sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A CERCA DO MOSTEIRO DE TIBÃES

A Cerca do Mosteiro de Tibães, com cerca de 40 hectares, localizada na encosta norte do Monte de S. Gens, é um espaço de importância fundamental para a compreensão do quotidiano monástico, delineado à luz da estética barroca.
A Cerca do Mosteiro estava intrinsecamente ligada à manutenção da comunidade religiosa beneditina. Deste espaço vinham os produtos necessários para a comunidade, os alimentos, a madeira, os moinhos, os engenhos, não deixando de ser um belo lugar de meditação e lazer. A vegetação abundante e variada, nomeadamente, de carvalho do norte, o carvalho negral, o sobreiro, azereiro, bordo, medronheiro, aveleira, pilriteiro, azevinho e amieiro negro, contribuíam, de certo modo, para o bem estar dos beneditinos.
No interior da cerca podemos admirar um lago elíptico (no sitio das Aveleiras (1795-1798) todo de cantaria em volta com cascata e bancos laterais. Era alimentado por quatro novas minas de água, que também alimentava um engenho de serra acabado de construir. Para drenar terrenos pantanosos, reduzindo-os a terrenos de cultivo, fizeram-se obras de hidráulica, modelaram-se socalcos e fizeram-se aterros, ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 606), um escadório talhado no monte, a Capelinha de S. Bento (reformada em 1725, com o seu azulejo historiado, joanino; a pintura do tecto, com a balaustrada envolvendo nuvens, anjos, cartelas e plumas que envolvem a figura de S. Bento, o retábulo, infelizmente desaparecido, e as diversas imagens que a decoravam, tornavam esta capela uma pequena mas preciosa peça do barroco português), a Casa do Hortelão, as Fontes das Aveleiras, dos Tornos e do Pevidal, a Fonte de S. Beda (desconhecemos a sua localização primitiva. Em 1733, foi transferida para junto do local donde partia o escadório. Actualmente, esta fonte barroca embeleza os jardins do Museu Nogueira da Silva.
Quando nos dirigimos para a Cerca conventual, não podemos deixar de referir a construção da Fonte de S. Pedro, em 1727, que permitia aos monges observarem quer as hortas e pomares, quer o escadório, construído neste período em direcção à capela de S. Bento.
Os monges de S. Bento na sua forma de viver em consonância com a Natureza, souberam no século XVIII, associar o poder económico à estética barroca; implantaram eixos formados por sebes de buxo, muros, caminhos e ramadas, que direccionam o espaço para um ponto de água enquadrado por majestosa fonte ou tanque de pedra lavrada, ou então para a “rua das fontes”.
O Jardim da Cerca do Mosteiro de S. Martinho de Tibães, recebeu o Prémio Internacional Carlo Scarpa, atribuído pela Fundação Benetton Studi Ricerche. Este prémio, reconhece o mérito de uma década de trabalhos de manutenção e recuperação da Cerca e do Mosteiro de Tibães.
Progressivamente, ao longo dos séculos XVII e XVIII, a Cerca vai sendo arroteada, dando cumprimento a um projecto agrícola verdadeiramente notável. Reduzindo "muita terra dos muros adentro para se poder cultivar como está cultivada de tal maneira que forao semeados este ano cento e trinta alqueires de centeio fora o trigo e a cevada "( ADB., Fundo Monástico Conventual, Conv. e Most., Tibães, Livros do Depósito, 537); trazendo águas de dentro e fora da Cerca "com grande custo, para unir lameiras e rega de campos"( ADB., Fundo Monástico Conventual, Conv. e Most., Tibães, Livros do Depósito, 584) e fazendo-as circular por uma elaborada rede, de alcatruzes de barro, caleiros de pedra e canos de chumbo; secando pântanos; fazendo plantações intensivas de vinha, em latadas e em uveiras, de pomares, de olivais, de castanheiros, de sobreiros, de carvalhos e montando viveiros, prática verdadeiramente inovadora, para pomares e vinha; transformaram a Cerca numa importante fonte de riqueza, mas também num objecto de arte, subtil e delicadamente criado.
Nesta cerca encontramos uma harmonia perfeita entre o Homem e a Natureza, muito bem relatada pelos cronistas beneditinos: em 1728 sobre a transformação da Fonte do Pátio do Galo "por tal forma e arte que do pátio della se vêm,as ortas e pomares que se não viam dantes pelo que nella estava ser mto larga e tomar toda a vista"; em 1816 quando "abriu-se uma nova e larga Rua em direitura à Porta do Anjo, sustentada por um grande paredão e guarnecido pelos lados de úteis castanheiros e árvores de recreio: esta mesma Rua se continuou em volta de toda a Cerca junto ao Muro, plantando-se no lado oposto grandes quantidades de sobreiros e carvalhos em toda a sua grande extensão para o passeio dos Monges e Utilidade do Mosteiro ".
No fim do século XIX, a Cerca do Mosteiro de Tibães estava dividida em duas partes: uma pertencente à Ex.ma viúva do Sr. Comendador Manuel Joaquim Marques Murta, secretário geral do governo civil, vendida pouco tempo depois da expulsão dos frades por 2 contos de réis e a outra conjuntamente com uma grande parte do edifício pertencente ao Ex.mo Sr. Comendador José António Vieira Marques. Esta última parcela foi comprada pelo pai do comendador, o qual introduziu notáveis melhoramentos ( Correspondência do Norte, 14 de Julho de 1894.