quarta-feira, 29 de outubro de 2008

200 ANOS SOBRE AS INVASÕES FRANCESAS EM BRAGA - CARTUXAME E MOSQUETARIA PARA A RESISTÊNCIA

Vamos comemorar no próximo ano, dois séculos sobre a segunda invasão francesa. Como a abordagem das invasões francesas, as suas causas e consequências são objecto dos Programas de Historia, aqui vos deixo alguns dados importantes e inéditos relacionados com este período da nossa história, e que ocorreram na nossa cidade.
A Batalha de Carvalho d'Este e a resistência nas montanhas de Carvalho d'Este terminou na manhã de 20 de Março de 2009, revela o heroísmo dos bracarenses que se ergueram pela defesa da sua terra e dos seus valores. Foi uma luta desigual, de um lado um exército com 35 mil homens munidos de cavaaria e artilharia, do outro 20 mil homens (tropas, milícias e populares armados, apenas, com paus). As balas foram fundidas a partir dos sinos da cidade. A resistência terminou ao fim de três dias, deixando no campo de batalha mais de 1200 mortos.
Como, nesta escola, sempre frequentaram meninos que residem no Colégio de S. Caetano, vamos, igualmente, relacionar esses dados com factos verificados nessa instituição, durante esse período histórico.
O nosso pais, em consequência da não adesão ao bloqueio continental, foi invadido, três vezes, pelos franceses. Das invasões, apenas a segunda, comandada pelo Marechal Soult, passou pela cidade de Braga.
Nicolau Soult comandava um exército de 24 mil homens, com quatro divisões de infantaria, sob as ordens dos Generais Merle, Mermet, Delaborb e HeudeIet, mais uma divisão de cavalaria às ordens do General Franceschi e duas brigadas de dragões comandadas pelos Generais Lahoussaye e Lorges.
Chegaram a Braga em 20 de Março de 1809, encontrando-a praticamente deserta, refere o livro de receitas do CoIégio de S. Caetano, dia em que o Tesoureiro do Depósito Geral procedia à liquidação do aluguer de uma sala que possuía no mesmo depósito.
A sua passagem ficou bem registada em muitas referências encontradas nos manuscritos existentes no Colégio de S. Caetano. Além disso, dilaceraram o livro de matriculas com cuja sorte se perderam muitas memorias importantes para o seu estudo.
A chacina, a rapina e a destruição produziram várias sequelas. Por exemplo, o colégio perdoou ao inquilino da casa número 5, na Rua de S.to António, José da Purificação, parte da renda vencida no S. Miguel de 1809, em atenção aos graves prejuízos que sofreu com a invasão e as doenças que teve, ficando reduzido à extrema pobreza. Também se baixou, em 1810, o aluguer da casa número 6, na Rua de S.to António, propriedade do colégio, de 60000 para 40000 réis/ano, por não haver inquilinos para as casas e o inquilino Manuel José Vieira do Paraíso, negociante, ter de abater o negocio em virtude da guerra.
Aconteceu, igualmente, que alguns pais tiveram que se separar dos filhos, deixando-os ao cuidado do colégio, para fugirem aos franceses, caso de Manuel Alves, de S. Pedro de Atei.
No entanto, a maior parte dos alunos abandonou o colégio e fugiram para as suas terras, ficando os custos por conta da instituição. Outros acompanharam o Sr. Arcebispo na fuga, caso de José Joaquim Monteiro Cabral, afilhado de D. José da Costa Torres, que fugiu no dia 16 de Março de 1809.
Encontrámos, ainda, anotações feitas pelos franceses, no inventário de 1799, em nosso entender, com nítido propósito de afirmação. Numa dessas páginas figurava uma cópia de uma ordem de serviço (ordere du joure de l’arm, du 9 Marse 1809, aux corpes darm ... , possivelmente retirada do Livre d'Ordre de La Primier Compagnie du 26. me Regimentt).
A invasão dos franceses prejudicou grandemente o colégio, tendo destruído móveis e alfaias, como também arruinaram o edifício, sendo preciso recorrer às escassas rendas para atender aos reparos do edifício e ao provimento dos móveis mais necessários.
O papel do colégio na defesa da pátria e desta província foi, igualmente, digno de realce, por outros motivos. Directores, mestres e alunos empenharam-se na manufactura de cartuxame e mosquetaria de fuzilaria para a tropa e forca armada desta província. Para tal montaram uma fábrica e um laboratório nas Casas do Campo de S. Sebastião, que eram propriedade da instituição.