domingo, 18 de maio de 2008

«O Mocho» de Tibães e «António Sérgio» (6)

Outro livro absorvido, sublinhado e comentado pelo Sr. António Gonçalves «O Mocho» foi Confissões de um Cooperativista de António Sérgio, editorial inquérito, datado de 1948.
Quando António Sérgio, na página 11, do livro citado, refere a supressão da guerra para a conquista da côdea e o advento de uma democracia que não há-de ser fictícia, António Gonçalves concorda com ambas as afirmações, em tempo de ditadura, pois segundo ele não deveria ser necessária a guerra para a conquista do pão de cada dia e reafirma o seu sim a uma democracia não fictícia, pois as actuais são fictícias. Portugal, fiel à sua história, não pode desinteressar-se de nada do que se passa no universo.
Quando na página 17, António Sérgio afirma « é dever nosso tratarmos a natureza humana … como um fim em si mesmo», António Gonçalves não podia estar mais de acordo, pois o Homem deve ser considerado como um fim em si mesmo e não como um meio, se não queremos cair na mais hedionda das tiranias, a tirania totalitária, que despe dos seus direitos humanos o cidadão, para fazer dele, apenas, uma máquina ao serviço do Estado Omnipotente.
Elogia António Sérgio por sublinhar o lado concreto dos problemas e acredita que o cooperativismo integral de produção e de consumo constituiria a resposta natural aos males do capitalismo e do comunismo. O cooperativismo deveria ser um complemento da economia actual e nele o Estado deveria exercer um papel de colaboração e de coordenação, deveria ser o cérebro federador dos cooperatistas (António Gonçalves prefere o termo cooperatista a cooperativista), excluir o Estado da organização cooperativa seria uma aventura destinada ao malogro.
Não concorda com António Sérgio em algumas das suas afirmações: página 31, quando diz «tudo é provisório na evolução do mundo … o socialismo de estado é uma solução passageira em relação ao socialismo cooperativista» e chega a corrigir o seu português, quando substitui «mais bem» por melhor, na página 27.
António Gonçalves tem uma reacção veemente e hilariante em relação a observações que António Sérgio produz na página 13 «o rumo geral que têm tomado as coisas no maior país socialista do mundo pode servir de apoio ao que estou dizendo… na União das Repúblicas Socialistas, a pesca é inteiramente cooperativa, e não do Estado; e a Agricultura, hoje em dia, é quase inteiramente cooperativa, realizada por sociedades que se nomeiam colcozes…». Responde «o Mocho»: merda e mais merda, António Sérgio está muito pouco informado do que se passa na Rússia, fala-nos dum suposto cooperativismo soviético com uma ingenuidade que faz rir. Então não pode haver cooperativismo sem passar por Moscovo?