quarta-feira, 16 de março de 2011

PRÉMIO NACIONAL DE PROFESSRES

 Andreia Lobo | 2011-03-16

Maria do Carmo Leitão, Adelina Pereira e José Carlos Peixoto são os nomes dos professores distinguidos pelo Prémio de Mérito 2011, conferido pelo Ministério da Educação. Este ano, o galardão máximo, no valor de 25 mil euros, ficou por atribuir.

Usar o computador Magalhães na aula foi um dos maiores desafios da carreira de Maria do Carmo Leitão, galardoada com o Prémio de Mérito Inovação, atribuído pelo Ministério da Educação (ME). As novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) surgiram no final de uma carreira de 35 anos, como professora do 1.º ciclo. Mas isso não impediu a docente do Centro Escolar de Lamego de "arregaçar as mangas" e se deixar conquistar pela inovação.
Maria do Carmo Leitão recebe o prémio no ano em que, pela primeira vez, o júri não atribuiu a distinção máxima conferida pelo ME - o Prémio Nacional de Professores - alegando que nenhuma candidatura reunia as condições necessárias.
Durante 24 anos, deu aulas na telescola, no célebre Ensino Básico Mediatizado, um método inovador nas décadas de 70 e 80. Mas o uso desta tecnologia também não foi fácil: no alto de uma serra, Maria do Carmo Leitão encontrou uma escola sem eletricidade, sem acesso por estrada e onde a televisão dependia de um gerador sustentado a petróleo. Por isso, a chegada do computador Magalhães não a assustou.
Aos 55 anos, Maria do Carmo Leitão viu no desafio uma oportunidade para inovar a sua prática pedagógica. Empenhou-se, fez várias formações em regime de e-learning e hoje os alunos utilizam o Magalhães para fazer pequenos filmes, pesquisar na Internet e fazer trabalhos. A professora corrige trabalhos e sugere alterações por e-mail, e liga-se no Messenger para trocar ideias com as crianças a partir de suas casas.
"Preparar os alunos para a vida é dar-lhes método", diz a docente cuja metodologia de trabalho é elogiada pelos colegas. "Os alunos que aprendem pela via tradicional acabam muitas vezes por esquecer a matéria, enquanto os outros, passados três meses, lembram-se muito bem", explica Helena Gama, coordenadora do 1.º ciclo. "É um exemplo a seguir", diz Carlos Dinis de Almeida, diretor do Centro Escolar de Lamego.

"Gestão humanizada"

A inovação não foi a única vertente premiada pelo ME. Os Prémios de Mérito distinguiram também Adelina Pereira, pelo seu trabalho na direção da Escola Básica de Domingos Capela, em Espinho, e José Carlos Peixoto, pelo trabalho desenvolvido ao longo da carreira como professor de Língua Portuguesa e História, na Escola Básica 2+3 Frei Caetano Brandão, em Braga.
Uma "gestão humanizada" é a descrição usada pelos colegas para sintetizar o trabalho de Adelina Pereira, que durante duas décadas liderou o destino da escola e do Agrupamento de Escolas Domingos Capela, em Espinho. As designações das suas funções foram mudando ao sabor das exigências administrativas, foi presidente do conselho diretivo, executivo, e por fim, diretora. Mas a sua forma de atuar pautou-se pela constante preocupação com "as pessoas" que compõem o, nem sempre personalizado, corpo docente.
"A minha preocupação sempre foram as pessoas, porque se as pessoas se sentirem bem, trabalham melhor", reflete Adelina Pereira. Um caso protagonizado por um professor contratado que diariamente se deslocava de Viseu para dar aulas às 8h30 ilustra esta atitude. O relatado é de Cristina Costa, presidente do conselho geral, que reconhece o mérito à atuação da diretora: "Não teve descanso enquanto não lhe foi possível efetuar as trocas necessárias para facilitar a vida a este docente."
Delegar e confiar na equipa escolar são, segundo Adelina Pereira, as razões de sucesso da sua liderança. Um trabalho que teve particular visibilidade na melhoria da má imagem que o estabelecimento de ensino tinha há 20 anos. E onde se incluiu a criação de um gabinete de comunicação e de imagem, constituído por diversos professores com o objetivo de divulgar as boas práticas escolares.
"Se houver um segredo, foi estar disponível para dialogar, valorizar e motivar as pessoas. Isso passa por estar atenta, para perceber o que se pode pedir a cada um, de modo que todos deem o máximo", resume Adelina Pereira.

