terminadas as obras de requalificação dos hotéis e espaços exteriores do santuário, reclama apoio de mecenas para o restauro e conservação do património artístico das capelas e do templo principal.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

HISTORIADOR DEZFAZ MITO DO OURO DO BRASIL

autor José Paulo Silva

O historiador Aurélio de Oliveira contestou ontem, no Bom Jesus, na primeira comunicação científica do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, a ideia presente em muitos manuais de História de que a produção artística barroca em Portugal está intimamente associada às remessas de ouro do Brasil.
Presidente da comissão científica do congresso, este professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto refutou, de forma clara, “a ideia geral que corre e que se tem, consubstanciada no binómio Barroco = a ouro do Brasil”. Pelo contrário, Aurélio de Oliveira evidenciou que “uma larguíssima fatia da produção barroca passou ao lado desse recurso directo”, mesmo no auge da entrada de ouro brasileiro em Portugal, no século XVIII.
O historiador disse não ter encontrado vestígios do ouro do Brasil nas obras espectaculares realizadas em Tibães e noutros mosteiros e destacou que a produção artística da Mitra e Cabido da Sé de Braga foi financiada pelas rendas fundiárias.
Ao Bom Jesus do Monte também não terão chegado grandes donativos relacionados com o ouro ou diamantes do Brasil. Aurélio de Oliveira, na comunicação inaugural do congresso que decorre até amanhã, valorizou o quadro de “homenagem aos lavradores da Província” que financiaram obras no santuário cujo templo principal foi concluído há precisamente 200 anos.
José Viriato Capela, da Universidade do Minho, foi outro dos historiadores convidados para o primeiro temário global do congresso, que incidiu sobre a economia e sociedade do Barroco. Na sua intervenção, Viriato Capela demonstrou de que forma “o intenso pulsar da vida religiosa e social, comercial e construtiva” da Braga do século XVIII se estendeu ao Bom Jesus.
“O monumento repercute em si como nenhum outro pela sua complexidade e extensão os desenvolvimentos, vicissitudes, as tensões da política e sociedade portuguesa e bracarense”, defendeu.
Idade de ouro em Braga
Também da Universidade do Minho, Miguel Bandeira apresentou aos congressistas a investigação que tem vindo a realizar sobre a evolução da morfologia urbana de Braga.
Segundo este especialista em geografia e ordenamento, “o urbanismo barroco local deixou as suas marcas na cidade actual”.
Segundo Miguel Bandeira, o Barroco constitui uma “idade de ouro em Braga”.
Várias das 50 comunicações que farão parte das actas do Congresso Luso-Brasileiro incidem sobre o Bom Jesus, reconhecida ‘jóia’ do Barroco em Portugal.
Maria do Carmo Pinheiro e Silva Cardoso Mendes apresentaram “sentimentos e representações” de Camilo Castelo Branco sobre o santuário. Os autores procuraram “demonstrar que as memórias camilianas do Bom Jesus correspondem ao sentido completo do turismo religioso que o escritor reforça na reiteração do conceito de romagem”.
Recordar os memorialistas
José Carlos Gonçalves Peixoto, mesário da Confraria do Bom Jesus, apresentou, por seu lado, uma lista dos memorialistas do Bom Jesus do Monte.
Segundo este estudioso, “a produção dos memorialistas é significativa para a história local na medida em que nos legaram um vasto manancial de fontes que facultam riquíssima pesquisa sobre a memória regional”.
Ontem, José Carlos Peixoto recordou “alguns autores de textos, citações, caudais de palavras e ideias” que podem ser “referências importantes para quem se interessar pela história, arte, património e pela devoção ao Bom Jesus do Monte.
O mesário do Bom Jesus lembrou ontem que, nos últimos onze anos, foi realizado um trabalho de inventariação da documentação da Confraria. “Neste momento dispomos de um arquivo, cuidado, inventariado, com documentação variada, verdadeira memória do passado, desde actas (a partir de 1722), estatutos da confraria, alvarás, inventários, breves, provisões, termos de entradas de irmãos, algumas plantas e projectos, livros de despesa e receita, legados, e outros”.
Bom Jesus património mundial precisa de mecenas
O arcebispo de Braga e o presidente da Confraria do Bom Jesus do Monte solicitaram ontem o apoio de mecenas para a reabilitação e conservação do santuário que se pretende candidatar a património da humanidade. Na abertura do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, D. Jorge Ortiga afirmou que “só um sinal colectivo que envolva a comunidade civil e religiosa poderá permitir o esplendor que o Bom Jesus já teve”.
João Varanda, em nome da Confraria que organiza o congresso, apelou também ao empenho de instituições públicas e privadas na reabilitação do Bom Jesus do Monte.
Segundo o presidente da Confraria, o congresso que reúne cerca de 400 pessoas constitui “o início de um longo processo de candidatura a património mundial da UNESCO”, objectivo que deverá ser partilhado por instituições como a Câmara de Braga, a Universidade do Minho e a Universidade Católica Portuguesa.
João Varanda destacou que o santuário, jóia do barroco bracarense, é um “espaço único e irrepetível” cuja reabilitação apresenta “desafios enormes”.
“Ninguém ignora como é reduzida, mesmo com a generosidade de muitos fiéis, a identificação de mecenas para estas causas. No caso concreto, importa criar condições para que sejam muitos a amar o Bom Jesus e tantos outros espaços sagrados, de modo que continue a ser o que sempre foi”, insistiu o arcebispo de Braga, segundo o qual “as conclusões deste congresso poderiam recordar a urgência de criarmos uma mentalidade de corresponsabilidade em tornarmos vivos os monumentos religiosos”.
D. Jorge não escondeu “o desejo de elevar este santuário a património da humanidade”, mas defendeu que, “antes disso, é preciso que ele se eleve primeiro a património espiritual”.
Centro internacional do barroco
Empenho na candidatura a apresentar à UNESCO foi assumida também pelo presidente da Entidade Regional de Turismo Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira. Este responsável defendeu a projecção de Braga e do Bom Jesus como “centro internacional da arte barroca”.
Nesse sentido, o vice-presidente da Câmara de Braga, Victor Sousa, destacou o santuário do Bom Jesus como “activo turístico importante”.
António Magalhães, edil de Guimarães veio à abertura do congresso luso-brasileiro enquanto presidente da associação Quadrilátero Urbano, destacar o “patamar de excelência de Braga no que toca ao barroco” e o empenho da associação que junta os municípios de Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão em apoiar iniciativas de valorização deste território.
O Congresso Luso-Brasileiro do Barroco reúne 50 comunicações de estudiosos portugueses e brasileiros.
A mesa da Confraria do Bom Jesus espera que a reunião científica dê mais sustento à candidatura a património, um desafio que João Varanda entende dever ser partilhado “pela elite intelectual” da cidade.
O dossier a apresentar à UNESCO deverá demorar um a dois anos a ficar concluído.

