segunda-feira, 3 de março de 2008

O Bom Jesus do Monte e Raul Lino

O Arquitecto Raul Lino foi um polifacetado artista, pensador e arquitecto português, nascido em 21 de Novembro de 1879. Ao longo da sua laboriosa e extensa vida, pois veio a falecer em Julho de 1974, foi sempre uma testemunha avisada e crítica das estruturais transformações que modificaram e caracterizaram o século XX.
Com a eventual destruição do coreto da esplanada do templo, construído a expensas do irmão benemérito Bernardo Sequeira, que se impunha gritantemente por afrontar a grandiosidade do local, impôs-se a construção de um novo coreto, nos finais da década de vinte, tendo a mesa aproveitado os desenhos e a memória descritiva que o arquitecto Raul Lino tinha apresentado há mais de uma dúzia de anos (em 21 de Novembro de 1913), juntamente com outros desenhos para a Casa das Estampas. Mas antes de iniciar as obras do coreto, a mesa voltou a pedir nova opinião do arquitecto Raul Lino que foi do seguinte teor: «O coreto tal como está, afronta o local e o templo. A sua situação é, todavia, aproveitável estando, no entanto, em igualdade de circunstâncias sem uma outra, mais em cima, próxima da gruta. Opto, todavia pela actual situação para poder fazer-se o aproveitamento da base granítica, o que, sob o ponto de vista económico, é muito importante, sendo, também, aconselhável, a localização actual por ser a que está mais em contacto com o público a quem o coreto tem de servir. Uma só dificuldade apareceria: é a de que o meu estudo antigo é sobre o redondo; mas eu modificá-lo-ei sobre o oitavado da base actual, não devendo ficar menos interessante».
A mesa, couraçada com esta opinião, vendeu, de imediato, a parte metálica do coreto para S. Bento da Porta Aberta por 6.000#00, substituindo-a por um encantador conjunto com 8 belas colunatas de granito, segundo concepção do arquitecto Raul Lino. Esta transformação, processou-se, ainda, com os donativos do Sr. Bernardo Sequeira, facto que justificou uma placa de homenagem.
Após obras de reconstrução dirigidas pelo arquitecto Raul Lino, a biblioteca passa a ocupar o espaço da Casa das Estampas, em 1926.
É sob o mandato de Lopes Gonçalves, na CMB, que se substitui o anacrónico comboio para o Bom Jesus, puxado por uma pequena máquina – a chocolateira – pelos eléctricos.
Também se deve a Lopes Gonçalves o convite ao Arquitecto Raul Lino para apresentar um estudo para o melhoramento da estância: Casa das Estampas, Novo Coreto, Casino. Além destas intervenções conhecemos outras da autoria de Raul Lino no Bom Jesus do Monte: Chalet dos Benfeitores, Casa dos Capelães, Hotel do Parque, Hotel Sul-Americano e Quiosque.
Infelizmente, no Arquivo da Confraria não encontramos os projectos do famoso arquitecto português. Mas, felizmente, não estão totalmente perdidos, pois a Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian possui o espólio do Arquitecto Raul Lino (1879-1974) doado pela família à Fundação Gulbenkian na década de 80, composto de 19 mil desenhos relativos a 667 projectos de Raul Lino que inclui memórias descritivas, fotografias, correspondência e recortes de imprensa.
Neste espólio encontramos os projectos de Raul Lino para a estância do Bom Jesus do Monte, que, logicamente, deveriam estar na posse do Arquivo da Confraria.
Vejamos o espólio de Raul Lino, relativo à estância do Bom Jesus do Monte e que faz parte do catálogo da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian:
- Alçados, plantas, pormenores: transformação da casa denominada "chalet dos benfeitores", 1929. 1 desenho original; 1:10, 1:100; 49x87 cm;
- alçados, corte, plantas, pormenores: transformação da Casa dos Capelães, 1929-1930. 4 desenhos originais; 1:5 a 1:100; 28 x 20,5 cm a 49 x 85,5 cm;
- Alçados, plantas, pormenores: Hotel do Parque, Hotel Sul Americano, [s.d.]. 4 desenhos originais; 1:1 a 1:100; 42,5 x 62 cm;
- Alçados, corte, plantas, pormenores: quiosques, [s.d.]. 3 desenhos originais; 1:1 a 1:50; 36 x 28,5 cm, 57 x 58 cm;

- Alçados, plantas, pormenores: estação do elevador, [s.d.]. 2 desenhos originais; 1:1 a 1:50; 30,5 x 71,5 cm;
- Memória descritiva: alterações, Hotel do Parque: [s.d.]. 2 folhas;
- Correspondência datada de 1932 e 1936. 2 documentos;
- Plantas: casino, [s.d.]. 5 desenhos (2 originais, 3 cópias); 1:100; 35 x 63 cm, 34 x 78 cm;
- Alçados, cortes, plantas: casino, 1925. 7 desenhos originais; 1:100; 26 x 32,5 cm a 29 x 81 cm;
- Pormenores: casino, 1929-1932. 10 desenhos originais; 1:1 a 1:100; 46 x 30,5 cm a 55,5 x 70 cm;
- Memória descritiva: obra do casino, projecto de decoração, nota prévia justificativa e descrição: 1930. 10 folhas;
- Memória descritiva: obra do casino, projecto de decoração, nota prévia justificativa e descrição: 1930. 9 folhas;