Sem serviços mínimos

A exigência, primeiro para consigo, depois para com os outros. Assim é recordado José Carlos Peixoto, pelos alunos que frequentaram as suas aulas de Língua Portuguesa e de História, na Escola Básica do 2.º e 3.º ciclo Frei Caetano Brandão, em Braga. "Não havia serviços mínimos para o professor", recorda Sérgio Pinto, ex-aluno. José Carlos Peixoto sempre teve bem presente que "uma aula não corresponde apenas à sua duração, em casa significa três vezes mais tempo".
As atividades organizadas pelo professor na comunidade escolar permanecem vivas na memória de quem participou. Pelo menos dois eventos, foram descritos como "inesquecíveis": um peddy-paper realizado pela cidade de Braga e que envolveu mais de 500 pessoas e um jantar romano com cenário, trajes e alimentos da época vivido no museu bracarense D. Diogo de Sousa.
Já os colegas mais próximos recordam essencialmente a postura "assertiva" e de "cavalheiro", que o professor, agora aposentado, mantinha durante as reuniões do conselho pedagógico. "Quando estávamos a discutir mantinha-se impávido e sereno, mas quando intervinha, fazia-o de forma extraordinariamente assertiva", refere Fernando Braga, professor e colega durante 15 anos.
A sua prática letiva distinguiu-se também pela forma como usava as novas tecnologias para ajudar os alunos a desenvolver os seus próprios métodos de estudo. "Sempre à frente do seu tempo", assim o descreve Rosa Sarmento, docente de História e Geografia de Portugal. Fosse introduzindo resumos da matéria e exercícios no Moodle, ou recorrendo ao uso de recursos didáticos elaborados em PowerPoint.
São as imagens do terramoto do tempo do Marquês de Pombal e das caravelas da época dos Descobrimentos, mostradas durante a matéria lecionada, que Ana Rodrigues, uma ex-aluna recorda das suas aulas de História. "No livro, vemos as coisas mais pequenas e não percebemos tão bem. No PowerPoint, observamos as imagens em grande e fixamos melhor."
E se neste caso há também, segredo para o sucesso, José Carlos Peixoto arrisca na fórmula: "De um ano para o outro, havia sempre um material que já não me satisfazia ou um teste que já não se adequava. Sentia sempre necessidade de aperfeiçoar o meu trabalho."
Além do reconhecimento informal pelo seu desempenho, os prémios dos três docentes distinguidos "foram materializados por diplomas de mérito pedagógico, visitas de estudo a escolas ou a instituições de referência no estrangeiro, ou ainda através da publicação e divulgação de trabalhos dos candidatos, depois de homologados pela Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, lê-se no site do ME.
A primeira edição dos Prémios de Mérito remonta a 2007, com a atribuição do Prémio Nacional de Professores a Arsélio Martins, professor de Matemática, na Escola Secundária de José Estevão, em Aveiro. Nas edições seguintes, foram distinguidosJacinta Moreira, professora de Biologia e Geologia, na Escola Secundária Carolina Michaellis, no Porto, e Alexandre Costa, docente de Físico-Química, na Escola Secundária de Loulé.
Este ano, o galardão máximo ficou por atribuir. O júri presidido por Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação, tomou esta decisão "por considerar que as candidaturas apresentadas não reuniam os requisitos necessários para o efeito", refere em comunicado o gabinete da ministra Isabel Alçada.
Recorde-se que o objetivo desta iniciativa, segundo os seus promotores, é: "Reconhecer docentes que contribuam de forma excecional para a qualidade do sistema de ensino, quer no exercício da atividade docente, em contacto direto com os alunos, quer na defesa de boas práticas com impacto na valorização da escola."

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