Artigo publicado no Correio do Minho de 21 de Outubro de 2011

terça-feira, 18 de outubro de 2011

D. Gaspar de Bragança e o Bom Jesus do Monte

Artigo publico no jornal Correio do Minho de 18 de Outubro de 2011.

Ao eleger o Bom Jesus como objecto de escrita, surgem no meu pensamento os obreiros de tão grandiosa obra, os seus artistas, os seus benfeitores e os seus memorialistas, bem como os Arcebispos de Braga que demonstraram particular simpatia e protecção, a título de exemplo, D. Gonçalo Pereira, D. Jorge da Costa II, D. Rodrigo de Moura Teles e D. Gaspar de Bragança. CM, 18-10-2011
O Sereníssimo D. Gaspar, filho legitimado de D. João V, irmão de El-Rei D. José I, tio de D. Maria II e um dos Meninos de Palhavã, nutria um carinho muito especial pelo Bom Jesus do Monte. Pretendemos, aqui, indicar alguns factos que comprovam esses sentimentos pela estância.
Após a sua entrada pública na Arquidiocese de Braga, em 28 de Outubro de 1759, decidiu que a sua primeira saída oficial seria ao Bom Jesus em 30 de Novembro do mesmo ano. Efectuou esta visita numa luzidia berlinda puxada a seis urcos, acompanhado da sua numerosa família e de 30 ou mais soldados granadeiros da Cavalaria de Chaves. Deixou ficar de esmola, no Bom Jesus, oito moedas de oiro. Era, então, tesoureiro Manuel Rebelo da Costa, grande benfeitor do Terreiro dos Evangelistas.
No dia do seu aniversário, a 7 de Outubro, mandava iluminar, por sua conta, o santuário, tendo lugar, igualmente, Missa e Te Deum.
Concedeu, em 1765, uma provisão autorizando a colocação do Santíssimo Sacramento «per modum viatici», para maior veneração.
Ofereceu uma das três imagens de Jesus Crucificado, existentes no templo do Bom Jesus, mandada fazer em Nápoles, a expensas suas. A imagem chegou a Lisboa, num navio Genovez, e depois transportada para o Porto onde chegou em 3 de Novembro de 1775. João de Sousa e Melo, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo transportou-a para o Paço Arquiepiscopal de Braga em 24 de Novembro de 1776. No dia 8 de Setembro de 1779 foi conduzida para a Catedral e exposta num andor na Capela Mor. Simultaneamente decorria um tríduo muito concorrido. No dia 12, do mesmo mês e ano, realizou-se uma procissão onde a imagem foi conduzida aos ombros de 6 sacerdotes, passando por várias igrejas da cidade, rumo ao templo de D. Rodrigo, entretanto demolido e transferida para o templo actual. Para comemorar a chegada da imagem à estância, D. Gaspar, na manhã de 14 de Setembro de 1779, preside a um Pontifical e Te Deum, correndo tudo por sua conta, incluindo o acompanhamento musical. Um arraial nocturno fechou, com chave de ouro, esta solenidade, onde não faltaram iluminárias, fogueiras, tiros de morteiros, canhões de artilharia e fogo de artifício.
O papel de D. Gaspar foi fundamental para a concessão dos Breves e mais indulgências de Clemente XIV e Pio VI, respectivamente, em 1773 e 1778. Estas graças espirituais foram elementos de prosperidade na medida em que fomentaram a concorrência de devotos a este lugar sagrado, só comparáveis às de S. Tiago de Compostela e dos Lugares Santos.
No conjunto das 19 capelas, a maioria consagrada à Crucifixão e as restantes à Ressurreição, sobressai a Capela Maior, ou seja o Templo, que deve a sua edificação ao arcebispo-príncipe. Além de promotor da iniciativa, escolheu o local, o autor dos riscos, suspendeu os estatutos, silenciou os opositores da iniciativa e escolheu os mesários que lhe inspiravam mais confiança para prosseguirem com o projecto.
A Confraria manifestou o reconhecimento ao insigne prelado mandando pintar uma tela com o seu retrato para figurar na galeria dos benfeitores e organizou uma procissão com o andor do Bom Jesus, pela cidade, pedindo pelo seu restabelecimento, em virtude do agravamento da sua doença, em 16 de Janeiro de 1789.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

RUÃES – FICHAS

 

