segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O COUTO DE TIBÃES (3)

Para as cartas de doação de terras às igrejas e mosteiros passou a reservar-se a designação Cartas de Couto, cartas de foro a criar e defender as terras eclesiásticas, privilégio de igrejas e mosteiros (Couto). COUTO DE TIBÃES EM 1801
A essa terra privilegiada reservar-se-ia o termo Couto, sendo o donatório habilitado a cobrar certas prestações; por sua vez, os que dentro do perímetro do couto habitavam ficavam isentos da jurisdição régia e escusados da hoste, fossado, peitas e outras obrigações.
No período do Condado Portucalense, na região do Entre Douro e Minho, se bem que o Foral de Guimarães seja de 1096, o primeiro mosteiro beneditino a receber carta de couto foi o de Santo Tirso, em 1097.
Sabe-se, com efeito, que Dª Teresa, para dar provas de devoção religiosa e para ganhar o apoio de alguns nobres, favoreceu com cartas de couto alguns mosteiros, de que esses mesmos nobres eram patronos. Certos mosteiros, em pleno séc. XVIII, para realçar a antiguidade e nobreza de seus coutos recorreram a essas significativas e emblemáticas obras de arte, mandando fazer grandes quadros a atestar a antiguidade e nobreza do seu couto bem como o respectivo direito de posse de que nos restam o quadro de Tibães no Arquivo Distrital de Braga e o de Travanca na sacristia da respectiva igreja.
Eis algumas cartas de couto conferidas aos mosteiros beneditinos pelo Conde D. Henrique e Dona Teresa: 1097(1198)-11-23 – Couto de Santo Tirso; 1097-11-24-1098-02-26 – Couto de Rendufe; 1110-03-24 (25 ou 26) – Couto de Tibães; 1112-08-01 – Couto de Pombeiro; 1120-1122-1123-01-08 e 1127-10-16 – Minuta e carta do Couto de Alpendurada; 1121-1128-04-06 – Couto de Cete; 1127-05-23 – Doação de Vimieiro a Cluny.
D. Afonso Henriques, durante certo tempo, seguiu, de forma alargada, a política de seus pais na atribuição de coutos eclesiásticos a beneditinos e outras instituições religiosas, como o Couto de Donim, Guimarães, a Tibães (26-02-1135).
Segundo a tradição historiográfica, Parada de Tibães foi fundada com a sua congénere Mire de Tibães, em tempos da monarquia sueva. A documentação, porém, menciona a freguesia pelos inícios do século XII. Nas Inquisições de 1220, ao tempo de D. Afonso II, Parada de Tibães aparece já integrando o “Couto de Tiviães”. Este Couto obteria novo foral por volta de 1517, no reinado de D. Manuel.
O Lugar de Donim (Guimarães) terá sido parcialmente coutada para o mosteiro de Tibães, por D. Afonso Henriques e em 26 de Fevereiro de 1135, como registarão posteriormente as "Inquirições" de 1220, à época de D. Afonso II. Nas Inquirições de 1288, relativas à freguesia de São Salvador de Donim lê-se: «O paaço de Fernão Fernandes, irmão do bispo de Lamego... o vírom honrado dês que se acordam...; a terça parte desta freguesia é Couto do mosteiro de Tibães por cartas de el-rei e a outra terça do mosteiro de Adaúfe e é devassa e dão a renda a el-rei pola voz coima, e a outra terça é de homens filbos-de-algo, trazendo a terça do mosteiro de Tibães o prócer D. João Rodrigues de Briteiros certamente emprazada dele (in "Silva, João Belmiro Pinto da, Guimarães - Nas Raízes da Identidade, Anégia Editores, ed. lit., 1999».
Segundo alguns autores, o primeiro documento emitido por Afonso Henriques, onde se intitula "Rei de Portugal", foi precisamente a carta de Couto concedida à "vila de Mende", a 7 de Julho de 1140. Couto que se situaria numa área geográfica, como se pode aferir pelas confrontações descritas no documento, entre Apúlia, parte da freguesia de Necessidades e parte da freguesia de Estela.
