terça-feira, 18 de outubro de 2011

D. Gaspar de Bragança e o Bom Jesus do Monte

Artigo publico no jornal Correio do Minho de 18 de Outubro de 2011.

Ao eleger o Bom Jesus como objecto de escrita, surgem no meu pensamento os obreiros de tão grandiosa obra, os seus artistas, os seus benfeitores e os seus memorialistas, bem como os Arcebispos de Braga que demonstraram particular simpatia e protecção, a título de exemplo, D. Gonçalo Pereira, D. Jorge da Costa II, D. Rodrigo de Moura Teles e D. Gaspar de Bragança. CM, 18-10-2011
O Sereníssimo D. Gaspar, filho legitimado de D. João V, irmão de El-Rei D. José I, tio de D. Maria II e um dos Meninos de Palhavã, nutria um carinho muito especial pelo Bom Jesus do Monte. Pretendemos, aqui, indicar alguns factos que comprovam esses sentimentos pela estância.
Após a sua entrada pública na Arquidiocese de Braga, em 28 de Outubro de 1759, decidiu que a sua primeira saída oficial seria ao Bom Jesus em 30 de Novembro do mesmo ano. Efectuou esta visita numa luzidia berlinda puxada a seis urcos, acompanhado da sua numerosa família e de 30 ou mais soldados granadeiros da Cavalaria de Chaves. Deixou ficar de esmola, no Bom Jesus, oito moedas de oiro. Era, então, tesoureiro Manuel Rebelo da Costa, grande benfeitor do Terreiro dos Evangelistas.
No dia do seu aniversário, a 7 de Outubro, mandava iluminar, por sua conta, o santuário, tendo lugar, igualmente, Missa e Te Deum.
Concedeu, em 1765, uma provisão autorizando a colocação do Santíssimo Sacramento «per modum viatici», para maior veneração.
Ofereceu uma das três imagens de Jesus Crucificado, existentes no templo do Bom Jesus, mandada fazer em Nápoles, a expensas suas. A imagem chegou a Lisboa, num navio Genovez, e depois transportada para o Porto onde chegou em 3 de Novembro de 1775. João de Sousa e Melo, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo transportou-a para o Paço Arquiepiscopal de Braga em 24 de Novembro de 1776. No dia 8 de Setembro de 1779 foi conduzida para a Catedral e exposta num andor na Capela Mor. Simultaneamente decorria um tríduo muito concorrido. No dia 12, do mesmo mês e ano, realizou-se uma procissão onde a imagem foi conduzida aos ombros de 6 sacerdotes, passando por várias igrejas da cidade, rumo ao templo de D. Rodrigo, entretanto demolido e transferida para o templo actual. Para comemorar a chegada da imagem à estância, D. Gaspar, na manhã de 14 de Setembro de 1779, preside a um Pontifical e Te Deum, correndo tudo por sua conta, incluindo o acompanhamento musical. Um arraial nocturno fechou, com chave de ouro, esta solenidade, onde não faltaram iluminárias, fogueiras, tiros de morteiros, canhões de artilharia e fogo de artifício.
O papel de D. Gaspar foi fundamental para a concessão dos Breves e mais indulgências de Clemente XIV e Pio VI, respectivamente, em 1773 e 1778. Estas graças espirituais foram elementos de prosperidade na medida em que fomentaram a concorrência de devotos a este lugar sagrado, só comparáveis às de S. Tiago de Compostela e dos Lugares Santos.
No conjunto das 19 capelas, a maioria consagrada à Crucifixão e as restantes à Ressurreição, sobressai a Capela Maior, ou seja o Templo, que deve a sua edificação ao arcebispo-príncipe. Além de promotor da iniciativa, escolheu o local, o autor dos riscos, suspendeu os estatutos, silenciou os opositores da iniciativa e escolheu os mesários que lhe inspiravam mais confiança para prosseguirem com o projecto.
A Confraria manifestou o reconhecimento ao insigne prelado mandando pintar uma tela com o seu retrato para figurar na galeria dos benfeitores e organizou uma procissão com o andor do Bom Jesus, pela cidade, pedindo pelo seu restabelecimento, em virtude do agravamento da sua doença, em 16 de Janeiro de 1789.