Desgraçado do velhinho Que ninguém dele tem dó! Ninguém lhe dá o cavaquinho! Coitado! Deixam-no só! Se fala no parlamento, É como a voz no deserto… Infligem-lhe esse tormento, Ninguém o ouve! Isto é certo! E se lhe escutam, acaso, Da eloquência o torresmo, É só para o porem raso, Com insultos mil, a esmo… Outro dia, se o toutiço, Do ouvido não me enferma, Alguém lhe disse «ora isso! Cala a boca, seu palerma!»
Deixa-se o triste cair No sofá desanimado… E todos se põem a rir Dum dito tão desalmado!
Não perde, porém, o alento! D’ousadia num requinte, A falar, no parlamento, Volta no dia seguinte.
Leva um discurso estudado Contra o Cunha Desleal Onde há o tropo inflamado, Que declama menos mal. | Mas, oh céus! O Senhor Cunha Nem importância lhe dá! E os outros gritam: «Á unha! Salta velhinho p’ra cá!»
A todos numa berrata Num clamor que sempre engrossa: - Vai, já, já, meu patarata Prantar couves p’ra Caroça!
- Abandonado de todos, Ai! Que sorte Deus me deu! Fartos desgostos a rodos… É um inferno o viver meu!...
Como a Ofélia, contristada E cheia de desalento, Vou-me passar à privada No mais escuro convento…
E, quando alguém se lembrar Do que fui, do que sou eu, Há-de dizer, a chorar; - Pobre Velhino! Morreu!...
Tem razão, o infeliz! Tudo lhe salta na pele E tudo dele mal diz… Como eu tenho pena dele!!!
Mas chorar?...É-me vedado Aceder ao seu desejo! Eu não fui contemplado! Se o fosse… isso era queijo! Zezão |