D. Afonso Henriques concede a Carta de Couto de Santa Maria de Estela e da Vila de Mendo, aos 7 de Julho de 1140 (era de 1178) aos frades beneditinos de Tibães: «… Eu, Afonso, Rei de Portugal, filho do conde Henrique e da raínha Teresa e neto do rei Afonso, o grande, faço carta do couto da Vila de Mendo e de Santa Maria de Estela, em honra de Deus e de Santa Maria e de São Martinho, e de todos os santos, a vós, abade D. Ordonho e a vossos monges que no convento de Tibães perseveram numa vida santa, e a vossos sucessores que aí residem em virtude da promessa que fizestes de orar a Deus dia e noite pela salvação da minha alma e de meus pais e também pelos duzentos meios que me destes… Carta de couto feita a 7 de Julho da era de 1178. Eu, Afonso Rei de Portugal, esta carta de firmíssimo couto e grafide segurança rubrico pela minha própria mão, para vós, D. Ordonho, abade de Tibães, e para vossos monges, tanto presentes como futuros…».
Gondar, pequena freguesia do Concelho de Caminha, é mencionada nas Inquirições de 1258 conforme se verifica no livro “Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais (vol. II, Norte, Arquivos Nacionais/Torre do Tombo): Foi vigairaria da apresentação “ad nutum” do convento de Tibães».
A Freguesia de Encourados, concelho de Barcelos, vem nas Inquirições de D. Afonso II de 1220 com a designação – “De Santo Jacobo de Encoirados de Cauto de Martim”, nas Terras de Penafiel. Nelas se diz que o rei não tem aqui reguengo algum e não recebe qualquer foro; que esta Igreja tem sesmarias, Tibães 5 casais e Vilar de Frades 19 casais.
A freguesia de Lama, do Concelho de Barcelos, que nas Inquirições de 1258, surge com a designação "De Sancto Salvatore de Lama" do Julgado de Prado, eclesiasticamente, estava sob o protectorado do Mosteiro Beneditino de Tibães.
A capela de S. Pedro de Varais, situada no concelho de Caminha, constitui um dos casos mais surpreendentes dos monumentos românicos da ribeira Lima. Esta capela com todos os seus bens e rendas foi Incorporada no Convento de Tibães, em 1834.
Serreleis, freguesia do Concelho de Viana do Castelo, tem por orago São Martinho. Era então da apresentação do convento de Tibães, tornando-se mais tarde independente com o título de reitoria.
Em meados do século XVIII a freguesia de Vile, do concelho de Caminha, autonomizou-se da paróquia de São Pedro de Varais. Segundo Pinheiro Leal, em 1768, o direito de apresentação pertencia ao Convento Beneditino de Tibães. 
Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo diz-se que a Igreja da freguesia de Carreço, Conelho de Viana do Castelo, pertencia um quarto ao arcebispo, outro a São Salvador da Torre (sendo ambas, portanto  da mesa arcebispal) e as restantes a São Romão de Neiva e ao mosteiro de Tibães. Nas inquirições de D. Afonso III pode ler-se que Carreço era uma terra produtiva em géneros agrícolas, como trigo, linho, cevada, gado bovino e ovino, dos quais pagavam renda (no S. Miguel e em Janeiro) aos possidentes de uma quantidade considerável de casais. De entre os detentores desses casais destacam-se os mosteiros de S. Salvador da Torre, S. Cláudio de Nogueira, Tibães, S. Romão do Neiva e S. Bento de Cabanas.
Mostramos, acima, o Mapa referente à Divisão Administrativa de 1801, onde Tibães figura como cabeça do couto, constituído por 5 freguesias Mire de Tibães, Padim da Graça, Panóias, Parada e São Paio de Merelim (São Paio da Ponte).