quarta-feira, 29 de abril de 2009

Política em Verso (17) - Zezão - 20-12-1923.

Por ter sido agraciado
«benemérito da Pátria»
Um sargento, o Gilman,
Vem daí todo escamado
O órgão da talassada
O «Correio da Manhã».

E lá desfia o rosário
Dos crimes que, na outubrada,
O figurão cometeu,
P’ra tirar o corolário:
- Agraciar tal patife
É crime que brada ao céu!...

E tem razão, sim, senhor,
O jornal supracitado
P’ra deixar explodir
A indignação e o horror!
Porque, aqui para nós, baixinho,
O caso não é de rir…

Na arenga, porém, que bota,
Há uma frase sibilina
E que não sei decifrar,
De que logo tomei nota
E em que, de dia e de noute,
Tenho andado a magicar…

Quando ele viu no chão
O saudoso coronel
Botelho de Vasconcelos,
O tal sargento Gilman
Proferiu certas palavras
D’arripiar os cabelos…

Com a pistola aperrada,
Fazendo o tiro partir,
Sem demonstrações de medo,
Gritou com voz alterada:
- «Até que, enfim, sempre pude
Fazer o gosto ao meu dedo».
Franquezinha, franquezinha,
O que ele dizer queria
Por sabê-lo inda estou eu…
Puxa tu, leitor, pela pinha…
Que gosto deu ele ao dedo?
Onde foi que ele o meteu?

Eu já vi um maçaneta
Por sinal espigadote,
Às escondidas e a medo,
Come quem toca corneta,
Matar saudades da chucha,
Metendo na boca o dedo…

E dizia que era o gosto
Maior que ele experimentava
Desde que a mãe lhe morreu!
Mas, também, agora, aposto
Em como não foi na boca
Que o tal sargento o meteu!

É que, desde o claro dia
Em que a República entrou
No nosso pobre país
É tal a patifaria,
Que é tudo sempre ao contrário
O que se faz e se diz!

Não foi, portanto, na boca
Que gosto deu ao seu dedo
O sargento vil e cru…
Mas a mim é que não toca
Dizer onde ele o meteu…
Anda leitor! Dize tu…

Leitor, não dês trato à bola!
… Foi no … cano da pistola!...