domingo, 1 de março de 2009

BRAGA E FREI CAETANO BRANDÃO – UMA RELAÇÃO SEMPRE EM BRASA

As relações nem sempre foram as melhores. Os interesses das diferentes classes eram absolutamente divergentes, pelo que os Beneficiados pela sorte não lhe tornaram a vida fácil.
Numa carta dirigida ao Tribunal da Relação, datada de 22 de Novembro de 1789, Frei Caetano refere-se a Braga nestes termos: «Bem sabe Elle quanto he a minha insuficiencia para suster o pezo e manejar as rodas de hua maquina tão complicada e que incomparavelmente mais que o condutor do povo hebreu, eu tinha necessidade de hum congresso de homens sizudos e illustrados que unidos comigo em hum mesmo espirito contribuissem a facilitar-me o desempenho deste critico ministerio. Não duvidem Vossas merces que se a gloria de Braga dependesse somente de meus desejos e das minhas intençoens, nada seria mais bem fundado que a lisonjeira esperança que todos se prometem na presente translação, mas em fim são desejos descarnados de eficacia e por isso talves athe agora infrutiferos» (Inácio J. Peixoto, Memórias, Manuscrito do ADB-UM).
As quezílias entre Frei Caetano e a mitra (corpo capitular) renasceram, pois estes não perdoam a perda dos seus príncipes, a falta do perfume da corte e a extinção do senhorio. A mitra não se resignava com a perda do poder temporal dos prelados, nem com a pobreza evangélica e o afã catequético imprimidos pelo arcebispo: «este prelado veio despertar Braga do letargo em que jazia (...) (pois) não sabia muito que cousa era um pastor verdadeiramente bispo. Conhecia príncipes na verdade magníficos e benignos que queriam o bem, mas não se resolviam a segui-lo» ( Inácio J. Peixoto, Memórias, Manuscrito do ADB, cf. Memórias particulares de Inácio José Peixoto, Coord. de Viriato José Capela, Braga, ADB, 1992, p.115).
Frei Caetano chegou a preferir a cela monacal ao Paço de Braga. Por isso desfiou, muitas vezes, o rosário do seu inferno privado, não obstante a sua acção como reformador social ecoar junto às portas do paraíso.
Comparou o seu múnus pastoral em Braga com o Pará, deixando transpirar algumas dificuldades: «Eu que me queixava do Pará, mas em comparação de Braga fica a perder de vista, é a cabeça a andar sempre em urgir de negócios, vendo como há-de dar providência a todos, porque todos a reclamam à porfia»…
A cidade (Braga), sempre de ferro em brasa, era uma máquina complicadíssima, que nem andava, nem deixava andar, como rodas sempre a desconjuntar-se. Vai compor-se uma roda, desanda outra: é estar sempre em contínua fadiga e sobretudo como quem tem o garrote na garganta.