sábado, 13 de junho de 2009

Política em Verso (21) - Zezão - 24-01-1924.

Perguntou-me o Director
da nossa «Acção Social»
O motivo ou a razão
Ou seja lá o que for
Do meu silêncio: – Então
Que tem você, seu Zezão!...

Por vergonha não lhe disse
O que cá dentro sentia
E procurei-lhe ocultar
A minha grande perrice,
E um sorrisinho alvar
Que me fica a matar!

Mas a ti, leitor amigo,
Se me prometes segredo,
Vou- te abrir o coração
E tu vais chamar um figo
A bela da explicação,
Do silêncio do Zezão!

Se na semana passada
Nada escrevi para o jornal
Foi por estar constantemente
À espera da consoada
Do meu leitor, afinal,
Deu em droga, deu em nada.
Ao ouvir bater a porta,
P’ra lá deitava a correr,
Mas por mal dos meus pecados,
Ficava co’a cara torta,
Pois sempre via aparecer
Alguns credores irritados.

Sempre à espera – que arrelia!
Sem noutra cousa pensar,
Desde manhã muito cedo,
Té à noute, todo o dia…
E ficar sempre a chuchar…
Ficar a chuchar no dedo.

Desespero torturante!
Co’a alma assim tão atada,
Como podia eu ‘screver?
Nem no inferno de Dante
Se vê lá explicada
Pena assim , um tal sofrer!

No meio disto, porém,
Sempre um conforto encontrei
P’ras minhas penas dobradas,
Pois além de beber bem
E com gana me atirei
Às belas das rabanadas!

E aos mexidos e às filhós
E ao polvo e à batatada
E aos trouchos tão tenrinhos…
Ai filhós! Aqui p’ra nós,
Fiquei co’a barriga inchada
E na cebça… uns grilinhos

Zezão