Ruaes

sábado, 15 de outubro de 2011

REPORTAGEM DA REVISTA FUGAS

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Acompanhamos a Revista Fugas, sumplemento do Jornal PÚBLICO, de 15 de Outubro de 2011, numa Visita ao Bom Jesus. Eis o texto de Sérgio C. Andrade:
A igreja do Bom Jesus do Monte tem dois séculos. É o mais conhecido dos montes sagrados no país, com a sua Via-Sacra num desconcertante realismo naïf. É, simultaneamente, uma estância de turismo, dotada com um elevador pioneiro na Península. Não resistimos à tentação da comodidade e fizemos questão de subir a pé o meio milhar de degraus da Paixão. Lá em cima, admiramos o barroco e a paisagem, e ficamos a saber que se vai voltar a poder "ver Braga por um canudo".
O dia 25 de Março de 1882 marca um momento de viragem na história do Bom Jesus do Monte, em Braga. Não porque essa data tenha alguma relação com o calendário religioso deste que é um dos principais lugares de veneração para a comunidade católica no Norte do país, e uma referência dos chamados sacro-montes, que, na sequência do Concílio de Trento (século XVI), restauraram a experiência crística de Jerusalém. Mas porque, tendo-se aí realizado, nesse dia, a inauguração de um funicular pioneiro no país (ver caixa) -, os cristãos que demandavam esse lugar sagrado passaram a poder (e ter de) optar entre fazer o percurso da Paixão a pé ou de... elevador.
Os registos históricos mostram que, no final desse ano de 1882, o número de visitantes do Bom Jesus subiu de 10 mil para os 76 mil. Mas não é possível calcular o número daqueles que continuaram a subir a pé os 583 degraus que separam o pórtico que assinala o início da Via-Sacra da porta do icónico templo projectado pelo arquitecto Carlos Amarante (1748-1815), e que foi inaugurado fez em Setembro dois séculos - data que é pretexto para um calendário de iniciativas, entre as quais está um Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, a decorrer no próximo fim-de-semana (ver caixa).
A reconstituição da Via Dolorosa no Monte de Espinho fronteiro a Braga - e que acolhe dois outros lugares incontornáveis no roteiro turístico-religioso da Cidade dos Arcebispos, o Sameiro e a Falperra (ver caixa) - foi iniciada em 1723, por decisão do bispo D. Rodrigo de Moura Telles (1644-1728). Surgiu num lugar que já tinha história consagrada, e na sequência de outras vias-sacras que então existiam em Braga (no Convento do Pópulo) e noutras localidades do país, com destaque para a do Buçaco, que vinha do século anterior.
Diz a lenda associada à História que, na batalha do Salado (1340), em que Afonso IV se reuniu a Afonso XI de Castela para lutar contra o reino muçulmano de Granada, participou o arcebispo de Braga D. Gonçalo Pereira (1280-1348), e que a vitória dos cristãos foi ajudada pela intervenção de Santa Cruz do Monte. A assinalar o patrocínio divino, o arcebispo mandou erigir no monte bracarense uma primeira ermida, que depois seria substituída por uma "fermosa capela com imagem milagrosa, assistida de ermitães e festejada por grandes despesas pelos melhores da Cidade" (segundo uma citação do historiador Carlos Alberto Ferreira de Almeida), que, no início do século XVIII, daria lugar ao actual tempo projectado por Carlos Amarante.

Jerusalém restaurada

O Bom Jesus que hoje conhecemos é o resultado da justaposição de diferentes intervenções ao longo dos anos. E a melhor forma de entender isso é mesmo esquecer a comodidade do elevador, e deitar os pés às escadas - porque é esse o sentido certo da Via-Sacra.
Um primeiro lanço de degraus faz-nos passar por baixo do pórtico, marcado pelo brasão do bispo D. Rodrigo Teles e pela inscrição na parede "Jerusalem Sancta restaurada e reedificada no anno de 1723" - o que pode fazer crer que uma Via-Sacra anterior já aí existisse, algo que é ainda tema de debate historiográfico.
No primeiro pátio surgem-nos duas capelas quadradas - as formas vão depois evoluindo para hexagonais e octogonais, conforme a subida e a era da construção -, representando A Última Ceia e a Agonia de Jesus. São as primeiras representações dos sucessivos episódios da Paixão, em figurações policromadas em barro, sobre fundos também ilustrados. Uma estética de um realismo desconcertantemente naïf, que Ramalho Ortigão, por exemplo, classificou como "indubitavelmente abominável", mas que cativou admiração junto dos visitantes mais devotos, e não só. Actualmente, as capelas apresentam um deplorável estado de degradação, e, na visita recente que fez ao lugar, a Fugas testemunhou o lamento de visitantes perante a destruição desse património que moldou o seu imaginário religioso. "Olha, até parece que cortaram os dedos ao Judas, coitado. É uma pena ver isto assim, e ainda dizem que é património mundial", comentava uma mulher para a sua amiga, certamente confundindo Braga com a cidade vizinha de Guimarães.
Refira-se que a Confraria do Bem Jesus iniciou, entretanto, com apoio mecenático, o restauro das diferentes estações da Paixão, trabalho que é já visível nas capelas mais próximas do templo e relativas às estações do Levantamento e do Descimento.

