segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Breve História do Mosteiro de S. Martinho de Tibães


Obra Prima do Museu do Barroco em Braga
Localiza-se a seis quilómetros a noroeste da cidade de Braga, na margem esquerda do Rio Cavado.
É um símbolo ímpar do nosso património cultural e é incontornável quando nos reportarmos à História da Igreja em Portugal e à História da Ordem beneditina no País e na Europa.
A Igreja do Mosteiro de Tibães é considerada um dos templos mais grandiosos de Portugal e a obra prima do museu da arte barroca em Braga.
Gabriel de Sousa («O Mosteiro de Tibães cabeça da Congregação de S. Bento em Portugal», Ora et labora, XXVII, 1981, p. 87) admite que tenha existido uma «fundação, anterior de séculos, dum ascetério naqueles sítios, com a observância do monaquismo Hispânico, digamos, até, suévico».
O Monarca Suevo Teodomiro possuía junto das águas do Cávado, entre os lugares de Sobrado e Mire, um luxuoso Paço, onde costumava descansar, ausentando-se dos bulícios da corte de Braga.
Talvez, por isso, tenha agradado, ao Rei Teodomiro, a ideia do seu virtuoso capelão-mor, S. Martinho, de construir nas proximidades da Serra de S. Gens, um mosteiro, aí pelos anos de 562.
Sobre o exposto, não ficam dúvidas após da leitura de Frei Leão de S. Tomás, na sua Benedita Lusitana: «A uma légua da cidade de Braga, para o lado Norte, estiveram antigamente uns Paços e casas de prazer do Rei Teodomiro entre os grandes de Sobrado e Mire vizinhos ao Rio Cávado (...). Perto destes Paços do rei, em lugar mais alto e eminente à vista do mesmo rio, ficava um sítio retirado e solitário que a S. Martinho Dumiense pareceu muito acomodado, para nele se fundar um Mosteiro de Monges. (...) O rei como era tão pio mandou logo se edificasse e se dedicasse a S. Martinho Turunense, de quem era devotíssimo devoto...».
O Sucessor de Teodomiro, o Rei Suevo Ariamiro, conhecido por Miro abreviadamente, ( Pinho Leal diz ser Adriano e Carvalho da Costa assevera ter sido Miro) enriqueceu-o com propriedades de grandíssimo valor: pois era soberano religioso e piedoso, a ponto de convocar para Braga, como sua corte que era, um concílio especial para reforma de abusos.
Alguns argumentos concorrem para confirmar a antiguidade deste mosteiro:
- a existência de uma lápide onde se encontra gravada a data de 600 da era de César (que corresponde à data de 562 D.C.);
- uma carta de Frei Drumário a Fr. Frontano ambos monges beneditinos, exarada por extenso num livro do Mosteiro de Pedroso, donde a copiara Fr. João do Apocalipse, menciona-se expressamente o Mosteiro de Tibães, entre os conventos fundados nos tempos de S. Martinho de Dume: « De fructu ventris sui (S. Martinho de Dume) possuerunt Deus et Sancttissimus Patter Noster Benedicttus, supra sedes suas, Monasterium scilicet Dumiense, Antoninum, Victorium, Tibanense, Villare, Vargense, Magnetense, Turris, Claudinum, Cabanense, Azerense, de quibus (sicut de l’ettri retibus) fas est dicere» - diz o aludido texto desta carta, escrita a 7 do mês de Outubro do ano de 591, ainda que em Fr. João do Apocalipse se lhe assinala a data de 571;
- o monge beneditino D. Bernardo, Bispo de Coimbra, na sua Vida de S. Geraldo, afirma que, para sepultura deste primeiro arcebispo bracarense, fora trazido à Sé Primaz um sepulcro de mármore, do mosteiro de Tibães, conservado ali em grande veneração desde tempos muito antigos, dando-se a tradição da vizinhança, como mandado construir para si pelo rei Suevo Miro, não obstante não chegar ao depois a sepultar-se nele: «Quod (sepulchro) à longis retro temporibus in tibianensi coenobio in magna reverentia servabatur».
