quinta-feira, 18 de outubro de 2007

SEIS RAZÕES PARA COMEMORAR

Assinalamos no dia 8 de Novembro de 2007 o Vigésimo Quinto Aniversário da Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Frei Caetano Brandão, instituição de prestígio na Cidade da Braga e que marcou, indiscutivelmente, o rumo da educação de tantos jovens que passaram pelos bancos desta escola. Neste data importante, e, em representação da Comissão Executiva destas celebrações, permitam-me que retire seis ideias-forte destas Bodas de Prata.
1- Comemorar é também educar, simultaneamente o espírito e a missão deste projecto. De forma a comemorar estes 25 anos, esta escola elaborou um programa de eventos, com diversas iniciativas que têm como objectivos: motivar, dinamizar, envolver e mobilizar a comunidade educativa para recordar festivamente o caminho percorrido mas, sobretudo, para enfrentar empenhadamente os novos desafios. Será o encerrar de um ciclo e o consequente início de outro sem sobressaltos, com marcas que ficarão registadas no presente e consultáveis no futuro. As sementes foram plantadas, por isso pretendemos que este próximo quarto de século seja marcado pelo desenvolvimento das ideias e dos projectos tendentes a fortalecer uma relação dinâmica entre todos os elementos da comunidade educativa, profícua e geradora de mais-valias, com reflexos visíveis na educação de cidadãos livres e participativos.

