Depois de tão grande alarme,
Em que Lisboa se viu,
Voltou de novo o sossego,
Porque tudo entrou no rego,
Tudo nos eixos caiu.
A greve-revolução
Que prometia feroz
Derrubar este governo,
Já deu a alma ao inferno,
Foi mesmo de catrapóz!
É que o António Maria
Que nestas cousas, é um alho,
Abrindo o público erário
Conseguiu que operário
Voltasse todo ao trabalho.
Calou-se, pois imponente
A voz da bomba infernal
E o Lisboeta coitado,
Já a ela acostumado,
Tem saudades, passa mal…
E, para dar-se a ilusão
De, a cada passo, a ouvir
E com seu som se embalar,
Trata até de as fabricar
Em casa p’ra as não pedir!
Mas em vez do clorato,
Metralha, pregos e tudo,
Que mata e faz explosão,
Mete na bomba o ratão
… Cebola e feijão miúdo…
Efeito prodigioso!
De manhã, mal rompe o dia,
Não há palácio ou tegúrio
Onde não se ouça o murmúrio
De confusa bateria!
É nas salas, às janelas,
No pátio, no saguão
E nos quartos de dormir,
Onde se faz mais sentir
O estrondo da explosão!
Forte mania, leitores,
Que na loucura já tomba!
De alguns dias p’ra cá
Já alfacinha não há
Que não deite a sua bomba!
Nisto, afinal vem a dar,
Inda que alguém se quisil,
A arma preconizada
E pelo mesmo alcunhada
De… artilharia civil.
Zezão