quarta-feira, 16 de março de 2011

O MEU DISCURSO NA ENTREGA DO PRÉMIO CARREIRA

Ex.ma Sr.ª Ministra da Educação, Dr.ª Isabel Alçada
Ex.mo Sr. Presidente do Júri do Prémio Nacional de Professores, Eng. Roberto Carneiro
Ex. mo Júri
Ex.mos Srs. Directores Regionais de Educação
Ex.mos Convidados
Minhas Senhoras e meus senhores

Este Prémio Nacional de Professores, de promoção do mérito, do esforço e da excelência dos docentes, centrado em vários domínios, concretamente, na promoção do sucesso dos alunos, na qualidade das aprendizagens, na difusão de boas práticas de ensino, na interacção com a comunidade educativa, na melhoria do funcionamento e organização da escola, é um modelo de valorização e uma oportunidade para toda a classe docente, por isso, a meu ver, deve ser acarinhado e prosseguido.
Os Prémios centram-se em resultados conseguidos, são o culminar de um desafio bem sucedido, são o reconhecimento público da qualidade das decisões, do planeamento estratégico, da distinção e divulgação de casos de sucesso, devem, por isso, reflectir e espelhar uma atitude, repartida em três pontos: chegar mais longe, fazer diferente e com mais qualidade.
O Prémio Nacional de Professores tem como objectivo reconhecer e valorizar publicamente o mérito. Mas, como sabemos, o mérito não é uma capacidade inata, mas um conjunto de disposições ou talentos que se desenvolveram em ambiente propício, com muito trabalho, dedicação, empenho, entrega e cooperação.
Permitam-me endereçar este prémio carreira aos meus alunos que souberam entender que o educador projecta a sua personalidade no estilo de educação que aplica. No meu espírito sempre prevaleceu o estilo compreensivo (valores e regras sim, mas transmitidos com compreensão), afectivo, exigente, respeitador da identidade e do crescimento do aluno, ajudando a adaptar-se à realidade e a descobrir um mundo melhor, estimulando a criatividade, a cooperação, a tolerância e os novos recursos. Tive sempre em consideração que o motor da aprendizagem é a motivação. O processo educativo não tem apenas um sentido. É uma díade interactiva. Os alunos são como os nossos filhos, o que queremos é que eles tenham êxito.
O professor não se deve limitar, então, a dar noções e informações, mas falar em relação à verdade, sobretudo àquela verdade que pode servir de orientação na vida.
O problema da educação é, sobretudo, uma preocupação pelo bem das pessoas que amamos, sobretudo das nossas crianças, adolescentes e jovens.
Permitam-me endereçar este prémio aos professores, sobretudo, aos meus pares, parceiros e colegas da escola e de profissão.
Queria partilhar este prémio carreira com todos os professores portugueses que, anonimamente, desenvolvem um trabalho maravilhoso e exemplar junto dos alunos e não encontram a oportunidade de serem reconhecidos.
Muitos professores mereceriam este prémio, pois diariamente dão o seu melhor, com sacrifício do tempo destinado à família, com o objectivo de formar jovens bem preparados para enfrentar os desafios actuais, numa perspectiva profissional e ética, jovens com mais conhecimentos e com mais cidadania. Neste domínio, destaco o meu trabalho junto da classe docente, sobretudo, como formador, orientador e coordenador.
Sempre gostei muito da minha profissão e daquilo que sempre fiz. Sempre senti que podia colaborar na construção de uma sociedade melhor, com homens mais justos, mais honestos, mais empreendedores e melhor formados. Porque a sociedade não é uma abstracção; no final somos nós próprios, todos juntos, mesmo sendo diversos os papéis e as responsabilidades de cada um.
Permitam-me endereçar este prémio à minha escola
a EB 2/3 Frei Caetano Brandão, ao Professor António Pereira, Director da CAP do Agrupamento de Escolas de Maximinos, ao Professor Virgílio Rego da Silva (Ex- Director da EB 2/3 Frei Caetano Brandão e autor do lançamento desta candidatura) e ao professor Fernando Braga (indigitado pelo Conselho Pedagógico para promover esta candidatura) e, através dela, a todas as escolas que criam condições aos alunos para terem «coragem de voar». Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos alunos. As escolas têm o dever de encorajar esse voo (Rubém Alves). A escola foi o meu terreno educativo. Exerci com a maior dedicação, exigência, disponibilidade e eficácia todos os cargos disponíveis: Presidente do Conselho Directivo, Coordenador de Departamento, Monitor de Práticas Pedagógicas, Orientador de Estágios Integrados, Orientador Pedagógico da Profissionalização em Exercício, Delegado de Disciplina, Director de Turma, elemento do Conselho Geral Transitório, Director da Revista Escolar.
Na escola realço, em particular, o meu papel na atribuição, divulgação e promoção do pensamento do patrono da escola. Além de propor o seu nome para patrono, divulguei o pensamento educacional de Frei Caetano Brandão sobretudo nas seguintes vertentes: como educador das classes mais desfavorecidas; na criação de escolas de primeiras letras, em época em que não havia escolas de ler, escrever e contar; no recrutamento de professores; na criação do ensino profissional; na educação da mulher numa base de igualdade; na promoção de feiras para exposição de produtos dos artífices e dos lavradores; no despojamento de bens do seu palácio para lavar, dar de comer e depois educar os meninos pobres, órfãos e expostos.
Nunca me fechei na escola, mas procurei abrir a minha acção ao meio envolvente. Nesse sentido é de referir: a publicação de vários livros; a publicação de largas dezenas de artigos em revistas e jornais; o papel de Consultor científico-pedagógico no Centro de Formação de Professores; o papel de Amigo Crítico do Programa «Qualidade XXI, no âmbito do Projecto Piloto Europeu Avaliação da Qualidade na Educação Escolar»; a autoria de várias conferências e comunicações; o papel de Curatorial Advisor, no Museu Virtual à Descoberta da Arte Barroca.
Permitam-me, também, por endereçar este prémio à minha família. Na sociedade todos desempenhamos vários papéis, entre eles o de pai e professor. Quantas vezes, foi difícil gerir o tempo profissional e o tempo dedicado à família. Como este equilíbrio pareceu sempre frágil! Se num dos pratos da “balança” colocarmos o tempo dedicado à escola, às causas colectivas e ao voluntariado e no outro o tempo com a família, este pareceu-me ficar sempre desfavorecido. Apesar deste desequilíbrio, obtive sempre a máxima compreensão e apoio.
Finalmente queria agradecer, de modo muito especial e com enorme ênfase e reconhecimento, ao Júri, presidido pelo Sr. Eng. Roberto Carneiro e à Sr.ª Ministra da Educação e ao seu Ministério pela atribuição do Prémio Carreira. Eu tive a oportunidade e a satisfação de ver um trabalho reconhecido. Mas também recebo este prémio com muita humildade. Nunca lutei por prémios. Este devo-o à minha escola que me candidatou em reconhecimento de um percurso meritório, reconhecido pela comunidade escolar e desenvolvido ao longo de várias décadas.
José Carlos Gonçalves Peixoto
14-03-2011