Escadório em forma de cálice

Voltemos ao caminho: a primeira parte do percurso da Paixão do Bom Jesus segue em aprazível ziguezague sob um bosque frondoso até ao pátio onde se encontram as sétima e oitava capelas, dedicadas a Pilatos e à subida de Jesus para o Calvário. Deste lugar, desfruta-se da mais bela perspectiva sobre o conjunto patrimonial, e que corresponde ao "bilhete-postal" mais popularizado do sítio: o escadório de recorte barroco, em sucessivos lanços simétricos, pontuados por fontes e estátuas, e com as demais capelas, até perfazer as 14 estações mais comuns da Paixão. No cimo, a igreja inaugurada há dois séculos, com a sua fachada que mais parece uma tela de pintura, completa este quadro patrimonial, que unifica a arquitectura com a escultura, a pintura e a paisagem, ao melhor estilo barroco.
O historiador José Carlos Peixoto, membro da Confraria do Bom Jesus - que, com o presidente da instituição, João Varanda, guiou a visita da Fugas -, chama a atenção para a forma de um cálice desenhada pelas fontes instaladas ao centro do escadório. E vê neste desenho - é a tese que defende no trabalho de investigação que dedicou ao Bom Jesus, e que está prestes a publicar - um gesto deliberado do arquitecto Carlos Amarante a evocar outra versão da lenda que está na origem deste sacro-monte, que aponta para o aparecimento de um cálice sagrado neste lugar do Monte de Espinho.
Mais evidentes, mesmo para olhares menos informados, são as alusões das secções do escadório aos Cinco Sentidos e às Virtudes, com fontes e esculturas representando cada um destes temas, da Visão ao Tacto, da Docilidade à Caridade... É "uma longa série de esculturas de personagens bíblicos num desfile de história sagrada, barroca, e uma rica glosa de símbolos com os seus enquadramentos, que tornam o Bom Jesus de Braga num excelente cortejo granítico de figuras, de modelos, de gostos e de cultura da sua época e numa versão enriquecida e esculturada das grandes procissões da Quaresma com uma encenação religiosa à moda das grandes festas do tempo", descreve o historiador Carlos Alberto Ferreira de Almeida.
Outra particularidade que transforma o Bom Jesus num caso único no país - nota José Carlos Peixoto -, é também a sua Via-Sacra prolongar-se por mais cinco capelas-estações dedicadas ao tempo da Ressurreição, num percurso que termina no Pátio dos Evangelistas, com a cena do Encontro de Emaús (estas capelas, quadradas, estão actualmente fechadas e em vias de ser restauradas).
O templo, como já referimos, é o projecto mais famoso de Carlos Amarante, o arquitecto bracarense que deixou obra notável na sua cidade (é o autor da fachada da Igreja do Pópulo e da Igreja do Hospital de São Marcos), mas também no Porto (Ponte das Barcas, Reitoria e Igreja da Trindade). Construída entre 1784 e 1811, a igreja denota o período de transição do barroco para o neoclássico. Interessante, no seu interior, é de novo a replicação, no altar-mor, de uma cena da Paixão, e ainda os seus altares laterais decorados com telas (pintadas pelo mestre Pedro Alexandrino) em vez das habituais esculturas.
Mas uma visita ao Bom Jesus só fica verdadeiramente completa com a extensão do passeio monte acima, para desfrutar da vertente, digamos, secular deste sítio, que, desde meados do século XIX, se afirmou também como uma estância de vilegiatura. Tendo muita água, mas não sendo uma estância termal, o Bom Jesus foi sendo também procurado pelos seus ares considerados saudáveis e curativos. Membros da família real (desde D. João VI, cujas armas estão representadas na fachada da igreja, até D. Manuel II) e da aristocracia nortenha, ao lado de figuras como Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão (que escreveram sobre o lugar), foram frequentadores do sítio, que, em simultâneo com o património arquitectónico e religioso, se afirmou pelo seu lago, bosque e complexo de grutas, a primeira das quais foi desenhada pelo arquitecto Ernesto Korrodi, no início do século XX.
A vertente mais turística está actualmente a ser também valorizada pela Confraria do Bom Jesus, que, desde há dois anos, aí vem executando obras de reabilitação também do espaço envolvente e dos edifícios civis (como os hotéis - ver caixa), com o melhoramento do piso, a criação de estacionamento e a reflorestação do parque de 50 hectares "com a plantação maciça de carvalhos e uma grande preocupação com o equilíbrio ambiental", nota João Varanda.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

AS LENDAS E O BOM JESUS DO MONTE

Artigo publicado no Correio do Minho de 11 de Outubro de 2011.

A devoção ao Martírio, Ressurreição e Glória de Jesus conheceu enormes desenvolvimentos após o Concilio de Trento, construindo-se muitas igrejas e templos dedicados ao Bom Jesus. Esta devoção remonta ao período medieval em que a arte religiosa era influenciada pela representação DM, 11-10-2011teatral, verdadeira paraliturgia popular, enfatizando o drama da paixão. Neste contexto e, no âmbito do redimensionamento das práticas religiosas, temos de considerar a forte tradição popular e as suas manifestações mais vulgares.
As lendas, a par das fábulas, contos, mitos, alegorias e provérbios, têm um valor histórico, menosprezado por muitos, mas fazem parte do nosso património e são uma riqueza cultural que urge preservar, pois fazem parte das nossas raízes. Revelam histórias fantásticas, originalmente contadas de forma oral, e que possuem origem histórica, interpretando factos, fenómenos e acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, que nasceram do imaginário do povo, por vezes com base em acontecimentos reais.
Pretendemos, aqui, com estas lendas, através das pistas que nos dão, revelar factos esquecidos e que no fundo têm sempre um fundo de verdade.
As lendas, agora reproduzidas, fornecem explicações plausíveis e aceitáveis e não são fruto da pura fantasia, constituindo um relato linear e com alguma coerência. A nossa cultura greco-romana assenta num tesouro indiscutível de mitos, lendas, fábulas, tragédias e comédias, que nos perseguem até hoje. Reunimos aqui algumas dessas histórias, que vão deixar seus ecos em todos os séculos.
Duas lendas, sobre o Bom Jesus do Monte, relativas ao aparecimento de uma Cruz e de um Cálice conduzem-nos a uma reflexão histórica, para além de outras a que não atribuímos verosimilhança alguma, como sejam as histórias à volta do Longuinhos e da água da gruta.
A primeira está relacionada com o aparecimento de uma Cruz, sob o céu do Monte de Espinho, após a Batalha do Salado, no século XIV. O prelado bracarense, de então, D. Gonçalo Pereira, atribui a vitória nesse combate à Santa Cruz, de quem era devoto, bem como seu filho, onde no seu estandarte figurava o respectivo símbolo da Cruz. Porque essa Cruz terá aparecido nos Céus do Monte de Espinho, nas fraldas da Serra do Carvalho, de imediato o arcebispo e os bracarenses acorreram ao local e levantaram uma Cruz e edificaram uma pequena Ermida. O Bom Jesus guarda no seu interior um dos maiores segredos que pela história perdura. Para lá das lendas, dos factos verídicos e de todo o potencial deste fenómeno natural, a devoção à Santa Cruz nasceu espontaneamente. Aí se iniciaram os primeiros passos, se plantaram ideias que brotaram viçosas, se ergueu uma cruz e assim começou uma caminhada devocional que hoje mantém a pujança de outrora.
A segunda sobre o aparecimento de um Cálice, na época da restauração da independência, no século XVII. Segundo a cultura popular teria aparecido um cálice rodeado por um esplendor sobre o Monte Espinho. De imediato, o povo acorreu com maior intensidade ao Bom Jesus em sinal de agradecimento. O jugo castelhano contribuiu para a união dos bracarenses debaixo da protecção do Bom Jesus do Monte, bem como para a sua projecção para fora da região. Muitos atribuíram o sucesso da Independência de Portugal, em 1640, e o fim do domínio filipino à intervenção divina. O Arcebispo de Braga D. Rodrigo da Cunha foi um dos principais opositores da incorporação de Portugal em Espanha, apoiando os revoltosos. Por este motivo, não são estranhas as lendas relacionadas com o Bom Jesus e a Independência de Portugal. Mais, duma análise iconográfica dos escadórios dos cinco sentidos e das virtudes sobressai um Cálice, símbolo eucarístico, imperceptível para a maioria dos peregrinos e frequentadores da estância, onde se vislumbra, com alguma benevolência, a base, o fuste e a copa.

