segunda-feira, 26 de março de 2012

ALOCUÇÃO PROFERIDA NAS COMEMORAÇÕES DOS 130 ANOS DO ELEVADOR DO BOM JESUS

 

Comemora-se, hoje, 130 anos sobre a inauguDSC06126ração do Elevador do Bom Jesus de Braga, concebido e projetado pelo empresário Manuel Joaquim Gomes e implantado sobre os flancos da pitoresca montanha da maior estância turística de Braga, onde os passos dolorosos da paixão estão ordenados no poema do sacrifício de Cristo.
Foi em 25 de Março de 1882, pela manhã, sob a presidência do Dr. João de Paiva de Faria Brandão, Presidente da CBJM, das autoridades, funcionários da estância, muito povo e convidados que se procedeu à bênção da via, das locomotivas, numa palavra, do Ascensor do BJM. Dirigiram-se, em seguida, ao Templo, onde se entoou um solene Te Deum, em ação de graças ao Altíssimo, pelo bom êxito de tão importante obra e melhoramento.
Pretende-se com esta comemoração homenagear duas personalidades, dois protagonistas que foram determinantes na construção de um meio de deslocação providencial para curtos e íngremes percursos, que conduziu ao investimento na estância do Bom Jesus do Monte, o que aumentou o fluxo de peregrinos e a transformou num centro de atração turística.
Estamos aqui, nesta romagem, para prestar uma reconhecida homenagem, a Manuel Joaquim Gomes fundador do Ascensor e ao Dr. António Brandão Pereira, mesário da CBJM, vedor do parque e das obras e que produziu relatórios defendendo a construção do elevador e dando conta da importância excecional do ascensor para o futuro da estância, ou seja, dois amigos que se apoiavam mutuamente e que contribuíram para que Braga tivesse a honra de ter o primeiro ascensor construído na Península Ibérica, atualmente, o mais antigo do mundo em serviço, no que concerne ao funcionamento por contrapeso de água. Ambos souberam, no século XIX, compreender, em Braga, o que era o verdadeiro progresso, empregando a sua inteligência na criação de empresas ou no serviço à comunidade. Ambos foram solidários, renunciando a vencimentos a que tinham direito, MJG na Companhia de Carris de Braga, ABP no CSC. Ambos alimentaram ou foram objeto de polémicas e intrigas nos principais jornais do último quartel do século XIX.
Manuel Joaquim Gomes nasceu para a ação, de paquete na área comercial passou a comandante na área empresarial. Distinguiu-se, fundamentalmente, como um grande empresário, no ramo dos tecidos, da panificação, da hotelaria e dos transportes. Distinguiu-se, também, como Secretário e Presidente da Associação Comercial de Braga, na vereação municipal e na defesa de causas e movimentos, concretamente, a Janeirinha e a questão da «integridade do distrito».
MJG avançou sem medo para esta grandiosa obra de engenharia, apesar dos riscos, dando voz aos «ecos do mundo», em rutura com os processos tradicionais. Se recuarmos à época e ao seu contexto, os adjetivos não serão suficientes para descrever com justiça e para avaliar a enormidade do seu projeto e a vastidão do seu horizonte.
António Brandão Pereira como responsável pelas obras e pelo parque na Comissão Administrativa da CBJM, realizou grandes melhoramentos, como a construção do lago, as grutas artificiais, as alamedas, o coreto, o ordenamento e a arborização do parque. Foi a única voz que, publicamente, se levantou dentro da própria Mesa e na Imprensa a favor da construção do Elevador do Bom Jesus.
Foi o primeiro Provedor do Colégio de S. Caetano, exercendo o cargo durante 11 anos. Era possuidor de um carácter austero, de coração magnânimo, elevada inteligência, honrado e católico convicto.
Exerceu um papel primordial na remodelação do CSC e, principalmente, na construção da bela Capela do Colégio, toda ela em granito, com uma grande rosácea monumental ao centro, decorada com um vitral trabalhado e, nas extremidades, dois torreões graciosos, coroados de cúpulas. Era a sua menina dos olhos, pois a delineou, iniciou e acompanhou os andamentos do seu leito de dor. Só não assistiu à sua inauguração, que aconteceu logo após a sua morte.
Durante mais de uma década trabalhou com o Santo Padre Cruz. O Dr. António Brandão Pereira como provedor e o santo Padre Cruz como Director Interno. Ambos deixaram as funções por doença. Ambos insistiram junto do prelado bracarense, para que os Salesianos viessem para Portugal. Foram bem sucedidos e, desta forma, o CSC viria a ser a primeira escola salesiana em Portugal. Após o seu falecimento, a Banda de Música do CSC quando passava à porta da casa onde tinha vivido, executava alguns acordes da marcha fúnebre de Chopin, em sinal de homenagem.
Todos os elevadores têm a sua história, por vezes atribulada, cheia de insólitas peripécias, com abundantes e graciosos pormenores. Também estes ingredientes não escasseiam no Ascensor do Bom Jesus, notável património afetivo, cheio de simbolismo, de história e de tradição, que muito honra a cultura, a cidade de Braga, a região e o país, pois influenciou, decisivamente, os elevadores «históricos» que vieram a construir-se na Cidade das Sete Colinas.
Em nome da CBJM quero agradecer, em especial, a presença dos familiares do Sr. Manuel Joaquim Gomes e do Dr. António Brandão Pereira, descendentes de duas proeminentes figuras do século XIX, das suas obras, do património que nos deixaram. Encontramo-nos numa espécie de momento epifánico, onde conjugamos todos os tempos, o passado criador, o presente e o futuro continuador. Compete-nos, agora, reconhecer o papel desses antepassados e assumir a salvaguarda e promoção de valores que pertencem ao nosso património coletivo e de lembranças que constituem a nossa memória, a vida e a cultura. Compete-nos preservar esse passado projetando-o no sentido do reconhecimento mundial.