terça-feira, 27 de setembro de 2011

PEDRO JOSÉ DA SILVA GRANDE BENFEITOR DO TEMPLO DO BOM JESUS

Artigo publicado no Correio do Minho de 27 de Setembro de 2011

Escrevemos, neste jornal, no passado dia 20, um artigo sobre o bicentenário da colocação da última pedra no templo do Bom Jesus do Monte pelo Grande Benfeitor Pedro José da Silva.
Vários motivos estiveram na base da construção deste novo santuário: o templo demolido de D. Rodrigo de Moura Teles prometia pouca duração pois encontrava-se em ruína; não cabiam todos os romeiros que acorriam ao santuário, como aconteceu no jubileu; o povo, a partir do templo, não desfrutava das melhores vistas; é incómodo e não oferecia as melhores Foto 2condições para os peregrinos; também porque, sendo pequeno, não apresentava um equilíbrio com a parte monumental envolvente, concretamente, o escadório e a estatuária.
Para erigir este novo templo foram fundamentais os peditórios para a obtenção de meios em todo o continente e colónias; as autorizações e provisões régias; as licenças de D. Gaspar para os lavradores, oficiais e jornaleiros poderem trabalhar aos Domingos e Dias Santos, com dispensa das censuras eclesiásticas; a autorização de corridas de touros pelo Senado Bracarense; a acção e apoio económico de D. Gaspar de Bragança; os donativos dos benfeitores que suportaram economicamente as obras do templo, em especial, os comerciantes de Lisboa, Porto, Braga e Brasil.
Foi construído, em parte, no pontificado do Arcebispo-Príncipe D. Gaspar de Bragança. Com a morte do Arcebispo D. Gaspar e do Juiz Presidente da Confraria Pedro Borges Pacheco Pereira os ânimos esmoreceram, o entusiasmo inicial mostrou quebras e os meios escassearam. Foi, então, que a construção do novo templo ganha novo fôlego, sobretudo, com os avultados donativos de Pedro José da Silva que permitiram a conclusão do templo. As maiores dádivas saíram da mão poderosa e magnânima deste opulento comerciante da praça de Lisboa, que transaccionava directamente com a Índia e com navios próprios.
Se Carlos Amarante concebeu, Pedro José da Silva deu-lhe corpo.
Pedro José da Silva nasceu em S. Jerónimo de Real, a 12 de Novembro de 1758 e faleceu a 17 de Março de 1834. No fim da vida, trocou o bulício de Lisboa pelo sossego da sua aldeia, onde morreu solteiro e jaz na Igreja de S. Frutuoso.
Pagou durante muitos anos a 14 operários (pedreiros) que trabalhavam diariamente no santuário. Sendo muito dispendioso o projecto de Carlos Amarante para o retábulo da capela-mor, ofereceu-se para pagar metade da sua importância. Oferece avultadas quantias para o novo retábulo, para pagamento dos oficiais, artistas e operários das obras. Chegaram a trabalhar no templo 30 operários cujos ordenados corriam à sua conta. Deu, ainda, por várias vezes, esmolas avultadas, imagens, figuras, jóias de oiro e prata, alfaias de damasco e veludo, e legou, também, uma quantia importante ao santuário. São, também, dádiva sua as dez figuras que estão no Calvário, por detrás do altar-mor.
É um dos primeiros trinta negociantes, eram 234 na totalidade, que se apressaram a pagar a Junot o empréstimo decretado em 3 de Dezembro de 1807. Esta pressa tem a ver com possíveis represálias no caso do não cumprimento das ordens do general napoleónico, ou a incontidas simpatias.
Em 22 de Novembro de 1811, o grande benfeitor Pedro José da Silva oferece seis sinos para as torres, bem como duas telas, uma dedicada aos lavradores que concorreram, gratuitamente, com os seus carretos, outra com o retrato do Marquês de Marialva.
Em 5 de Julho de 1813, Pedro José da Silva solicita que se fizessem preces até à chegada da Índia do seu navio Santa Cruz. Pela chegada do respectivo navio, a Real Confraria do Bom Jesus determinou, em 19 de Julho de 1813, que se cantasse o Te Deum Laudamus em acção de Graças.
Pedro José da Silva obtivera da Coroa a substituição da Mesa da Confraria do Bom Jesus por outra de sua confiança, sob a presidência de D. Pedro de Meneses, Marquês de Marialva, também seu amigo pessoal, como se sabe da biografia de Sequeira e do episódio da prisão por jacobinismo.
Em 3 de Dezembro de 1814, foi apresentada uma carta do benfeitor Pedro José da Silva em que fazia a oferta do pagamento ao escultor João Monteiro da Rocha dos oito soldados por trinta mil reis em metal e dois ladrões a trinta e dois mil reis.
Tendo em conta a generosidade de Pedro José da Silva, a confraria decide colocar uma lápide comemorativa dos 100 anos do seu falecimento, em 1933, e em reunião de 17 de Março de 1934, decide comemorar o centenário da sua morte.