domingo, 9 de outubro de 2011

CICLO DE CONCERTOS NO BOM JESUS

A Confraria do Bom Jesus do Monte vai promover um CICLO DE CONCERTOS, no Templo do Bom Jesus, durante o mês de Outubro, com entrada livre, no âmbito do II centenário do lançamento da última pedra do Templo do Bom Jesus e do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco.
Este ciclo está disperso por vários concertos: o primeiro, pela Cappela Musical Cupertino Miranda, a realizar no dia 8 de Outubro, pelas 21h30; o segundo, pelo Coro da Associação de Pais do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, no dia 15 de Outubro, pelas 21h30; o terceiro, um  Sarau Barroco com a Orquestra do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, no dia 21 de Outubro, pelas 19h30.
Estes concertos realizam-se no contexto de uma parceria entre a Confraria do Bom Jesus do Monte, a Fundação Cupertino de Miranda, a Câmara Municipal de Braga e o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian.
O concerto do próximo sábado tem por objectivo divulgar a polifonia portuguesa dos séculos XVI e XVII de Duarte Lobo, Manuel Cardoso, Filipe de Magalhães e D. Pedro de Castro.
O segundo concerto tem por interveniente o Coro da Associação de Pais do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, constituído no ano de 1999, reunindo cerca de 40 elementos. Tem como Director Artístico o Maestro António Baptista e solista Liliana Coelho. Vão interpretar peças de Ant. Carpentier, Johan S. Bach, Ant. Vivaldi e Henry Purccel.
O Sarau Barroco está integrado no programa cultural do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco que se vai realizar nos dias 20, 21 e 22 próximos. Este Congresso está a exceder as expectativas. Neste momento conta com cinco dezenas de comunicações e mais de duas centenas de participações.

ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DO SEMINÁRIO DE BRAGA, CURSO DE 1961/62

2011-10-09 - ENCONTRO
2011-10-09- ENCONTRO 1

DISCURSO PARA ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DO SEMINÁRIO DE BRAGA, CURSO DE 1961/62, PROFERIDO EM 8 DE OUTUBRO DE 2011 NO AUDITÓRIO VITA

