Há dias, numa gazeta, Que de nome é «Capital», Li, cheio de comoção, Uma notícia de arromba, Mesmo até piramidal, Que, talvez, julguem ser peta, Um grande carapetão, E que, afinal, não é tal… Estava a ferrar o galho Dum rapazola um gorducho, Após uma fartadela, Papo no ar, a boca aberta, De ressonar dá-se ao luxo, Quando uma cobra – espantalho!- Se lhe encafua por ela E lhe vai parar ao bucho! E o demónio do rapaz, Que terrível dorminhoco! Lá continua a nanar, Satisfeito, descansado, Sem mentir o bicharoco, Que, quando lhe pareceu, zás! Lhe veio à boca, a tomar O fresco e … gozar um pouco… Mas o pastor, que tal viu, - Como contá-lo não sei!- Ficou tão abananado, - Nossa Senhora, que horror!- Tão fora de toda a lei, Que co’um chilique caiu, A gritar desesperado: Ó da guarda! Aqui-del-rei! Faz-me isto lembrar a história, Já por aí muito constada, Dum cavalheiro espanhol, Que tinha um olho de vidro, E que é um tanto engraçada… Ela lá vai de memória: - Ele gostava do gól’ Tomava a sua tacada… | E numa noute, o zarolho, Chega a casa avinagrado - A jumenta era bem boa!- E, à mesa de cabeceira, Põe o copito adorado. Em seguida, tira o olho E, no copo, mesmo à toa, Deita-o dentro descuidado! Acordou com muita sede, Muito indisposto, trombudo, Sentindo-se mesmo mal… E, para a sede apagar, Entre-abre o olho polpudo, Co’um braço a distância mede, Pega no copo fatal E… emborca o seu conteúdo! Ao outro dia olvidado, Ansioso o olho procura, Sem dar-lhe co’o paradeiro! Para cúmulo da desgraça, Além da horrível secura, Inda se sente engasgado… E assim anda o dia inteiro Sem ver do seu mal… a cura… Chama o criado: - Juan! Viene aqui Xá, de repiente! - Que me quiere? Diga, ustêd… - Que mires o que aqui tengo! - Eh! Patron! Juan no miente! - Lo que o Juanito vê?... - Un … ojo… a mirar la gente!!! Zezão |
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