quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A FESTA DO BARROCO EM CONGRESSO DE SUCESSO

Artigo do jornal Correio do Minho de 08-11-2011.

Costuma-se dizer que o Barroco é festa e que esta é uma das suas expressões, explorando até ao limite a teatralização com os seus actores, espectadores, cenários, grandes movimentos e palcos. Deste modo, a Via-Crucis do Bom Jesus do Monte é a encenação da paixão, duma Igreja Triunfante e não duma Igreja Militante, típica da contra-reforma.CM, 2011-11-08
O Bom Jesus do Monte foi palco de um acontecimento que honra a Real Confraria do Bom Jesus do Monte, organizadora do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco. Como o Barroco é festa e encantamento, também o diríamos deste congresso.
Segundo os Estatutos, a Confraria do Bom Jesus do Monte deveria assinalar festivamente a passagem da erecção, conclusão e dedicação do templo. Neste enquadramento, a Mesa Administrativa, no âmbito do duo-centenário do lançamento da última pedra do templo promoveu, como momento alto e histórico destas comemorações, um encontro científico que teve lugar nos dias 20, 21 e 22 do mês corrente. Reuniu cerca de 400 participantes, cinquenta comunicações (25 brasileiras e outras tantas portuguesas), num debate relevante para o Barroco, nas áreas da economia, sociedade, alegorias e arquitectura, sentimentos e representações, com um programa que permitiu o aprofundamento de um fenómeno artístico que enriqueceu Portugal.
A Confraria do Bom Jesus do Monte empreendeu uma corrida longa, teve de retorcer algumas âncoras de ferro, polir algum granito bruto, mas chegou à meta, com a constância do propósito, oferecendo organização, monumentalidade e competência. De início foi o sonho, depois juntamos paciência, ousadia, confiança, risco, partilha e eis a receita do sucesso do Congresso. Mede-se, também, o sucesso pelo modo como soubemos superar alguns obstáculos. Penso que cumprimos as nossas tarefas, buscando o melhor dos outros e dando o melhor de nós próprios. Contribuímos para o avanço no estudo do Barroco e o livro com a reprodução de todas as comunicações e conferências certificará esse contributo científico e metodológico.
Também houve oportunidade para os mensageiros de dois povos irmãos se envolverem e desenharem pontes, plataformas e novos projectos de futuro, nesta Capital do Barroco. Ouvi de muitos congressistas a necessidade de repetir este encontro científico. Queira a providência e o homem dar corpo à continuidade da iniciativa.
As reacções são o melhor teste ao sucesso da iniciativa, em todas as vertentes, nomeadamente, a científica e social. O sucesso foi a consequência de um trabalho de vários meses, da conjugação de esforços de muitas pessoas e entidades, que neste artigo prestamos o nosso elevado reconhecimento: ao Quadrilátero Urbano pelo apoio financeiro e organizativo, nas pessoas do Presidente Executivo Dr. António Magalhães e do Secretário Executivo Eng. Alberto Peixoto; ao Presidente da Comissão Científica do Congresso Doutor Aurélio Oliveira; à TUREL-Turismo Cultural e Religioso, na pessoa do Director Técnico Dr. Varico Pereira; ao Centro de Formação de Professores Braga Sul, na pessoa da Dra. Ana Paula Vilela, pela sua ajuda determinante para o sucesso do Congresso; ao Conservatório de Musica Calouste Gulbenkian, na pessoa da Prof. Ana Caldeira pela alta colaboração no programa cultural do Congresso; à Esprominho, Escola Profissional do Minho, seus Directores, Professores e Alunos, pelo apoio profissional na organização do Congresso; à Divisão do Turismo da Câmara Municipal de Braga, na pessoa da Dra. Filomena Alves, pela sua colaboração na organização do Sarau Barroco; à WeLink-Comunicação e Multimedia, na pessoa da Dra. Elisabete Rocha, no apoio à organização da Mostra de Artes; a todos os Expositores presentes na Mostra de Artes; à Modalfa, cadeia têxtil do grupo Sonae, responsável pelas roupas dos assistentes durante o Congresso; à Porto Editora pelas pastas disponibilizadas para os Congressistas; aos Hotéis do Bom Jesus pelo apoio logístico durante o Congresso; à Carclasse, na pessoa do seu administrador Dr. Hernâni, pelo apoio aos transferes dos conferencistas Brasileiros; por último, mas não menos importante, aos meios de Comunicação Social, em especial à imprensa diária de Braga, pela divulgação e cobertura do evento, primeiro dos factores de sucesso.
O congresso, como festa e expressão da mentalidade barroca, invadiu os jardins, os terreiros, as escadarias do Bom Jesus. Sendo o homem do barroco um ser angustiado, melancólico, vivendo num mundo de guerras, fomes e violências, a humanidade teve necessidade de encontrar manifestações, lenitivos como contraponto dos penosos dias de trabalho. Parafraseando o livro Festim dos Sentidos, este congresso assemelha-se a uma viagem pelo Barroco, de matriz cristã, que « eleva a alma, num cenário festivo, exuberante e triunfante, num chamamento à ascencionalidade, ao caminho para o céu num roteiro que incorpora o fascínio do Barroco».
Termino com algumas ideias recolhidas numa conferência proferida por D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga, no dia 23 do corrente, para assinalar o termo do congresso: para além do santuário pessoal que nos acompanha, há um outro Santuário, espaço sagrado, lugar, templo (a Casa do Pai), não só de pedra mas de intimidade, que proporciona o encontro de cada um de nós com o Bom Jesus, esperando que, através dos sentidos, captemos a voz e o verbo de Deus, sem perversão e sem restrições, fazendo votos que este Santuário seja a Casa da Peregrinação dos povos de todas as nações.