Começo por dar, formalmente, as Boas Vindas, à mesa, ao Sr. Bispo D. Antonino Eugénio e a todos os presentes, pois particularmente já tive o prazer de o fazer e de cumprimentar todos e cada um.
Quero agradecer a presença de todos os condiscípulos e seus familiares, mas, de modo particular, as convidados e a Direcção dos Antigos do Seminário. Convidamos 21 professores, prefeitos e directores espirituais. Alguns não puderam estar presentes mas enviaram cartas muito elogiosas sobre esta iniciativa.
Regressamos a Braga (vulgarmente conhecida por Roma Portuguesa, Cidade dos Arcebispos, Cidade Barroca, Cidade Romana, Capital do Minho, Cidade dos três Sacro-Montes, Bracara Augusta), uma das mais antigas cidades portuguesas, fundada no tempo dos Romanos, contando com mais de 2 000 anos de história e possuindo181 819 habitantes no seu concelho (I.N.E, censos de 2011).
Regressamos ao Seminário Menor, também conhecido por Seminário de Nossa Senhora da Conceição, ou antigo Recolhimento de S. Domingos da Tamanca, com origem no primeiro quartel do século XVIII, quando em Braga se estabeleceram duas piedosas mulheres calçadas de tamancas.
Meio século depois voltamos ao mesmo local, quando no mês de Outubro de 1961, entramos no Seminário Menor, da famosa e inesquecível Rua de S. Domingos, onde tudo começou.
Recordamos aqueles meninos, com 10, 11 ou 12 anos, jovens de tenra idade, à descoberta de si próprios e em busca do mundo, vestidos de fato preto, camisa branca, gravata, colete e chapéu. Alguns sozinhos, outros acompanhados por familiares ou pelo pároco, com uma mala de cartão, um baú carregado de enxoval e uma mente a fervilhar em sonhos.
Pessoalmente lembro-me daquele dia em que, acompanhado de meus pais, de duas tias solteiras e minhas benfeitoras, de uma mala e de um baú, me assustei ao ver tantos meninos vestidos de preto.
Lembro-me quando me despedi de alguns tios que abandonaram o campo e vieram despedir-se com uma lágrima no olho e dos amigos da primária que vieram despedir-se mas nem me deram um abraço com receio de me sujarem o fatinho preto ou amarrotarem o chapéu enfiadinho na cabeça.
Lembro-me daquele dia em que deixei a minha terra pela primeira vez. Quando o autocarro deixou a aldeia e logo senti a distância, a saudade e o silêncio das ruas e caminhos, dos homens e mulheres que passavam indiferentes no percurso do autocarro. Recordo que olhava pela janela do autocarro, escondido entre a esperança e a ansiedade.
Nesta «retrospectiva de vida», chamemos-lhe antes Viagem ao Passado, que, desta vez, neste momento, se aprofunda e intensifica, onde os pensamentos trazem à mente uma reflexão sobre os anos que passamos nesta instituição. Passa um grande intervalo de tempo, entre a vivência do seminário e o relato que vou procurar fazer dessa experiência. Espero que a memória não me atraiçoe. Vamos fazer uso do estreito limite da “memória” como registo do passado e como um documento da passagem pelo seminário. Qualquer reflexão sobre essa passagem deve ser entendida à luz da época. O clima do seminário, retrata o clima do país nos anos 60. Não tenho, por isso e de todo, a mesma leitura que Foucault e Virgílio Ferreira, em Manhã Submersa, têm dos seminários, como locais de repressão e de denegação da identidade.
Cada um de nós poderia construir a sua novela, cada um de nós tem uma história diferente, um contar diferente e um sentir diferente. Cada um de nós tem algo e muito a dizer. Não pretendemos, agora, ser um guardador de memórias, mas, apenas, recordar aqui algumas breves percepções e histórias sobre um percurso colectivo. Procuramos trazer, para o tempo presente, algumas ideias que, por terem sido marcantes e por ordenarem vivências, relatam factos, experiências, situações, atitudes, testemunhos e interpretações pessoais, que devem ser considerados um privilégio. As recordações são activas. Por isso, a riqueza deste lugar, deste Seminário, também é a riqueza do homem, que a imaginou, lhe deu forma e desenvolveu. Passamos, agora, a descrevê-la:
- A ideia de seminário como um edifício austero, de linhas direitas, corredores enormes, com grandes salões, com dormitórios (conjunto de camas todas iguais e dispostas geometricamente), ficando sob constante vigilância, onde o silêncio das paredes é quase sepulcral, onde vivem homens com mentalidades fortes, que tentam, a todo custo, formar os pequenos homens que ali chegam, alegadamente com vocação;
- As eternas filas, ou forma como se denominavam então, dispostas por tamanhos, sempre rígidas, uns sempre à frente, outros sempre à retaguarda. Naquela época, em que o tempo era lento, as filas não se destinavam ao atendimento, mas para organizar o funcionamento da instituição. Eram filas para a capela, para o refeitório, para o recreio, para o dormitório, para passeio. Enrolado nessa multidão silenciosa, subindo escadaria, percorrendo corredores, surpreendidos, por vezes, por um prefeito quieto, de mãos escondidas nas mangas do viatório. Recordo as filas em direcção à Catedral que atravessavam a cidade e eram alvo da curiosidade e, por vezes, do sarcasmo, dos bracarenses;
- Muita juventude vivia nesta casa, mas os corredores pareciam desertos, apetecia brincar, mas nem para o lado se podia olhar. O ambiente cinzento, triste e severo balançava com a irrequietude, a generosidade e o sonho de cada um;
- Os horários rígidos, dos rituais em vigor e das regras que raramente contemplavam excepções. Os recreios e os jogos (o beto, por exemplo) muito desejados e libertadores de muita energia contida;
- Os passeios às 5.ªs feiras e Domingos ora para o antigo Seminário do Espírito Santo, ora para o Campo de Futebol do Colégio de S. Caetano; ora para o antigo Parque do Estádio 28 de Maio, ora para o Picoto;
- A ementa repetida semanalmente, com destaque para a farinha de pau à segunda-feira;
- A Boa Educação, de que somos, hoje, penso eu, exemplos para a sociedade. Aquilo que somos, em parte devemos a esta instituição;
- O tipo de ensino e os métodos usados na sala de aula. A palmatória e a relação afectuosa com o professor. Os métodos dedutivos, expositivos, sabatinas, recurso à memória, típicos da época. No entanto, julgo que adquirimos bons hábitos e métodos de estudo. Os bons professores e os professores assim-assim. Os professores que sabiam muito mas não sabiam explicar e os professores que sabiam menos, mas tinham habilidade para ensinar.
A distinção, ainda actual, que se fazia entre educação e instrução. Educação (distribuída pelas áreas de Piedade, Disciplina, Civilidade e Aplicação) e Instrução (as disciplinas propriamente ditas). Discutível era a atribuição de notas à Piedade, Disciplina, Civilidade e Aplicação);
- As relações humanas como pedra de toque entre as pessoas, mas devidamente acautelada e vigiada pelos superiores. Diria que a «nossa amizade nasceu nesta casa;
Pela minha mente desfilam, agora, além dos condiscípulos (companheiros de sofrimento e de alegrias), que o Senhor chamou, bem como reitores, professores, prefeitos, confessores, directores espirituais, funcionários do seminário, colegas e professores falecidos. Permitam-me, apenas, nomear os colegas falecidos: Pe. Agostinho Manuel Amoedo Afonso, Pe. Joaquim Pereira Fernandes Lima, Albano Matos Fernandes, Alberto Araújo da Mota, António Alves, Firmino Fernandes Marques de Matos, Flávio Besteiro Alves, João Manuel Fernandes, Joaquim Imperadeiro Martins, Joaquim José Fernandes, José Alberto Ferreira Salgado Abreu, José Amaro Machado Arantes, José Augusto Gonçalves Barbosa, José Luís Gonçalves Sousa Macedo, José Manuel Araújo Lima, José Martins Malta, Manuel António Freitas de Oliveira, Manuel de Castro Fonseca, Manuel Gualdino de Carvalho, Vasco da Costa Moreira.
Também queria, agora, recordar o Padre José Marques Ribeiro que, em 15 de Agosto de 1968, deu a sua vida, na Amorosa, por um dos nossos Condiscípulos, o Gualdino.
Este curso tem um lugar na História dos Seminários. Em 16 de Junho de 1969, todos os alunos do 3.º ano de Filosofia, protestaram contra o modo como o poder era exercido no Seminário de Santiago. Penso que o Sr. Arcebispo, de então, encontrou nesse gesto e nas reivindicações exigidas um pretexto para introduzir as reformas que, então, os seminários careciam.
Nesta casa e nas outras por onde passamos, encontramos, certamente, as bases, os sólidos alicerces com que se constrói uma vida. Alguns ofereceram a sua vida ao sacerdócio, outros, a maioria à vida laical. Uns e outros deram e dão testemunho do humanismo integral e dos valores fundamentais do ser humano.
Para assinalar este meio século de história, elaboramos um programa muito rico, em nossa opinião, do qual destaco:
- a exposição (verdadeira viagem ao passado),
- hino do curso,
- cunhagem da moeda,
- atribuição de bolsas de estudo,
- sessão solene.
No embalo desta comemoração, iremos, ainda, publicar uma revista intitulada «pedaços de vida».
Tudo isto só foi possível graças ao dinamismo da Comissão Organizadora, da qual sobressai o colega Manuel Domingos. Deve-se a este nosso condiscípulo a concepção, o desenvolvimento e a concretização deste encontro. Os restantes, nos quais me incluo, foram meros colaboradores, por isso, para o Manuel Domingos solicito uma salva de palmas como forma de agradecimento.
Nesta sessão solene, vamos ter um momento musical com o nosso condiscípulo Nuno Quesado; a leitura da acta n.º 18, referente ao encontro ano anterior; um momento de poesia com Teresa Moreira, Ana Isabel Cunha da Silva e Silva Araújo; uma intervenção do colega Manuel Domingos; a distribuição da medalha comemorativa e recordações.
Mais uma vez, muito obrigado por me escutarem e faço votos que todos nos encontremos, por muitos e bons anos.