O domínio árabe na península e todo o processo da reconquista causou estragos no mosterio que, por essa razão, em 1060, D. Velasquides procedeu à sua reconstrução e, em seguida, D. Paio Guterres da Silva, em 1080, continua essa reedificação (Pereira-Caldas, O Constituinte, 1640), ainda hoje a tradição atribui o Paço de D. Paio Guterres à «Quinta de Silva», atrás do Monte de S. Gens, a uma distância de 3 Kms do mosteiro». O Conde D. Pedro chega a afirmar que a «fundação do mosteiro beneditino de TIbães se deve a D. Paio Guterres da Silva».
No Livro dos Testamentos da Sé de Braga, uma devota e nobre mulher declara doar, em 1077, a esta igreja matriz uma propriedade que tinha, designando-a como situada junto do rio Cávado, no local onde então se havia fundado o mosteiro de Tibães «Et est in loco prope alveum Cávatum, ubi modo fundatum est Monasterium Tibianes».
Aos três filhos de D. Paio Guterres concedeu o Conde D. Henrique amplo couto. No tempo de D. Dinis, os descendentes de D. Paio Guterres (cerca de 200) absorviam o melhor das rendas do mosteiro do qual eram padroeiros. Depois de 1480, o mosteiro ficou liberto desses encargos e passou a ser regido por comendatários.
Nos finais do século XI foi fundado o mosteiro românico, que recebeu em 1110 Carta de Couto, doada por D. Henrique e D.ª Teresa.
O século XVI, por causa do protestantismo e do consequente Concílio de Trento, o Mosteiro de Tibães experimentou uma tentativa de reforma. Desde 1530, se fazia sentir a acção reformadora e disciplinadora de dois monges beneditinos da Congregação de Castela, Fr. António de Sá e Fr. João Chanones. Fr. João de Sá era português, tinha professado em Montserrat e fora abade de S. Vicente de Salamanca. Em 1530 recebeu missão para reformar Tibães, Arnóia e Carvoeiro. Fr. João Chanones acompanhava-o como mestre dos noviços, preparando candidatos para a vida monástica. Em Tibães não houve resistência por parte dos monges.
Em Tibães, os monges reformaram-se e descobriram o apostolado e a cultura. Tibães seria o elo de ligação de todos os mosteiros beneditinos. Era a residência do Abade geral. Era ali que, de três em três anos, se reuniam os representantes dos 22 mosteiros da congregação para fazerem a provisão trienal dos cargos directivos e decidirem sobre os problemas da mesma.
Ultrapassada a crise religiosa dos sécs. XV e XVI, a escolha, em 1567, para “Casa-Mãe” da Congregação Beneditina de Portugal e do Brasil, por bula do Papa Pio V, datada de 22 de Julho de 1569, em cumprimento da qual foi a ordem de S. Bento reformada, torna o velho edificado românico gótico exíguo e inadequado às novas funções, evidenciando a necessidade de redimensionar o espaço de forma a responder às novas exigências temporais e espirituais.
A partir de 1569, com a tomada de posse do Mosteiro de Tibães por Fr. Pedro de Chaves, este convento tornava-se a Casa-Mãe de todos os mosteiros beneditinos.
Assim, na primeira metade do século XVII, deu-se início à grande campanha de reedificação e ampliação do mosteiro, da qual resultou o conjunto hoje existente. O início das obras filia-se ainda na corrente maneirista, mas o barroco e o rococó haveriam de triunfar nas alterações desenvolvidas nos finais do século XVII e ao longo de todo o século XVIII. Entretanto, vão-se decorando os espaços, originando um longo período de criação e riqueza que só terminará no princípio do Séc.XIX.
Por Tibães passaram os melhores artistas, com as mais variadas formações: mestres pedreiros, carpinteiros, arquitectos, imaginários, enxambradores, escultores, entalhadores, pintores e douradores, que realizaram, no Mosteiro, um trabalho que atingiu níveis superiores de requinte e perfeição técnica.
Todo o seu conjunto arquitectónico está classificado como Monumento Nacional pelo Decreto de 16-06-1910 e imóvel de interesse público pelo Decreto n.º 33587 de 27-03-1944. Este conjunto tem uma Zona Especial de Protecção fixada no Diário da República, 1.ª série, n.º 187 de 13-08-1994.