Perguntou-me o Director Da nossa «Acção Social» O motivo ou a razão, Ou seja lá o que for Do meu silêncio: então Que tem você, seu Zezão…
Por vergonha não lhe disse O que cá dentro sentia E procurei-lhe ocultar A minha grande perrice E um sorrisinho alvar Que me ficou a matar!
Mas a ti leitor amigo, Se me prometes segredo, Vou te abrir o coração E tu vais chamar um figo À bela da explicação, Do silêncio do Zezão.
Se na semana passada, Nada escrevi para o jornal Foi por ‘star constantemente À espera da consoada Do meu leitor, que afinal Deu em droga, deu em nada…
Ao ouvir bater à porta, P’ra lá deitava a correr, Mas, por mal dos meus pecados, Ficava co’a cara torta, Pois sempre via aparecer Alguns credores irritados. | Sempre à espera – que arrelia, Sem noutra cousa pensar, Desde manhã, muito cedo, Tè à noute, todo o dia… E ficar sempre a chuchar… Ficar a chuchar no dedo!...
Desespero torturante, Co’a alma assim tão atada, Como podia eu ‘screver? Nem no Inferno de Dante Se vê lá explicada Pena, assim, um tal sofrer!
No meio disto, porém, Sempre um conforto encontrei P’ra as minhas penas dobradas, Pois além de beber bem E com gana me atirei Às belas das rabanadas!
E aos mechidos e às filhós E ao polvo e à batatada E das trouchas tão tenrinhas… Ai filhós! Aqui para nós, Fiquei com a barriga inchada E na cabeça… uns grilinhos…
É que a nossa pena e mágoa Nunca se afogam com… água! Zezão |