sábado, 8 de outubro de 2011

BOM JESUS DO MONTE (200 anos depois)

Artigo do Doutor Aurélio de Oliveira, publicado no Diário do Minho de 7 de Outubro de 2011

A Confraria de Bom Jesus do Monte vai assinalar durante o mês de Outubro (dias 20 a 22) a data da conclusão arquitectónica do Templo com a realização de um evento de carácter científico, a saber: a realização de um Congresso sobre o Barroco, o primeiro especialmente consagrado às realizações do barroco em Portugal e no Brasil, reunindo estudiosos brasileiros e portugueses.
Na verdade, o actual Templo que remata o monumental escadório, com as Capelas e Passos da Paixão, ficou concluído em Setembro de 1811, substituindo um antigo Templo Barroco que vinha do tempo de D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) e que ocupava o patamar inferior ao que ocupa o actual (onde se encontra hoje um fontenário artístico). Continuariam depois as obras com o preenchimento dos interiores (das talhas e pinturas), e depois continuando também vários arranjos nos jardins exteriores que se prolongariam por todo o Século XIX e que, praticamente, lhe deram a feição geral com que hoje o conhecemos.
Podemos dizer que o conjunto arquitectónico passou por 4 ou 5 momentos principais: uma primitiva capela ou ermida dedicada a Santa Cruz, que vem, sem dúvida, do Século XIV e que, com certeza, deve a sua fundação ao Arcebispo D. Gonçalo Pereira (1326-1348) sob invocação de Santa Cruz do Monte.
Este Arcebispo esteve na Batalha do Salado (1340) – uma das decisivas batalhas peninsulares – travadas contra a presença e domínio árabes na Península. O Arcebispo esteve aí, com Afonso IV, com as suas hostes e as de seu filho – D. Álvaro Gonçalves Pereira.
O Primaz atribuiu essa notável e decisiva vitória à intervenção de Santa Cruz de quem era devoto e que seu filho, Prior do Crato, levava arvorada em estandarte, conduzindo as hostes: Neste sinal da Vera Cruz… vencereis seus inimigos (Ruy de Pina, Chronica d´El-Rei Dom Affonso IV. Ed. Biblion Lisboa. 1936,168).
O resultado foi a erecção em Braga de uma ermida comemorando o feito e assinalando essa devoção. Curioso é notar que Afonso XI atribuiria a vitória, por sua vez, à Senhora de Guadalupe. Por idêntico motivo, fundou, nas imediações, um Santuário (sobre uma ermida anterior) que, pelo andar dos tempos, se transformaria num grande e aparatoso complexo e se volveria num importante centro de peregrinação em toda a Andaluzia e em toda a Espanha. Duas iniciativas devocionais que, no caso português, mais verosímil torna esta primitiva fundação de D. Gonçalo Pereira. A Ermida, desde aí, foi reunindo devoções e atraindo devotos, nesta primeira fase, essencialmente da Cidade de Braga. Pelos anos de 1373 se impunha a uma Irmandade sediada em Braga, (que também tinha essa devoção), que os seus irmãos « fossem de Braga à ermida de Santa Cruz pelo dia de S. João, do mês de Maio, de cada ano, pelo exaltamento da Santa Vera Cruz de Cristo”. Essa vetusta ermida seria substituída por uma outra de traça “moderna” – gótico final, ou manuelina ou renascentista – como era já a moda do tempo – atendendo, até, à importância e ao enorme património económico da personalidade a quem se atribuem essas obras (pelos anos de 1493-98) – D. Jorge da Costa. Mais que restauro, ter-se-á tratado de uma nova fundação em torno do mesmo devocionário – a Santa Cruz. Durante muito tempo, essa data seria tomada como a data da fundação do Bom Jesus do Monte. Por cerca de 1525, essa construção já oferecia ruína. O Deão D. João da Guarda, ao tempo em que D. Diogo de Sousa refundava e modernizava a cidade de Braga, com vários edifícios ao estilo Manuelino e da Renascença, reconstruiu ou, mais verosimilmente, edificou nova capela que alguns definem como “construção em grande”. Com peripécias várias, seria essa construção a que alimentou as devoções e os interesses de alguns particulares até 1629, altura em que se criou a Irmandade ou Confraria de Bom Jesus do Monte, que desde aí, também com peripécias e acidentes vários, tem regido, até à actualidade, os destinos devocionais e artísticos do Complexo do Bom Jesus do Monte. Surgia, a partir daqui,uma nova feição monumental a cujos traços gerais obedeceu a posterior intervenção de D. Rodrigo de Moura Teles, documentando, até ao tempo da intervenção deste Arcebispo, os primeiros passos do maneirismo e do barroco nortenhos. O complexo monumental, de feição barroca setecentista, com as capelas dos Passos da Paixão (que já existiam antes, mas foram refundadas ou construídas de novo, com o escadório monumental e suas fontes e um Templo (vulgarmente descrito como Capela) que rematava esse complexo e que ocupava, como dissemos, o imediato patamar abaixo do actual templo, são obra daquele grande Arcebispo – D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) – a quem Braga, nesses aspectos, muito deve. Intervenções essas, que aqui se materializam a partir de 1722.

