domingo, 23 de outubro de 2011

Confraria do Bom Jesus admite repetir congresso luso-brasileiro

Artigo do Correio do Minho, de 23-10-2011

autor José Paulo Silva

Os dirigentes da Confraria do Bom Jesus do Monte ponderam a repetição do Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, atendendo ao “sucesso” do encontro que juntou, nos últimos três dias, meia centena de especialistas dos dois países.
O número de 400 inscritos como assistentes, 105 dos quais professores dos ensinos básico e secundário levam também a Mesa da Confraria a decidir, em breve, se o Congresso do Barroco terá continuidade.
O historiador Aurélio de Oliveira, presidente da comissão científica do congresso, disse ao Correio do Minho que o mesmo “excedeu as expectativas” no que respeita ao número de comunicações apresentadas e de inscritos.
“Acho que acrescentou novidades ao estudo do Barroco em Portugal e no Brasil”, adiantou, remetendo uma análise mais cuidada sobre a qualidade científica do congresso para as actas que serão publicadas em Janeiro do próximo ano.
José Carlos Gonçalves Peixoto, mesário da Confraria do Bom Jesus do Monte, considerou que “o congresso permitiu uma nova sensibilização para o Barroco nos dois países”, sendo que há ainda muito por investigar nesta área.
“O sucesso alcançado quase que exige uma tomada de posição da Confraria em relação à continuidade do Congresso”, adiantou-nos José Carlos Gonçalves Peixoto.
Organizador e também autor de uma comunicação no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco, José Carlos Peixoto não tem dúvidas em dizer que “as actas com todas as intervenções vão certificar a qualidade do Congresso”, que registou “um interesse enorme junto dos professores”.
Criar massa crítica para defesa do património
A participação significativa de docentes dos ensino básico e secundário no congresso que ser-viu com acção de formação foi destacada por Eduardo Pires de Oliveira, autor de uma comunicação sobre “A mobilidade dos entalhadores em Braga e no Minho no período barroco (1650-1750).
“Não sendo investigadores, os professores são aqueles que vão fazer a manutenção das ideias cá defendidas, transmiti-las aos alunos”, realçou este historiador de arte que, em Fevereiro do próximo ano defende tese de doutoramento sobre o mestre André Soares e o estilo rococó no Minho.
Eduardo Pires de Oliveira defende que “não podemos pensar num edifício apenas pela sua história, mas também pela sua conservação”, pelo que é urgente “criar massa crítica” para a defesa do património histórico.
“Foi o que se fez na ASPA (Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural) durante muitos anos suporte de amor ao património”.
“Bom Jesus do Monte é uma obra que nunca acaba”
“O Bom Jes us do Monte é uma construção contínua, é algo orgânico, uma realidade viva a diversos níveis”, destacou o historiador Eduardo Pires de Oliveira, numa visita guiada ao santuário com muitos dos participantes no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco que ontem encerrou.
Aquele especialista destacou no conjunto do santuário que se apresenta como candidato a património mundial “a valia religiosa e da sacralidade barroca, a valia do monumento e a valia da natureza”.
Destacou também algo de que pouco se fala quando se fala do Bom Jesus do Monte: “Aqui, pela primeira vez em Portugal, uma estância religiosa transforma-se em estância turística”.
O sítio de recreio foi incrementado por Manuel Joaquim Gomes, “a personalidade mais importante do ponto de vista económico na segunda metade do século XIX em Braga”, que construiu os hotéis e mandou instalar o elevador a água.
“Manuel Joaquim Gomes traz cá a mais importante imprensa da época e o rei por duas vezes. A partir do momento em que vem o rei, toda a gente vem atrás”, salientou Eduardo Pires de Oliveira em frente ao Templo do santuário, ainda hoje rodeado por três unidades hoteleiras.
Aos congressistas portugueses e brasileiros, aquele especialista em História da Arte bracarense alertou para a existência no Bom Jesus de “uma das mais belas escadarias barrocas de todo o mundo”, a dos sentidos, encomendada pelos jesuítas.
Apoteose dos sentidos
Na visita guiada de ontem, Eduardo Pires de Oliveira, explicou “a fotografia mais difundi-da do Bom Jesus”, ou seja, a perspectiva que o visitante ou peregrino tem da escadaria sensorial barroca, do escadório neoclássico e da igreja ao fundo. “É a apoteose do Bom Jesus”, exclamou a propósito deste “constraste entre um desenho do barroco e rococó e do mundo dos sentidos e o mundo frio do neoclassicismo, das linhas rectas, de uma construção mental mais singela”. Os participantes no Congresso Luso-Brasileiro do Barroco visitaram ontem também a capela de Santa Ma-ria Madalena e o Mosteiro de S. Martinho de Tibães, entre outros monumentos do concelho de Braga. Do sacro-monte do Bom Jesus levaram consigo “a beleza e força dos homens e mulheres que desceram e subiram este monte” e a certeza de Eduardo Pires de Oliveira de que “o Bom Jesus é uma construção que nunca acaba”.
“Desde finais do século XVII até finais do século XIX tudo se passa cá”, referiu o historiador num momento em que a Confraria do Bom Jesus do Monte, terminadas as obras de requalificação dos hotéis e espaços exteriores do santuário, reclama apoio de mecenas para o restauro e conservação do património artístico das capelas e do templo principal.