domingo, 24 de maio de 2009

Política em Verso (19) - Zezão - 10-01-1924

Há dias, numa gazeta,
Que de nome é «Capital»,
Li, cheio de comoção,
Uma notícia de arromba,
Mesmo até piramidal,
Que, talvez, julguem ser peta,
Um grande carapetão,
E que, afinal, não é tal…

Estava a ferrar o galho
Dum rapazola um gorducho,
Após uma fartadela,
Papo no ar, a boca aberta,
De ressonar dá-se ao luxo,
Quando uma cobra – espantalho!-
Se lhe encafua por ela
E lhe vai parar ao bucho!

E o demónio do rapaz,
Que terrível dorminhoco!
Lá continua a nanar,
Satisfeito, descansado,
Sem mentir o bicharoco,
Que, quando lhe pareceu, zás!
Lhe veio à boca, a tomar
O fresco e … gozar um pouco…

Mas o pastor, que tal viu,
- Como contá-lo não sei!-
Ficou tão abananado,
- Nossa Senhora, que horror!-
Tão fora de toda a lei,
Que co’um chilique caiu,
A gritar desesperado:
Ó da guarda! Aqui-del-rei!

Faz-me isto lembrar a história,
Já por aí muito constada,
Dum cavalheiro espanhol,
Que tinha um olho de vidro,
E que é um tanto engraçada…
Ela lá vai de memória:
- Ele gostava do gól’
Tomava a sua tacada…
E numa noute, o zarolho,
Chega a casa avinagrado
- A jumenta era bem boa!-
E, à mesa de cabeceira,
Põe o copito adorado.
Em seguida, tira o olho
E, no copo, mesmo à toa,
Deita-o dentro descuidado!

Acordou com muita sede,
Muito indisposto, trombudo,
Sentindo-se mesmo mal…
E, para a sede apagar,
Entre-abre o olho polpudo,
Co’um braço a distância mede,
Pega no copo fatal
E… emborca o seu conteúdo!

Ao outro dia olvidado,
Ansioso o olho procura,
Sem dar-lhe co’o paradeiro!
Para cúmulo da desgraça,
Além da horrível secura,
Inda se sente engasgado…
E assim anda o dia inteiro
Sem ver do seu mal… a cura…

Chama o criado: - Juan!
Viene aqui Xá, de repiente!
- Que me quiere? Diga, ustêd…
- Que mires o que aqui tengo!
- Eh! Patron! Juan no miente!
- Lo que o Juanito vê?...
- Un … ojo… a mirar la gente!!!
Zezão