segunda-feira, 18 de março de 2013

UM CANUDO PARA TODOS

Artigo publicado no Diário de Minho de 17 de Março de 2013.

Após longo período em que estivemos privados de ver «Braga por um canudo», o telescópio do Bom Jesus vai estar disponível a todos os visitantes da estância, a partir do próximo sábado, dia 23, uma oportunidade para tomar contato com o renovado "canudo", com uma vista panorâmica que desarma o mais cético e duro dos visitantes, e que vai permitir cumprir um dos mais famosos ditos bracarenses.
O telescópio, bihete-postal, ícone carismático da estância, com oitenta e nove anos de idade, foi apresentado à comunicação social, num dia outonal, com alguma neblina e só, espaçadamente, por entre fúlgidos revérberos de sol, aureolando de púrpura a «cidade soaresca» e a bacia do Cávado, foi possível que o monóculo penetrasse no labirinto do betão e nos resistentes oásis plantados de verde-escuro no horizonte. A partir daquela bela pérgula pitoresca pode-se, agora, visualizar a cidade e a região, espaço que, nos últimos tempos, estava a ser substituído pelos cadeados do amor, moda em diversos locais da Europa.
Para substituir o velhinho telescópio oferecido em 1862, o Presidente da Confraria e antigo Presidente da Câmara de Braga Tenente-Coronel de Infantaria Lopes Gonçalves, em 1924, numa estratégia de captar novos fluxos turísticos, assumiu o interesse pela aquisição deste monóculo de longo alcance à casa alemã Optische Anstalt C. P. Goerz, A.G., de Berlim – Friedenau, no âmbito de um conjunto de iniciativas bem sucedidas, na cidade e no santuário, concretamente o êxito de vários congressos e inaugurações.
Dizia-se na época, em que o «canudo» foi adquirido, que o Bom Jesus era uma porta da cidade e o «porto de mar» de Braga, por receber, atrair e aumentar progressivamente o caudal de turismo. Em nossa opinião, o Bom Jesus, museu vivo cravado na natureza, é, ainda, o maior emblema de Braga, como fenómeno de atração turística, dinamizador do comércio e da indústria hoteleira locais, um dos espaços portugueses onde os flashes mais disparam e mais badalado em livros, revistas e múpis de todo o mundo.
O telescópio de Carl Paul Goerz apareceu, portanto, como mais um recurso de atração e promoção turística, inserido numa estratégia coerente montada pela confraria, de então, presidida por Albano Justino Lopes Gonçalves. Esta estratégia, na década de 20, do século passado, passou por um conjunto de diligências, obras e decisões, que contribuíram para melhorar a imagem da estância, que enumeramos: a retirada da concessão dos hotéis à sociedade Hotéis Portugueses de Turismo, presidida pelo Suiço Léon Kués; a inauguração do Gabinete de leitura, biblioteca e museu; a contratação do arquiteto Raul Lino para a reabilitação do parque de diversões na Esplanada dos Fornos e consequente construção do casino, colunata, casa de chã, casa das estampas, coreto, e quiosque do lago; a abertura de uma nova variante partindo da estrada nacional n.º 4, por S. Pedro de Este ao Pórtico do Bom Jesus; a colocação de guias de cantaria e aquedutos de alvenaria na Esplanada dos Fornos; a abertura de um posto da GNR; a pintura de duas telas ovais para a capela-mor, cópias de outras de Pedro Alexandrino; contratos com o pintor bracarense António Alves para a pintura de uma tela para a Capela do Santíssimo, para o fundo do calvário do retábulo-mor e para a pintura dos tetos do corpo principal da Igreja; a constituição de uma sociedade intitulada «Amigos das Capelas do Bom Jesus» para angariação de zeladores para cada capela e meios materiais para beneficiação e conservação das mesmas; a intenção de vender o Hotel do Lago, propriedade da sociedade Hotéis Portugueses de Turismo à Confraria do Bom Jesus do Monte, mas que, só mais tarde, seria concretizada.
Se os anjos, outrora, convidaram os Apóstolos a baixarem os olhos quando contemplavam Jesus, o telescópio, hoje, convida-nos a erguê-los, com a primavera à porta e nos dias de sol lívido, para admirarmos a vitalidade da natureza, num lugar onde todas as sensações são chamadas a viver e que só morrem quando desaparece a memória. O «diploma» que será fornecido a quem experimentar essas emoções, será o «mote» para reavivar essas recordações.
O telescópio será mais um pretexto para refúgio e acolhimento de visitantes, a par de muitos outros motivos que cativam o forasteiro para este pitoresco cantinho: a monumentalidade do património construído, a diversidade e raridade das suas espécies arbóreas, a vegetação que pulula, os retiros amenos, as sebes rústicas, as grutas, a água rompendo por toda a parte, as fontes que jorram, as ruas, caminhos, veredas, os mirantes e uma espiritualidade que enleva o espírito.

José Carlos G. Peixoto
Mesário da Confraria do Bom Jesus do Monte

sexta-feira, 8 de março de 2013

APRESENTAÇÃO DE LIVROS

GRP_DIV_Ascensor Bom Jesus_Cartaz copy