domingo, 1 de março de 2009

Política em Verso (11) - Zezão - 08-11-1923.

No correio da Manhã,
Um dos jornais lisboetas,
Em letras mui miudinhas
Vem umas noticiasinhas
Que, às vezes, p´ra mim eu julgo
Seriam bem metidinhas
No calhamaço das petas.

Imaginem os leitores
Que nele acabo de ler,
Nos tais caracteres usados,
E com olhos duplicados
Esta notícia d’arromba
Que, por mal dos meus pecados,
Vos sou forçado a dizer:

O Bernardino, pedreiro,
(onde mora, não aumenta)
Na polícia se queixou,
Num dia que já passou,
De que lhe tinha roubado
Alguém que não nomeou
A querida ferramenta.

Quem será Bernardino?
Se a minha mente não erra,
Creio já tê-lo matado…
Não será ele o Machado?
Deve ser! Embora haja,
Segundo afirma o ditado
Muitas Marias na terra…

O facto de ser pedreiro
Em ninguém confusão mete
Pois, sendo ele mação,
Pedreiro livre é, e, então,
Não espanta lhe roubasse
Qualquer esperto ladrão
O compasso e o malhête…

Por isso motivos tem
De ver a alma em tormenta
E o coração machucado.
Pois vê-se impossibilitado
De trabalhar – coitadinho!-
O Bernardino Machado,
Por falta de ferramenta…

Até, leitores, me parece
Que ele assim se não aguenta
Co’o testo no seu lugar;
Que, enquanto a não encontrar,
Noite e dia, o bom do homem,
Não deixará de berrar:
Que é da minha ferramenta?

E, daí, talvez quem sabe
É esta a opinião minha,
Se ela seria roubada?
Não ficaria arrumada
Como já tem sucedido,
E no avental embrulhada,
Na loja da … Viuvinha?
Zezão