terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

DE PÉ, NUNCA DE CÓCORAS

Vem este título a propósito do tempo que passamos em reuniões. Estamos geralmente sentados, porém raramente dialogamos e partilhamos o que descobrimos, com o que concordamos ou não, e que poderá servir aos outros.
Será que falta aquilo a que hoje se costuma apelidar de "cultura de escola": uma escola reflexiva e solidária, onde os professores se sentam, às vezes, com outros parceiros educativos, para tentar encontrar uma luz ao fundo do túnel que muitos insistem não existir.
Estou convencido que a educação escolar desempenha um papel de sociabilização, contribuindo para a interiorização pelo indivíduo dos valores da sociedade. Neste sentido a escola constitui uma instituição de primeira linha na constituição de valores que indicam os rumos pelos quais a sociedade trilhará o seu futuro. A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural que reflecte as ideologias impressas no contexto social e político.
Que fazemos diariamente na escola, como responsáveis pela arte de educar?
- Promovemos mudanças desejáveis e estáveis nos indivíduos;
- Evidenciamos na sala de aula, apenas, uma transmissão de saberes ou através destes trocamos conhecimentos e construímos o nosso próprio saber;
- Favorecemos o desenvolvimento integral do Homem e da Sociedade;
- Aprofundamos a compreensão sobre a forma como a cultura da escola (conjunto de valores e significados partilhados) influencia os processos de envolvimento e participação das famílias na vida escolar, através de um diálogo permanente, aberto e construtivo;
-Traduzimos a abertura da escola ao meio numa lógica cívica ou como uma mera possibilidade de captação de recursos.
Tendo em conta as nossas convicções, julgo que a escola onde trabalho tem dado passos largos na construção de uma «escola cultural», ressaltam, mesmo, linhas mestras que, ao longo de 26 anos de existência, configuram a existência de uma «cultura de escola».
De pé, frente a uma turma difícil, propunha numa das últimas aulas de Formação Cívica, a abordagem do conteúdo da letra de uma canção do álbum «cabeças no ar», intitulada «O Jardim da Mocidade», interpretada por Rui Veloso, Tim, João Gil e Jorge Palma. Neste poema de Carlos Tê, pode ler-se: «É preciso tratar bem, do jardim da mocidade, o mal que se lá deixar, noutra flor há-de medrar (…). Jardineiro olha para o mundo (…), é preciso até ter sorte, com a terra onde se nasce».
De pé, ao fundo da sala, enquanto entoávamos a canção lembrava-me das sábias palavras de António Sérgio «A escola não é um torno, o professor não é um oleiro e os alunos não são barro inerte (…). A faina do professor assemelha-se à do jardineiro que não obriga a rosa a ser glicínia ou buganvília antes cuida do ambiente dela para que ela possa florir» (Ensaios VII, Paideia).
Artigo publicado na Revista Andarilho, n.º 31, Fevereiro de 2009.