2- Comemorar é também valorizar o passado, o esforço desenvolvido por todos, alguns de forma discreta mas eficaz. O crescimento saudável e pleno das nossas crianças e jovens continua e continuará a ser o foco de todas as acções já desenvolvidas e a desenvolver, com base na convicção de que as crianças e os jovens são os elementos centrais das escolas. As tarefas inerentes à educação/ensino não terminam nunca e são, cada vez mais, complexas. Nós, portugueses, celebramos pouco. Somos ensinados para não celebrar nada. A existência de uma cultura de celebração requer abertura à distinção e à solenidade. No ensino ou fora, o português é indiferente aos símbolos nacionais, memórias, rituais, imagens, valores, monumentos. Não comemoramos. Em quantas escolas se celebra com dignidade o início do ano lectivo, a atribuição de diplomas, os feitos dos melhores estudantes? Consentimos, até, que se generalizasse uma atitude de suspeição por tudo o que possa ser visto como conservador e passadista. Mas os símbolos políticos nada têm de conservador. Uma política de símbolos é vital para as sociedades. A sua ausência só traz vazio e vulgaridade.
3- Comemorar é também pautar o processo pedagógico por valores. Ao mergulhar na história desta escola, dei-me conta de pertencer a uma equipa altamente qualificada, motivada e empenhada. Além disso, o ambiente que se respira é de boa disposição e franca amizade. Uma grande família preocupada com a educação dos seus filhos /alunos. Uma família que se preocupa com as dimensões éticas, morais e cívicas que a educação exige. Como educar alguém sem ser ajudado a conhecer-se, a respeitar-se, a conhecer o outro e a respeitá-lo? Como se pode educar para a alteridade sem pautarmos o processo pedagógico por valores? É importante que nos demos conta de que os nossos alunos precisam de uma orientação sobre os valores pelos quais deveriam reger a sua vida. Ainda que se mostrem renitentes em admiti-lo, os adolescentes necessitam e reclamam uma orientação clara. Na escola confrontamo-nos com os outros, os que nos ensinam, aqueles a quem reconhecemos autoridade, os que têm opiniões ou posições opostas ou semelhantes. Reconhecemos, como no acto socrático, a nossa ignorância, ou a presunção do que sabemos.
4- Comemorar é também falar e agir moralmente. Vivemos uma época em que as coisas mais importantes não se aprendem verdadeiramente nos livros, nem nas aulas, nem em conferências, nem em sermões. Passam de pessoa para pessoa através de gestos, de comportamentos concretos. Através de exemplos de vida. A única forma de um professor ensinar a um aluno a ser amigo e solidário consiste em ele mesmo ser amigo e solidário, custe o que custar, em todas as circunstâncias, desprezando todas essas maneiras fáceis - e falsas - de subir na vida ou de resolver problemas delicados.
5- Comemorar é também educar o educador. Milhares de jovens fizeram parte do seu percurso escolar neste estabelecimento de ensino. Alguns fizeram essa viagem a cantar, outros com muito sacrifício, uns que viam sorrir o sol todos os dias, outros que se faziam por esquecer da chuva, do frio e das bolhas nos pés. Agora, muitos destes jovens são profissionais dedicados e competentes, outros, talvez, se deixem arrastar dolorosamente pelo destino, outros, ainda, ocupam os mais diversos lugares na sociedade não só como profissionais competentes, mas também como cidadãos empenhados e quiçá, outros, trabalham ignorando o ritmo e a melodia do tempo. Muitos já esqueceram a lição daquele dia e daquela disciplina, nem se lembrem de onde nem de quando nem de quem a aprenderam, mas interiorizaram o bem com naturalidade porque vivem aquilo que aprenderam, nem acreditam que estão a tornar o mundo melhor e mais belo. Afinal de contas, o estudante é como uma planta tenra que requer orientação, ajuda; mas se o ajudante é ele próprio incapaz, estreito, intolerante e tudo o mais, naturalmente o seu produto será o que ele é. Assim, parece-me que a coisa mais importante é tanto a técnica do ensinar, como a inteligência do próprio educador.
6- Comemorar é também sermos capazes de mudar. Mas sucede que a responsabilidade não nasce senão depois de se ter cultivado cuidadosamente, demoradamente, a semente da responsabilidade. Passámos anos a fomentar no menino um estilo de vida irresponsável, e agora, de repente, exigimos-lhe que seja responsável? Passámos anos a apaparicá-lo, e agora queremos que seja maduro? Para ele ser maduro, teria sido necessário que tivesse vivido, que tivesse passado experiências diversas, que tivesse enfrentado obstáculos, que tivesse feito coisas sozinho, que tivesse errado e emendado depois os erros, que se tivesse aperfeiçoado à custa de esforço pessoal. E nós temos feito tudo para lhe evitar esses obstáculos, essas experiências e esse esforço. É claro que, quando chega a altura em que precisa mesmo de estudar, porque as matérias se tornaram mais difíceis, não é capaz de o fazer. Pois é natural que - não tendo sido habituado ao esforço de fazer a cama, de ir a pé para a escola, de pôr a mesa... - não seja capaz do esforço de estudar, que é maior do que os outros. É escusado levar o menino ao psicólogo. É escusado pensarmos que o problema está em que não sabe estudar, em que desconhece as técnicas de estudo. Do meu ponto de vista, a resolução desta “epidemia melancólica”, desta « ladainha de lamúrias» não se limita apenas a soluções farmacológicas. A alegria tem que ser procurada de outras formas, mesmo sabendo que é grande a tentação de não fazer mudanças. É mais fácil continuar com o queixume de sempre e atribuir ao infortúnio a culpa da nossa infelicidade.
Para concluir, permitam a ousadia deste convite. Esqueçamo-nos do tempo para que possamos tocar e ser tocados, para termos a força necessária para nos deixarmos comover, impressionar, abalar, agitar, enternecer, sensibilizar e desta forma colocar em movimento, as palavras e os pensamentos de nosso patrono D. Frei Caetano Brandão, como guia de actuação para os próximos 25 anos: «A educação é certamente uma das primeiras causas que contribuem para o bem da sociedade, e esta será mais ou menos feliz, na medida dos cuidados que se tomam em cultivar os tenros corações dos estudantes (… ) haverá nos mesmos professores grande cuidado de tratar os estudantes, nem com violência nem com severidade, de modo que deles mais consigam o amor do que o temor (…) terão os professores cuidado de medirem as lições que passarem aos alunos, de modo a que sejam proporcionadas às suas forças e ao tempo destinado ao estudo, advertindo que o ponto não está em carregá-los com extensas lições, mas com lições que sejam verdadeiramente interiorizadas».
José Carlos Gonçalves Peixoto
Coordenador do departamento de Ciências Sociais e Humanas