terça-feira, 20 de setembro de 2011

TEMPLO DO BOM JESUS FAZ 200 ANOS

Artigo publicado no Correio do Minho de 20 de Setembro de 2011

Comemora-se, hoje, 200 anos sobre a colocação da última pedra no Templo do Bom Jesus do Monte.
O culto, neste centro de peregrinação passiológica, passou por outras ermidas e templos de menor dimensão que o compasso do tempo se encarregou de demolir, restando algumas pedras que o nevoeiro não chegou a dissipar. Recordamos a pequena ermida solitária e singela, com a invocação de Santa Cruz, fundada por D. Jorge da Costa II. É nossa opinião que esta ermida, de reduzidas digitalizar0001dimensões, se arruinou dada a sua vulnerabilidade, singeleza, abandono e acção destruidora hibernal. Três décadas depois, em 1522, o deão bracarense D. João da Guarda, em virtude da anterior ermida já não comportar os devotos, mandou reedificá-la e ampliá-la a expensas suas onde hoje é um patamar do Escadório das Virtudes, no estilo gótico, mas já com elementos da renascença.
Os primeiros confrades da irmandade, criada em 1629, encontraram nesta colina sagrada onde se pratica o culto ancestral da Santa Cruz, uma ermida em estado lastimável, ao desamparo, altamente vulnerável aos rigores do tempo e condenada ao desmoronamento. Impressionados com aquele quadro desolador procederam, de seguida, à sua reedificação, embelezamento e decoração.
Mas deve-se a D. Rodrigo de Moura Teles a edificação do primeiro templo, inteiramente novo, de forma elíptica, no Terreiro de Moisés. Encabeçou a direcção das obras, iniciadas em 1722 e concluídas em 1725, sob o risco do arquitecto, o Coronel de Engenharia de Viana do Castelo Manuel Pinto Vilalobos. O Vigário Antunes Barromão, da freguesia de Tenões, descreve, pormenorizadamente, a Igreja de D. Rodrigo de Moura Teles, nas Memórias Paroquiais de 1758. Devido à rapidez na construção, ao terramoto de 1755 e à cruel invernia de 1780, o templo de D. Rodrigo de Moura Teles apresentava-se muito abalado e cortado de fendas, pois apresentava uma solução arquitectónica original mas de duvidosa segurança técnica.
Nasceu, assim, a ideia da construção de um novo templo. A construção do actual templo do Bom Jesus não foi pacífica no interior da confraria. A mesa encontrava-se dividida entre os defensores da reconstrução do templo e os proponentes da construção de um novo, entre estes o Juiz Presidente Cónego António Xavier Rebelo. Alguns dos seus membros, discordavam das suas dimensões e grandiosidade e apoiavam-se na tese de conservar o templo construído por D. Rodrigo de Moura Teles, tentando anular a deliberação da construção do novo templo, pelo que D. Gaspar de Bragança se viu na necessidade de intervir, alterando os estatutos. Também na cidade se manifestavam e digladiavam as duas tendências, exigindo uma Assembleia da Junta de Irmãos para anular aquela decisão.
No entanto, a maioria dos fazedores de opinião e a ideia geral era seguir em frente com um templo totalmente novo de raiz.
Em 22 de Junho de 1781 foram apresentados os desenhos (riscos) para a nova igreja da estância, mandados elaborar pelo Sr. Arcebispo D. Gaspar de Bragança e explicados pelo seu autor Carlos Amarante tendo merecido aprovação régia em 24 de Outubro de 1781.
A nova mesa da confraria, nomeada em Maio de 1784, à margem dos estatutos, decidiu que a 1 de Junho, última oitava do Espírito Santo, se lançasse a primeira pedra convidando para essa cerimónia o Provisor Pedro Paulo de Barros Pereira. Este acto foi motivo para grandes festas, ornamentações, flâmulas, galhardetes e repiques de sinos.
Entre a colocação da primeira e da última pedra passaram 27 anos. Neste espaço de tempo dois homens contribuíram para a sua erecção, D. Gaspar de Bragança e Pedro José da Silva. O primeiro como motor da iniciativa, o segundo como principal financiador da conclusão do santuário. Seria este aspecto, de grande benemerência, que motivou o convite a Pedro José da Silva para colocar a última pedra do grandioso templo em 20 de Setembro de 1811. Não significa este acontecimento que as obras tenham sido dadas por concluídas, sobretudo no seu interior. Depois desta cerimónia ocorreram muitas outras obras, como a colocação dos sinos, a colocação da grade de madeira para protecção dos altares do corpo da Igreja, o acabamento da Capela das Relíquias e respectiva tribuna, as sanefas para as Capelas das Relíquias e do Santíssimo Sacramento, a abertura das quatro tribunas da Capela Mor de acordo com o desenho de Carlos Amarante, a imaginária do monte da Capela Mor (as três Marias e os soldados) e a escada de acesso ao pátio principal da Igreja. Entretanto, a Dedicação e Consagração da Igreja só aconteceria em 10 de Agosto de 1857.
É o momento oportuno para renovar a fé à semelhança dos nossos antepassados. Na impossibilidade de se deslocarem à Terra Santa, os peregrinos encontravam nesta estância uma verdadeira imitação da via dolorosa de Cristo. Além de Sacro-Monte, de hino de louvor à natureza, façamos deste milagre da natureza um verdadeiro destino turístico por excelência.