segunda-feira, 8 de agosto de 2011

SANTUÁRIO DO BOM JESUS DÁ MAIS ESPAÇO A FIÉIS E TURISTAS, ARTIGO DO CORREIO DO MINHO DE 8 DE AGOSTO

autor José Paulo Silva

A Confraria do Bom Jesus do Monte inaugura hoje a Alameda Cónego José Marques, pequena parte de um vasto plano de recuperação deste santuário e estância turística iniciado no início da década.
Depois do investimento feito na recuperação de unidades hoteleiras, aquela entidade tem em fase conclusiva obras de requalificação de espaços públicos de um dos pontos mais procurados do roteiro turístico bracarense.
A Alameda Cónego José Marques, porta principal de entrada no santuário do Bom Jesus do Monte, é uma marca do ordenamento da circulação automóvel e pedonal idealizado pela Confraria.
As obras já realizadas limitaram a circulação automóvel em redor do templo principal do santuário e disciplinaram o estacionamento. Imediatamente antes da Alameda Cónego José Marques, existe agora um parque de estacionamento para autocarros, um meio de transporte muito utilizado por turistas, sobretudo nesta altura de Verão.
Para quem pretende aceder ao santuário pela monumental escadaria ou pelo único funicular no mundo ainda movido a água, foi desenhada, na zona do Pórtico, um parque de estacionamento para ligeiros e outro para veículos pesados.
O propósito já expresso pelo presidente da Confraria do Bom Jesus do Monte, João Varanda, é retirar o mais possível os carros do santuário, devolvendo a este espaço mais sossego, o que não se consegue com os carros a circular junto às pessoas.
A inauguração, ao final da tarde de hoje, da Alameda Cónego José Marques, faz parte da homenagem que a Confraria do Bom Jesus do Monte presta ao seu presidente honorário falecido há precisamente um ano.
A actual Mesa da Confraria destaca que ao cónego José Marques se deve, a concepção, os projectos, o arranque e o enquadramento das obras de reabilitação do santuário que, a partir de hoje ostenta, numa das entradas, o seu nome.
O arcebispo primaz de Braga associa-se hoje à homenagem da Confraria do Bom Jesus do Monte ao cónego José Marques.
O prelado preside, às 18h00, no templo do Bom Jesus, a uma missa de homenagem ao juiz-presidente honorário da Confraria, antes do descerramento da placa que identifica a Alameda Cónego José Marques.
José Carlos Peixoto, mesário da Confraria, destaca que aquele sacerdote “envolveu-se intensamente e desinteressadamente na resolução de múltiplos problemas com uma determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum. Lutava contra as burocracias dos gabinetes, sempre por uma causa, a dignificação da estância, deste monte-sagrado, qual Jerusalém libertada, qual caminho para a Cruz e Jerusalém Celeste”.
José Carlos Peixoto recorda também que o cónego José Marques “nunca desviou a atenção do essencial. O centro da sua actuação era o Bom Jesus. Dias antes da sua morte, veio celebrar a este santuário, à semelhança de tantas e tantas vezes. Veio dizer um até já ao Bom Jesus do Monte, pois, em conversa, desabafou que seria a última vez que celebraria neste templo”.
O sacerdote, que foi professor de Teologia Moral e Direito Canónico, para além de muitos artigos e traduções, publicou ‘Direito Sacramental II. Direito Matrimonial Canónico’, ‘O Direito de associação e as associações de fiéis na Igreja à luz do Vaticano II e do novo Código de Direito Canónico’, ‘Identidade do Sace rdote - O sacerdócio ministerial no Magistério de João Paulo II’.
Em 1982, foi nomeado juiz presidente da mesa Administrativa da Confraria do Bom Jesus do Monte, cargo que exerceu até ao ano de 2003.
Na passagem do bicentenário da conclusão das obras do templo de Bom Jesus do Monte, os espaços do santuário apresentam um aspecto renovado, bem diferentes da degradação e mesmo dos indícios de ruína em que se encontravam há alguns anos atrás. A estância está a refrescar-se com intervenções na zona do lago e do parque de merendas, a par da alteração dos circuítos automóveis.
O património construído vai sendo também recuperado, aparentemente a um ritmo mais lento, talvez porque os mecenas, já solicitados pelo arcebispo primaz, D. Jorge Ortiga, não surjam em número suficiente. O visitante do santuário detecta sinais de obras nas três capelas da Praça dos Apostólicos e também, de forma mais explícita, na Capela do Levantamento, aqui com referência à empresa que está a custear os trabalhos de conservação e restauro.
Já concluída há algum tempo está a requalificação do edifício-sede da Confraria do Bom Jesus do Monte, conhecida também por ‘Casa das Estampas’, que já foi parcialmente ocupada como quartel da GNR e que acolhe actualmente o Centro de Exposições Cândido Pedrosa, ex-juiz presidente da Confraria que deu também o seu impulso aos projectos de reabilitação do património do santuário que se perfila como candidato a Património Mundial da Humanidade.
O Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, que o santuário do Bom Jesus acolhe, de 20 a 22 de Outubro, pode dar uma ajuda ao reconhecimento por parte da UNESCO. Aliás, um dos objectivos expressos do Congresso organizado pela Confraria do Bom Jesus do Monte é “criar dinâmicas de captação de apoios para a candidatura do Bom Jesus a Património Mundial da Humanidade”. Apoio nessa candidatura poderá ser dado também por com o ressurgir da Associação ‘Amigos do Bom Jesus do Monte’, fundada em 1952.
A ideia que tem vindo a ser defendida por José Carlos Peixoto, um dos actuais mesários da Confraria. “É o Bom Jesus do Monte, no seu conjunto, um oásis encantador, maravilhosamente apropriado ao repouso e ao restauro das forças do espírito e do corpo”. A convicção, escrita em meados do século passado pelo arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, confirma-se na actualidade com a atracção que o ‘monte santo’ bracarense exerce sobre inúmeros praticante de caminhada, corrida e ciclismo.
Ontem de manhã, a rodovia que liga a cidade de Braga ao santuário era percorrida por dezenas e dezenas de caminhantes e ciclistas, em ritmo mais ou menos apressado. Os circuitos pedonais da estância eram também muito frequentados pelos amantes do ‘jogging’ e das bicicletas, o que torna urgente a criação de estruturas de apoio dignas a estes visitantes.
O ‘café’ que funciona junto ao lago, ontem de manhã encerrado, não reúne condições mínimas de acolhimento. Apesar de tudo, a frescura do bosque - cujas espécies a Confraria pretende inventariar - parece ser irresistível para muitos amantes da natureza e desportistas, tal como o foi para o escritor Camilo Castelo Branco, que procurou no contacto com as árvores do Bom Jesus remédio para as suas fraquezas físicas e psíquicas.