Os tempos posteriores são de prosperidade devocional e monumental. O Bom Jesus do Monte transforma-se no grande santuário de romagem não só de Entre-Douro-e-Minho como do conjunto do Reino. Aí acorrem devotos de todas as Províncias, desde o Minho à linha do Tejo. Melhor: “do reino todo”, com devoções que se estendiam ao Brasil e outras possessões ultramarinas (Fernando Castiço: 97; 111;115). E as famosas romarias são agora (não o foram antes?) um misto de devoção religiosa e de folguedo laico e profano a que os tempos da festa (como foram essencialmente os do Século XVIII), e a beleza do lugar tanto convidavam, paralelos a um profanismo e laicismo que foi acompanhando o bem-estar geral que se sentiu por quase todo este Século XVIII, (tenham dito ou continuem dizendo, outros, o contrário) e que tiveram nas grandes romarias e centros de romagem a expressão mais completa e, por vezes, mais heterodoxa em termos de devoto procedimento.
Paga a promessa – e no tempo mais breve possível, (várias Memorias dos Párocos – c. 1750-1758, vide Dicionário Geográfico do P. Luís Cardoso, desta altura, são liminares a este propósito), ficava, então, o resto e o grosso do tempo para o lazer e para diversão, que era essencialmente o que cada vez mais por esses centros se procurava. E poderíamos voltar, novamente, aos testemunhos de muitos párocos das Memórias Paroquiais. Entre outros, veja-se o testemunho do pároco de Tenões acerca do que, a meados do Século XVIII, já se passava com o Bom Jesus: “Agora, neste tempo do verão, quazi todo os dias vem furias de gente à ditta romagem (ao templo do Bom Jesus do Monte). E nesta sahida de Braga muitos gastam a sua sustancia: huns com a varriga outros por pecados offendendo a Deos e servindo-lhe o mesmo Senhor de escudo para o virem offender. Infim, hé hum sítio para onde corre tudo: o bô e o mao” (Em Memórias Paroquiais. Distrito de Braga. Ed. Viriato Capela. Braga, 2003, 207). Cumpria-se, desde há bastante tempo, o aviso de Aristóteles corroborado por S. Paulo (outro grego, aliás): o que mais rege o Homem é o animal e não o espiritual, isto é, mais o corpo que a alma! Pelo menos, um quinhão bem repartido! As acomodações tornaram-se exíguas e, por sua vez, a Capela ou Santuário que rematava o escadório começou a ameaçar ruína. Eram chegados os tempos das últimas grandes intervenções artísticase arquitectónicas que deram ao Santuário a feição que hoje conhecemos. Correu paralelas com outra época de esplendor arquitectónico que a cidade de Braga conheceu, com o último Arcebispo régio – D. Gaspar de Bragança (1758-1789). Coincidia também com o apogeu económico do próprio Santuário ou Confraria. Vários artistas de renome para este Santuário: engenheiros, arquitectos como carpinteiros e imaginários e pintores, como Mestres pedreiros de notável perícia, conhecimento, e qualidade que os equiparava a verdadeiros engenheiros e arquitectos diplomados, alguns dos quais tiveram, por anos, a responsabilidade directa de várias obras. (É por estes anos que se regista a presença de outro grande nome do barroco nortenho, André Soares, cuja presença aqui nos parece ter sido mais alargada e mais precoce do que o que se tem dito e afirmado. Logo veremos). Um período de prosperidade para o Santuário. Na verdade, visitando por estes tempos a cidade, o Marquês de Bombelles, desde 1786 embaixador da Corte de França, anota que bastariam as esmolas deste Santuário para se abrir a estrada de Lisboa ao Porto, (que se começava e logo se sufocava nos descaminhos e nas dificuldades financeiras).
Ameaçando ruína a “Capela” Setecentista do tempo de D. Rodrigo, exíguos os espaços de culto e acomodações, encomendou-se um novo Templo. Seria construído no patamar superior ao que ocupava o anterior, do tempo de Moura Teles. Foi seu autor o engenheiro Carlos Amarante, que já na cidade exercia importantes cargos em obras e por incumbência do Arcebispo e da edilidade e que na mesma deixaria outras obras notáveis (v. g. o actual Hospital de S. Marcos, como também na Cidade do Porto. Por simples curiosidade, aqui lateral, se diga que o primeiro projecto de uma ponte, de um só arco, para o Douro, a si se deve). Começaram as obras em 1784 tendo-se concluído em Setembro de 1811.
É este acontecimento que serve de pretexto para a realização do referido Congresso,
mas também de efeméride comemorativa dos 200 anos da conclusão arquitectónica do actual Templo. Embora vários exemplares da obra deste arquitecto estejam muito ligados ainda ao barroco terminal, podemos dizer que, com o Novo Templo do Bom Jesus do Monte, na traça arquitectónica, como na decoração dos interiores (que quase na totalidade se lhe devem, também, se remata em Braga, e em geral, o Ciclo do Barroco, abrindo-se decisivamente o caminho ao neo-clacissismo, estabelecendo, em simultâneo, um corte e um remate da formulária barroca que continuou (e continua) presente no Escadório, nas Fontes e nas Capelas dos Passos e outras que, entretanto, compuseram todo o conjunto.
Uma obra simbolicamente emblemática: um novo edifício de traça neo-clássica, rematando, coroando e, de certo modo, fechando, todo um conjunto barroco, rematando toda uma época. O Congresso que se irá realizar entre 20 e 22 de Outubro, focará e tratará vários aspectos da arte do barroco em que o Bom Jesus se insere, do primeiro ao último momento, como ainda outros aspectos importantes que têm a ver com o substrato económico que suportou e garantiu estas realizações artísticas, com a sociedade que as encomendou, as apreciou e delas usufruiu, como dos sentimentos e representações anímicas, culturais sentimentais e religiosas (da música à literatura) que enlaçam a produção Barroca e a Sociedade do Barroco.