autor José Paulo Silva
A crise económica obriga a gastos mais comedidos na organização das festividades do mártir S. Sebastião, mas a população da freguesia de Mire de Tibães continua a manter ‘O Cerco’ como manifestação de religiosidade e arraial popular.
A edição 2011 de uma festa cuja origem se perde no tempo encerrou ontem, dia de missa solene e procissão em honra do protector da fome, da peste e da guerra.
O cortejo religioso com 12 andores já não percorreu a totalidade dos lugares da freguesia - particularidade que lhe deu o nome ‘O Cerco’ - mas apenas o percurso entre a Igreja do Mosteiro e a rotunda da estrada municipal que liga a Parada de Tibães e Padim da Graça.
A redução das receitas obtidas por via de patrocínio de empresas obrigou as comissões de festas dos últimos anos a abdicar da contratação de artistas de primeiro plano para animar os arraiais nocturnos.
Este ano, o programa profano foi assegurado com cantadores ao desafio, grupos de concertinas, um grupo de baile e um festival folclórico com quatro ranchos. A Banda Musical de Cabreiros deu o toque festivo a um dia aproveitado para a realização de três baptizados de crianças da terra.
Na homilia do missa solene da festa, o padre Luís Marinho recordou os tempos em que a procissão em honra de S. Sebastião “envolvia a freguesia”, apelando à invocação do santo, já não tanto para a guerra, peste e fome de outrora, mas para as “dificuldades” dos tempos actuais.
Apesar das res trições orçamentais, a comissão de ‘O Cerco’ organizou, em parceria com a Associação Equestre de Lijó, no passado dia 31 de Julho, uma prova equestre com gincana e salto de cavalos, uma novidade no terreiro em frente à Igreja e Mosteiro de Tibães.
A notícia mais antiga conhecida sobre a festa de S. Sebastião em Mire de Tibães foi publicada no jornal ‘O Comércio do Minho’ em Setembro de 1882.
“Muitos vão à festa, à romaria, por desenfado, recreio, ou por se divertir; mas a maior parte, arrastados pela corrente eléctrica de um sentimento religioso, que todos abrigamos no íntimo do coração”, relatava o repórter da época, depois de ter visto sair a procissão com seis andores e duas bandas de música.
Passados quase 130 anos, os sentimentos dos que se deslocam ao terreiro e igreja do Mosteiro de S. Martinho de Tibães serão os mesmos, atendendo a que ‘n’estas festas da aldeia há tanto de profano, como de religioso e sublime”.
No ano de 1997, a comissão de festas e o Museu do Mosteiro de S. Martinho de Tibães publicaram ‘O Cerco - uma festa de Mire de Tibães’, pequena publicação com testemunhos de homens e mulheres que “fizeram, participaram e viveram O Cerco”.
Domingos Silva, festeiro em 1953, relata que, tal como agora, as dificuldades económicas para fazer a festa eram muitas. Nessa altura, fazia-se a festa “por causa do bicho das terras”.